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Seu Jorge ironiza heróis da Marvel e pede para público assistir a seu filme

Seu Jorge e a atriz Naruna Costa durante entrevista ao Morning Show, da rádio Jovem Pan - Reprodução
Seu Jorge e a atriz Naruna Costa durante entrevista ao Morning Show, da rádio Jovem Pan Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/10/2019 14h19

Seu Jorge foi o convidado de hoje do programa Morning Show, da rádio Jovem Pan. Ao lado da atriz Naruna Costa, o cantor e ator divulgou a série Irmandade, que estreia na Netflix no próximo dia 25 e aproveitou para comentar sobre o filme Marighella, dirigido por Wagner Moura, e cutucar até os Vingadores, heróis da Marvel.

Enquanto falava sobre as críticas feitas à produção, que teve estreia cancelada no Brasil, Seu Jorge fez uma comparação ironizando alguns heróis clássicos do cinema mundial e tentou incentivar o público a ver Marighella.

"Acho que todo brasileiro deve assistir a esse filme. É uma proposta de arte que não veio para atacar nada. Passam três horas assistindo um malandro jogando teia no outro... Nos Vingadores o cara fica lá três horas esperando o Homem de Ferro morrer. Aqui é só um filme contando a história do nosso país. História que pouca gente tem conhecimento", disse.

O ator e protagonista de Marighella minimizou o cancelamento da estreia do filme no país. "Peru de véspera. Como diz o Gilberto Gil: 'É o excesso!' Eu acredito que vai estrear por aqui uma hora. E vai mudar tudo que está sendo fomentado agora", disse.

Irmandade

Gravada em Curitiba, a série Irmandade, dirigida por Pedro Morelli, conta história de uma advogada (Naruna Costa) obrigada a tornar-se informante contra uma facção criminosa liderada por seu irmão (Seu Jorge).

Ainda "impactado" pelo trabalho, Seu Jorge não fugiu das perguntas da bancada liderada por Edgar, e negou, por exemplo, uma suposta semelhança da série com uma das mais conhecidas facções criminosas do país.

"Quando o Pedro [Morelli] trouxe esse trabalho a pesquisa já estava pronta. O que ele conta é uma série de ficção sim, mas não foi necessariamente inspirada no Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele fez pesquisas e estudos anteriores a esse evento para poder ter base e não sair fazendo coisas sem fundamento. Mas o que eu entendo é que ele desenvolveu a série da cabeça dele... Pegou alguns dados, pesquisas, mas não tem nada a ver...", disse.

Voz aos negros

A representatividade negra presente na série também foi abordada pelos atores, que fizeram questão de destacar um viés diferente em Irmandade.

"Acredito que a passos lentos a gente vem conquistando espaço. Esse caso específico eu acho que vai ser um marco mesmo. Tem muita coisa conectada nesta dramaturgia em especial. Além do protagonismo ser efetivamente negro, tem uma relação de um casal que não é um casal romântico... É uma outra perspectiva que a gente não costuma ver na dramaturgia nacional", afirmou Naruna.

A atriz também falou sobre a complexidade dos personagens da série, que, na visão dela, fogem do comum e contrariam dados.

"Quem é negro sabe o que é contrariar as estatísticas. A protagonista cresce na periferia e se torna uma advogada no Ministério Público. Essa qualidade que foge dos estereótipos é o maior ganho desse projeto. Coisa que a gente vê muito raramente. A gente pensa sempre em quantidade. E a gente quer ver isso também, mas neste caso específico a questão da qualidade avança alguns passos. A Irmandade traz conteúdo, estética e representatividade. E isso é um caminho que avança alguns passos nessa nossa luta de ocupação desses espaços que sempre foram muito restritos a nós", declarou.

Racismo e crise nos presídios

Seu Jorge também falou de racismo e das condições dos presídios do país, classificada por ele como símbolo de uma "crise humanitária".

"A coisa está ruim. Crise total. Eu estava lá em Curitiba e de 350 presos eu vi apenas três da minha cor. Porque de acordo com o carcereiro mais experiente de lá não dá nem tempo do preso negro chegar... Eles são mortos antes. É um bônus o negro chegar a ser preso em Curitiba", disse.

Para Seu Jorge, o racismo no Brasil é presente em tudo, é um problema estrutural. "O jovem negro é morto o tempo todo por aqui. Igual mosca. Não olham para gente vendo possibilidade, não acreditam na gente... Precisamos combater esse lugar aí."

Naruna complementou a fala de Seu Jorge: "Não basta não ser racista. É necessário ser antirracista", declarou.

Irmandade nasce após dois anos de produção e é o resultado da primeira parceria entre Netflix e a produtora O2, de Fernando Meirelles, Paulo Morelli (pai do diretor), e de Adriana Barata Ribeiro.

Para Seu Jorge o trabalho "intenso" foi fruto de uma reunião de talentos. "Não fiz nada sozinho. Foi um trabalho coletivo que juntou muita gente boa"