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Colega de Glenn relata tensão e ameaças em bastidores de briga na Jovem Pan

Do UOL, em São Paulo

08/11/2019 14h02

Parceiro de trabalho de Glenn Greenwald no The Intercept, Victor Pougy usou sua conta oficial no Twitter para dar sua versão sobre os bastidores da agressão que o jornalista sofreu de Augusto Nunes, durante participação no programa Pânico, da Jovem Pan.

De acordo com o colega de Glenn, que afirmou estar na emissora no momento da confusão, partiu da direção da rádio o pedido para que Nunes participasse da atração.

"Ao chegarmos, a produção perguntou se havia problema se Augusto Nunes participasse também do programa. Glenn disse que não haveria problema algum, visto que acredita no diálogo e na conversa com quem discorda. Seria uma oportunidade de passar a limpo e superar as rusgas", disse.

Pougy afirma que, após a agressão a Glenn, Augusto Nunes também o ameaçou.

"Não preciso dizer que tava completamente incrédulo. Falei 'O que é isso cara, quinta série? Resolver diferenças no tapa?' Eis que ele me respondeu 'Quem é você? É guarda-costas dele é? Quer apanhar também?'. Bizarro. Um cara de quase 70 anos me chamou pra porrada. Só consegui rir", relata.

O colega de Glenn Greenwald ainda afirmou que a Jovem Pan prometeu um pedido de desculpas do próprio Augusto Nunes, o que, segundo ele, ainda não aconteceu. Apesar do momento de tensão, Pougy afirma que todos os funcionários que presenciaram a situação prestaram solidariedade.

"Saímos de lá afagados por todos. Produtores, radialistas, jornalistas e executivos pedindo desculpas profusamente. Nos prometeram uma retratação pública e um pedido de desculpas do Augusto Nunes. Ainda esperando, porque os posicionamentos públicos até agora foram muito pouco firmes", relatou.

Entenda o caso

O jornalista Augusto Nunes, da Jovem Pan, Veja e Record, agrediu Glenn Greenwald, do The Intercept, durante participação no programa Pânico, da Jovem Pan, ontem.

A agressão aconteceu depois de Glenn chamar Nunes de covarde por ter feito comentários sobre os seus filhos com o deputado David Miranda. Depois da agressão, o apresentador Emilio Surita suspendeu o programa por 12 minutos. Na volta, Augusto Nunes tinha deixado a atração, enquanto Glenn continuava na bancada.

A confusão começou logo após Glenn questionar Nunes se um juiz deveria investigar sua família. "Nós temos muitas divergências políticas, eu não tenho problema nenhum em ser criticado pelo meu trabalho - eu critico ele também. Mas o que ele fez foi a coisa mais feia e suja que eu vi na minha carreira como jornalista, inclusive fazendo guerra com CIA, governo Obama, governo do Reino Unido. Ele disse que um juiz de menores deveria investigar nossos filhos e decidir se nós deveríamos perder nossos filhos. (Que) eles deveriam voltar para o abrigo, com base nenhuma. Acusando que estamos abandonando, fazendo negligência de nossos filhos. Eu quero saber se você acredita que um juiz de menores deveria investigar nossa família com possibilidade de tirar nossos filhos de nossa casa, sem pai nem mãe, sem família nenhuma", disse Glenn.

"Essa é a prova de que o Brasil criou o faroeste à brasileira. Quem tem que se explicar é quem comente crimes, quem fica cobrando quem age honestamente. Ouça-me: o que eu disse, vocês vão perceber, é que ele não sabe identificar ironias, não sabe identificar um ataque bem-humorado. Convido ele a provar em que momento eu pedi que algum juizado fizesse isso. Disse apenas que o companheiro dele passa tempo em Brasília, passa o tempo todo lidando com material roubado. Quem vai cuidar dos filhos?", respondeu Nunes.

Glenn reagiu: "Você é um covarde! Você é um covarde! Eu vou falar o porquê". Ele então foi interrompido por Nunes. A primeira tentativa de agressão não deu certo, mas depois Nunes atingiu o rosto de Glenn. O norte-americano tentou revidar, mas não conseguiu.

A volta ao ar Depois de cerca de 12 minutos, o programa voltou ao vivo, sem Nunes. A Jovem Pan pediu desculpas pelo ocorrido. "Não foi nada irônico. (...) Ele nunca falaria que um juiz deveria investigar se os chefes que têm filhos, onde as duas pessoas trabalham. Ele só fala isso sobre nós. Isso é covardia", disse.