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No Dia do Samba, Zeca Pagodinho conta qual é a música que mais o emocionou

Zeca Pagodinho em foto no seu bar, no Rio de Janeiro, em 2019 - Zô Guimarães/Folhapress
Zeca Pagodinho em foto no seu bar, no Rio de Janeiro, em 2019 Imagem: Zô Guimarães/Folhapress

Djalma Leite de Campos

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/12/2019 04h00

A playlist de Zeca Pagodinho, 60, praticamente não recebe visitas de álbuns e produções que tenham data de lançamento depois dos anos 1970.

O sambista carioca - que já gravou um disco em homenagem a Heitor dos Prazeres (sambista pioneiro e figura que ajudou a criar várias escolas de samba cariocas), admite que não costuma perseguir as novidades do ritmo. Ao menos nos momentos de descanso: "Em casa, eu só escuto músicas bem antigas, como Candeia, Elizeth Cardoso, Ciro Monteiro...".

Zeca Pagodinho em foto posada de 2019 - Zô Guimarães/Folhapress - Zô Guimarães/Folhapress
Imagem: Zô Guimarães/Folhapress

O artista busca na memória e recupera sons e ritmos que escutava na casa dos pais. "A música que tocava na minha infância era muito misturada. A gente escutava muita seresta, valsa e, claro, samba."

Segundo Zeca, Martinho da Vila e Monsueto [autor de Mora na Filosofia] foram as fontes de inspiração para seu início da carreira nas rodas de samba cariocas, entre o final dos anos 1970 e o começo dos anos 1980.

É de autoria de Martinho a música que mais emociona o sambista, que chega a cantar alguns versos um trecho durante a entrevista dada por telefone ao UOL. "Não consigo mais lembrar o nome do primeiro samba que eu ouvi na vida... Mas o mais marcante é um samba do Martinho. Particular, ela é particular [cantarola]. É o Pequeno Burguês. Era este o samba!".

Embora reserve seus momentos particulares para se lembrar dos grandes sambas que marcaram sua vida, Zeca diz que segue antenado nos nomes que surgem no gênero. Na hora de citar algum, é político e prefere se esquivar da tarefa: "Tem muita gente boa... Mas não posso falar de um e não citar o outro."

Com show marcado em São Paulo (7/12 - UnimedHall), Zeca lança seu álbum de número 24 da carreira, Mais Feliz. O nome do disco e da turnê é autoexplicativo. "Acho que hoje eu vivo um momento artístico bem melhor do que naquela época que eu surgi, na explosão do samba dos 1980. Bem melhor!"

Quando olha para o passado, relembra imediatamente de sua madrinha no samba: Beth Carvalho, morta no início do ano, aos 72: "Penso muito em Beth Carvalho, que gravou, em 1983, Camarão que Dorme a Onda Leva". O primeiro sucesso de Zeca foi o suficiente para impulsionar sua produtiva carreira até hoje.

Zeca Pagodinho sorri em ensaio fotográfico de 2019 - Zô Guimarães/Folhapress - Zô Guimarães/Folhapress
Imagem: Zô Guimarães/Folhapress

Zeca também recupera a importância de outros nomes em sua trajetória, citando Mussum e Alcione.

O primeiro artista a gravar Zeca foi o grupo Fundo de Quintal (Amargura, 1983). No mesmo ano, o humorista e músico Antônio Carlos Bernardes, o Mussum [ex-integrante do humorístico Os Trapalhões] incluiu o samba Chiclete de Hortelã em um disco. Logo depois, Alcione gravou Mutirão de Amor, samba de autoria de Zeca, Sombrinha e Jorge Aragão.

Em um ano marcado pela morte de nomes importantes do samba, como Beth Carvalho, Zeca cita a recente despedida de Reinaldo, o Príncipe do Pagode. "A gente sempre fica muito triste quando isso acontece. Era um companheiro de música, de rua. Foi um ano difícil. Mais um... [sambista que partiu]."

E olha para o futuro do ritmo de forma otimista, mas sem fazer apostas. Lembra a importância do Dia Nacional do Samba e ainda presta reverência ao ritmo. "Não sei como será o futuro do samba. Acho que só Deus sabe! Mas o samba é a minha alegria, a minha comida... E ainda paga as minhas contas".

* Esta é a primeira entrevista de uma série de reportagens que será publicada pelo UOL durante esta semana para celebrar a Semana do Samba. Fique ligado!