Um Dia de Chuva em NY: Woody Allen retorna com filme antigo e previsível
Existe um entendimento sobre Woody Allen: guardadas exceções, por produzir filmes anuais, ele precisa de pelo menos três tentativas para lançar uma grande obra. O problema é que já se passaram cinco longas desde o ótimo Blue Jasmine, com acusações de assédio e um projeto abortado com a Amazon no meio, e ele ainda não foi capaz de voltar à melhor forma. Um Dia de Chuva em Nova York, que estreou esta semana, derrapa na falta de apelo e nos múltiplos lugares comuns do cineasta.
Rodado quase inteiramente na cidade de Nova York, o filme retrata dois namorados, Ashleigh (Elle Fanning), uma atrapalhada estudante de jornalismo, e Gatsby (Timothée Chalamet), um jovem bon vivant e pedante, um dos muitos alter egos de Woody Allen, Aos 20 e poucos anos, ele prefere ligar à enviar mensagens de texto no celular, além de amar apostas e tocar Chet Baker no piano. Parece estar nos anos 1950. Já não vimos isso antes?
Ashleigh consegue uma entrevista exclusiva com um diretor de cinema autoral (Liev Schreiber) em Manhattan, e eles viajam esperando passar um fim de semana dos sonhos. Mas nada sai dentro do planejado. Ingênua, ela se deixa levar pelo charme do diretor em crise, pela lábia do roteirista não menos charmoso (Jude Law) e por um fogoso ator de Hollywood de origem latina (Diego Luna). Uma mulher mais jovem caindo em contos de homens experientes e poderosos em pleno 2019. Nada de novo no front.
Fugindo da comédia, o arco de Gatsby é mais interessante. Ele se envolve com a irmã mais nova (Selena Gomez) de uma ex-namorada e precisa confrontar, em uma festa requintada a que ele vai a contragosto, a figura da mãe rica e controladora, que guarda um segredo inconfessável que mudará para sempre a relação familiar. Sem par, ele contrata uma acompanhante. Do lado de fora, a chuva insistente serve como metáfora romântica dos encantos e aventuras escondidas pela cidade, a exemplo de Meia-Noite em Paris (2011).
Como estamos em um filme de Woody Allen, a ciranda amorosa gira rapidamente, e em vários momentos os personagens se veem absortos e distantes de si mesmos, fisgados por uma pessoa, uma situação surpreendente, que resultam em euforias banais e decepções retumbantes. O pacote é amarrado como uma carta de amor a Nova York, mas ela foi escrita e reescrita várias vezes pelo diretor. Como acreditar e se envolver com a mesma declaração?
Não que Um Dia de Chuva em Nova York seja desprovido de qualidades ou entretenimento. A comédia de situação Woody Allen aparece aqui e ali no romance, que tem roteiro esperto mesmo com seu fim previsível. Mas parece faltar alguma coisa. Carente de inspiração e novidades, o filme passa a sensação, especialmente para quem segue o diretor, de preguiça, assim como os recentes Café Society e Roda Gigante.
Outro ponto a ser considerado: Um Dia de Chuva em Nova York apresenta personagens femininas com certo tom de deboche, especialmente as jovens: a mulher do roteirista Jude Law (Rebecca Hall), que o trai com o clichê do melhor amigo, e a protagonista, que é caipira, boba e termina punida por se deixar seduzir pela fama e luxúria, o que não acontece com o "maduro" Gabsy. Caso tais rompantes sexistas sejam uma resposta de Woody Allen ao #MeToo, ela não é das melhores.
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