Dinho aprova Primeiros Erros do Fla, mas recusa cantar: "Temo represálias"

"Em dezembro de 81..." será um dos versos mais cantados pela torcida do Flamengo hoje, dia da final do Mundial de Clubes. A paródia de Primeiros Erros, música de Kiko Zambianchi, contagiou até a Fifa, que publicou em suas redes sociais os versos que exaltam o título sobre o Liverpool, no Japão, há 38 anos, e pedem "o mundo de novo" contra o mesmo adversário, no Qatar.

A força da música também impressionou Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial. Ele transformou Primeiros Erros, lançada originalmente em 1985, em hit atemporal no Acústico MTV (2000). "Ela não para de crescer, cara, é incrível. É uma das músicas mais populares do Brasil", afirma o cantor ao UOL.

Hoje, Dinho torcerá para o Flamengo repetir o feito de seu time de coração, São Paulo, que em 2005 bateu o mesmo Liverpool e sagrou-se tricampeão mundial. Ele se diz satisfeito ao ver a música que popularizou há quase 20 anos seja fonte de inspiração para a torcida mais numerosa do Brasil, segundo pesquisa Datafolha.

"Não sou o autor, mas talvez tenha dado maior visibilidade à canção. Eu fico envaidecido e grato de ter uma publicidade gratuita e tão popular. Quando a música se une ao futebol, transcende de uma forma singular, única. Lembro na época da gravação de Primeiros Erros, o Ronaldo e outros jogadores de futebol daquela geração pediam para cantarmos na casa deles", conta.

"Primeiros Erros é um hino"

Para Dinho, Primeiros Erros conquistou o público com a letra, que fala sobre arrependimentos ("Se um dia eu pudesse ver meu passado inteiro, e fizesse parar de chover nos primeiros erros, meu corpo viraria sol, minha mente viraria sol, mas só chove, chove"), mas encaixou no grito da torcida rubro-negra pela melodia composta por Zambianchi.

"Onde quer que a gente toque, dentro ou fora do Brasil, gente pobre e rica, do Nordeste ao Sul, é sempre uma catarse. Acho que é por isso que os caras escolheram essa música. O Kiko acertou uma melodia inacreditável, que parece quase um hino, justamente adequado a um estádio de futebol, tanto que os flamenguistas tiraram a letra e continua parecendo", analisa.

Dinho não canta

Composta por Eric Barceleiros, integrante da torcida organizada Nação 12, Dezembro de 81 nasceu há oito anos, muito antes de os flamenguistas sonharem em ver o time "botar os ingleses na roda" outra vez, como diz a paródia. O título da Libertadores impulsionou a música, que chegou a ser cantada por Kiko Zambianchi e Ivo Meirelles no Fantástico.

Na verdade, só o flamenguista Ivo cantou a paródia, enquanto Kiko introduziu com o refrão de Primeiros Erros e ficou no violão, em respeito ao time do coração, Santos. Dinho Ouro Preto decidiu tomar a mesma atitude do amigo e recusou cantar a versão flamenguista de seu hit.

"Não sei se foi alguém da torcida ou da diretora do Flamengo, mas pediram para eu cantar esse hino. Falei: 'Meu, não posso. Na boa, adoraria, mas vou queimar meu filme e não vou poder mais entrar no Morumbi'. Haveria hostilidade dos são-paulinos, eu iria receber mensagens iradas. Vou ao estádio, posto coisas de futebol e ficam putos da vida comigo, inclusive a diretoria do São Paulo! O Raí [diretor-executivo de futebol do São Paulo] iria ligar pra mim: 'Meu, que porra é essa?'", diz, rindo de nervoso.

Durante a entrevista, Dinho se interessou em criar uma paródia para o Tricolor paulista sair da fila de sete anos sem títulos: "Para o São Paulo, eu faria, mas acho que não devem mais querer, né? Porque virou do Flamengo. Tem que ser com outra música, talvez À Sua Maneira. Seria legal. Bem pensado, vou matutar essa ideia".