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Patti Smith em São Paulo: "Johnny Depp me obrigou a ter um celular"

A cantora Patti Smith - Angela Weiss / AFP
A cantora Patti Smith Imagem: Angela Weiss / AFP

Liv Brandão

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/11/2019 15h59

Patti Smith é uma amante dos livros, praticamente avessa à tecnologia. Em São Paulo, onde se apresenta amanhã, no Popload Festival, e no sábado, em um show intimista no auditório Simón Bolívar para pouco mais de mil sortudos, a artista americana deu uma pausa na agenda para tratar de seu assunto preferido.

Ela, que lança a ficção autobiográfica O Ano do Macaco (Companhia das Letras) no Brasil, participou de uma sessão de leitura e de um bate-papo mediado pela curadora da Flip, Fernanda Diamant.

No auditório lotado do Sesc Pompeia, 800 pessoas que chegaram cedo para garantir seu lugar, viram, encantadas, Patti falar sobre livros, a vida, o mundo e a tecnologia. A cantora, escritora e fotógrafa arrancou gargalhadas quando contou que seu celular fora um presente do amigo Johnny Depp.

"Estava em Porto Rico durante as gravações de um filme dele, meu filho tentou falar comigo e não conseguia. Então ele foi atrás do Johnny, implorou para que ele me arrumasse um celular e, no dia seguinte, ele apareceu com um aparelho e um número dizendo 'este é o seu telefone'", contou ela, que continua de posse do mesmíssimo gadget.

Patti Smith participa de evento em SP - Liv Brandão/UOL - Liv Brandão/UOL
Patti Smith participa de evento em SP
Imagem: Liv Brandão/UOL

Para ela, a grande vantagem de um smartphone é o Instagram, única rede social em que se faz presente. "Minha filha que configurou para mim. Eu posto fotos, falo com gente do mundo inteiro e apago mensagens grosseiras e brigas. Quando evocam a liberdade de expressão, aviso que isso não existe no meu Instagram".

A conversa, claro, descambou para o seu processo de escrita, tema de Devoção, outro livro que ela lança no país. "Escrevo todos os dias. Pensamentos, canções, poemas, sonhos. Sempre fui muito sonhadora, tenho sonhos épicos, várias vezes acordo como se tivesse visto um filme. Eu sonho com projetos inteiros. Meus sonhos são muito instrutivos."

"Temos líderes terríveis"

E são os sonhos que costuram O Ano do Macaco, escrito durante uma viagem que fez sozinha pelos Estados Unidos em 2016. Tendo seu caderninho como companhia, Patti misturou seus pensamentos aos sonhos para comentar os acontecimentos do mundo.

"Aquele ano foi difícil para mim, o processo eleitoral foi mais sujo que o normal, e o resultado foi terrível. Eu sempre sou otimista, porque estar viva e gostar da vida é ser otimista, até porque a alternativa é acreditar que nada bom pode acontecer", ressaltou ela.

"Temos líderes terríveis no mundo inteiro, precisamos de uma visão humanista e ambientalista no século 21. Mas enquanto estivermos vivos, nós podemos provocar a mudança. Não quer dizer que eu não esteja irritada, ansiosa, mas eu preciso acreditar na vida e preciso fazer o meu trabalho."

E, seguindo essa mesma linha, a conversa teve espaço até para o improviso. Ao ler um trecho de O Ano do Macaco, Patti aproveitou o choro de um bebê que estava no auditório para lembrar que não fizermos nada, todas as crianças do mundo vão chorar".