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Imprensa internacional repercute censura contra Porta dos Fundos e Netflix

Cena do especial de natal da Netflix "A Primeira Tentação de Cristo", feita pelo grupo Porta dos Fundos - Divulgação
Cena do especial de natal da Netflix 'A Primeira Tentação de Cristo", feita pelo grupo Porta dos Fundos Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

09/01/2020 18h22

A decisão do desembargador Benedicto Abicair de pedir que a Netflix retire de seu catálogo o especial de Natal do Porta dos Fundos, intitulado A Primeira Tentação de Cristo, repercutiu em veículos de comunicação ao redor do mundo. Após a publicação original deste texto, a medida foi derrubada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

O jornal The New York Times afirmou que a "decisão colocou o filme ao centro de um debate mais amplo sobre censura no Brasil. É o último ponto na guerra cultural do país, que tem crescido desde a eleição do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro em 2018".

Reportagem da agência Associated Press, reproduzida pela revista Time e pelo jornal britânico The Guardian, também citou a "guerra cultural" que tomou o País. "A decisão vem em um momento em que grupos da sociedade civil dizem que o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro está empenhado em uma 'guerra cultural', cortando fundos para projetos artísticos que desafiem os 'valores cristãos' e investindo contra celebrações extravagantes de Carnaval".

A revista Variety, uma das mais respeitadas na indústria cinematográfica, escreveu que a medida "é vista por muitos como parte de uma tendência do presidente Jair Bolsonaro e da extrema-direita cristã do Brasil, que têm falado abertamente sobre que tipos de conteúdo podem ser considerados apropriados para exibição e financiamento público". A publicação ainda lembrou que a decisão judicial vem na esteira do cancelamento de editais voltados a produções LGBTQ.

O jornal The Washington Post destacou o que chamou de "um dos mais fortes golpes contra a Netflix na América Latina, onde a plataforma produziu dezenas de projetos originais e enfrentou poucas medidas séries que restringissem o que os espectadores podem ou não assistir - muito menos um filme feito na e para a região".

A agência BBC afirmou que o especial "enfureceu cristãos fervorosos no páis" e lembrou que Bolsonaro "disse uma vez que preferia ter um filho morto a um filho gay". "O filho dele, Eduardo Bolsonaro, chamou o especial da Netflix de 'lixo' no Twitter, acrescentando que o Porta dos Fundos 'não representa a sociedade brasileira'".

A revista Entertainment Weekly, por sua vez, afirmou que o desembargador Abicair "respondeu a uma petição pedindo a remoção especial" e destacou uma das frases dele, sobre como a retirada do especial seria "benéfica à sociedade brasileira, majoritariamente cristã".