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Mural apagado: grafiteira Panmela Castro acusa polícia de Miami de censura

O mural grafitado por Panmela Castro e, no dia seguinte, o mesmo mural pintado de preto - Reprodução/Instagram
O mural grafitado por Panmela Castro e, no dia seguinte, o mesmo mural pintado de preto Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL em São Paulo

04/12/2019 08h53

A grafiteira Panmela Castro, também conhecida como Anarkia Boladona, acusou a polícia de Miami, nos Estados Unidos, de censurar um de seus trabalhos.

Panmela, tida como a rainha do graffiti brasileiro, está na cidade americana para participar da Art Basel Miami Beach, tradicional e importante evento de artes no país e com forte presença de artistas brasileiros.

Ela contou que foi convidada para pintar um novo mural em Wynwood, bairro famoso por reunir vários murais de grafite, mas teve o grafite removido.

"Com o apoio das pessoas envolvidas, decidi por colocar na parede uma pintura do projeto #RetratosRelatos onde mulheres me enviam seus relatos de vida junto à uma foto e eu as retrato. Decidi então pintar o relato de uma de minhas alunas da Rede NAMI", contou ela no seu perfil do Instagram.

Panmlea se baseou em uma foto publicada no jornal O Globo onde uma mulher que havia filmado abusos da polícia na Rocinha, no Rio de Janeiro, é detida por policiais. O registro de 2018 foi feito pelo fotógrafo Gabriel Paiva.

"Ontem eu iniciei a pintura usando como referência a foto do jornal, e junto a isso, me apropriei de uma frase que dizia 'Mulher Que Filmou Abuso de Policiais é Agredida e Presa' e escrevi na parede", relatou ela.

Na parte da noite, ela foi avisada que o grafite seria removido. "Recebi uma mensagem avisando que o dono da parede recebeu reclamações da polícia que protege o local e que não queria arrumar problema com eles, sendo assim, eu deveria apagar a frase. Hoje o mural foi pintado de preto", disse a grafiteira.

Nem a polícia nem os organizadores da Art Basel comentaram o caso.

ALERTA DE CENSURA Estou aqui em Miami para a Semana de Arte. Além da feira principal, a Arte Basel Miami Beach, existem outros projetos que atraem a atenção do público, como o bairro de Wynwood que ficou famoso por seus murais de grafite e onde eu fui convidada para pintar um novo mural. Com o apoio das pessoas envolvidas, decidi por colocar na parede uma pintura do projeto #RetratosRelatos onde mulheres me enviam seus relatos de vida junto à uma foto e eu as retrato. Decidi então pintar o relato de uma de minhas alunas da Rede NAMI. O relato veio junto à uma matéria de um jornal O Globo que contava sobre uma passagem em que esta minha aluna, filmou o abuso de policiais à alguns jovens na Rocinha, e que com isso teve o celular quebrado, foi agredida e presa. Ontem eu iniciei a pintura usando como referência a foto do Jornal, e junto a isso, me apropriei de uma frase que dizia "Mulher Que Filmou Abuso de Policiais é Agredida e Presa" e escrevi na parede. Na parte da noite, recebi uma mensagem avisando que o dono da parede recebeu reclamações da polícia que protege o local e que não queria arrumar problema com eles, sendo assim, eu deveria apagar a frase. Hoje o mural foi pintado de preto. O curioso de tudo, é que a pintura é justo uma crítica ao abuso de poder por parte de alguns policiais que agora, através desta censura, limitam meu direito à expressão, e reafirmam que a violência institucional destes que deveriam estar aí para nós proteger, por sua vez nos oprimem, e nos obrigam a nos calar. Debater sobre temas que me afligem e colocar em pauta infrações contra os direitos básicos dos cidadãos deveria ser algo visível em um país democrático. Mas parece que a democracia se fragiliza não no Brasil, mas em outros lugares também. Em 2017 o meu Mural Femme Maison pintado no Brasil foi perseguido e censurado, fomos processados, e o mural que deveria ser permanente acabou sendo apagado em algumas semanas. O caso ganhou repercussão nacional. Eu sabia que isso poderia voltar a acontecer no Brasil, mas nunca imaginei que poderia acontecer em um país como os Estados Unidos onde as instituições não são frágeis como as brasileiras, mas aconteceu. #artbasel

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