Péricles: "Pessoas pedem posicionamento, mas não se posicionam nas urnas"
Convidado do Estúdio UOL da próxima quarta (veja mais informações abaixo), Periclés —ou Pericão— é um sucesso retumbante na música e nas redes sociais. Há anos seus memes pipocam e se multiplicam pela internet, de versões apaixonadas a dançarinas, de puramente escrachadas a explicitamente sofrentes, e ele sabe usar a zoeira a seu favor em suas páginas. Mas o ex-Exaltasamba está longe de se resumir a arte da galhofa.
Profundo conhecedor do samba e suas vertentes, o cantor e compositor de Santo André (SP) fala sério, por exemplo, ao distinguir, a pedido do UOL, pagode, samba de roda e partido alto, coisa que nem o especialista Zeca Pagodinho conseguiu em sua famosa conversa com o apresentador Jô Soares. "Mas no final são rótulos. E no final tudo é samba", contemporiza Péricles, bem à vontade em entrevista.
Outra pauta mais decorosa comentada por ele, que voltou à tona esta semana: artista precisa se posicionar politicamente? Por terem se mantido neutras em relação ao ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, demitido após plagiar um discurso nazista, as sertanejas Maiara e Maraísa foram desenhadas em uma charge vestindo suástica. A cobrança é justa? "Somos colocados de maneira que temos obrigação de nos posicionar. Creio que existe um problema aí", opina Péricles.
UOL - Direto e reto: artista precisa se posicionar?
Péricles - Acho que as pessoas esperam muito de artistas. Mas as próprias pessoas que cobram esse posicionamento não se posicionam. O artista está sempre na berlinda. Sempre colocado de uma maneira que tem obrigação de se posicionar. Creio que existe um problema aí. Porque o restante da população também tem que se posicionar, através do voto. Mostrando a que veio e mostrando querer as mudanças que o Brasil exige.
O quanto a polarização atrapalha a vida de um músico famoso, por exemplo?
É muito complicado falar de política hoje em um país tão polarizado. Hoje ninguém aceita posicionamento de ninguém. Acredito que elas não estejam erradas. É um posicionamento. E todos nós temos que respeitar.
Pagode, Samba de roda, partido alto. Qual é a diferença que nem o Zeca que é o Zeca soube explicar?
Resumindo, o pagode é uma roda de samba. A roda em que existem instrumentos para se tocar samba. O nome pagode vem daí. É uma gíria, digamos assim, para essas reuniões em que as pessoas tocam samba.
O samba de roda também é isso, o que causa confusão. Por exemplo, para o público baiano, o samba de roda é o chamado samba de viola. O samba de terreiro. Onde todos se reúnem numa roda para fazer e cultuar o samba.
Já o partido alto é uma modalidade em que os músicos reproduzem um refrão e, depois dele, se faz versos de improviso. Essa é a uma das principais características dele. Além de cantar coisas relativas a realidade de muita gente. Basicamente, essas são as diferenças. Mas no final são rótulo. E no final tudo é samba.
Você já disse que o samba vive um momento mágico, mesmo perdendo espaço na última década para sertanejo e funk. Por quê?
Porque hoje a gente vê e ouve muito bem o funk usando em sua base o pandeiro, o cavaquinho. Muitas duplas e cantores sertanejos usando elementos de samba, elementos de linguagem, de andamento.
Digo e volto a dizer: o samba nunca viveu um momento tão bom. Está inserido e é uma realidade em todos os cenários. Vejo isso com bons olhos. E quanto mais a gente misturar, mais o público vai ganhar com isso.
Péricles
Nos anos 1990, o termo pagode virou sinônimo de pagode paulista, diferente do estilo carioca. Ele ganhou o Brasil, mas também foi vítima de preconceito no Rio. Por quê você acha que isso aconteceu?
Tem gente que associa o pagode em geral ao pagode paulista, mas só devido ao fato de existirem vários grupos. E todos esses vários grupos saíram de São Paulo. O nome que se dava era pagode romântico. Muitos grupos faziam muito bem esse tipo de pagode. Ele foi muito bem aceito logo de cara também no Rio, não acho que demorou. Até porque muitos dos compositores que gravávamos eram do Rio.
Alguns viam o pagode com preconceito, sim, mas é o preconceito que o samba sempre sofreu. Não só o de São Paulo dentro do Rio. O brasileiro demorou para aceitar o samba como sua música pátria. Mas hoje, graças a Deus, ele é uma realidade.
Como é ser um dos memes populares da internet?
Essa coisa de meme não começou por minha causa não, as pessoas foram fazendo na internet. E aos poucos eu fui aceitando, fui gostando. Acho bem bacana a ideia. Hoje tem alguns que gosto. Um dos que mais gosto é do Periclito, que tem minha cabeça no corpo de um periquito. Achei uma piada muito bacana. E tem outros que adoro. Não me ofendo, não. Gosto bastante.
ESTÚDIO UOL: PÉRICLES
Quando: 29 de janeiro
Onde: Na home, no Facebook, no Twitter e no YouTube do UOL
Horário: 18h
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