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Mostra em SP retrata chacinas e mortes de negros com mil baldes de "sangue"

"Mil Litros de Preto II - O largo transborda" é a performance que aborda a chacina de jovens negros, em São Paulo - André Velozo/Divulgação
"Mil Litros de Preto II - O largo transborda" é a performance que aborda a chacina de jovens negros, em São Paulo Imagem: André Velozo/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

02/10/2019 12h43

A imagem é forte: baldes pretos, com água vermelha representando o sangue das mortes de jovens negros em chacinas pelo país. A obra "Mil Litros de Preto II - O largo transborda" é uma das cinco que está em exposição na 9ª Mostra 3M de Arte, em São Paulo, que selecionou por meio de edital trabalhos brasileiros que gerem reflexões sobre temas contemporâneos relevantes.

As obras da mostra que está em exposição gratuitamente desde sábado até o dia 27 de outubro, no Largo da Batata, no bairro paulistano de Pinheiros, tem como tema "Manifestos por outros mundos possíveis" e reuniu o projeto MINIMUM, de David Paz e Patricia Passos (CE), Lucimélia Romão (MG), Projeto Matilha, de Fafi Prado e Pedro Guimarães (SP), Naine Terena (MT) e Renato Atuati (SP). A missão foi construir novas perspectivas de existência, englobando as diferenças, ocupar o espaço público e levar reflexão a quem passa pelo local.

Um dos destaques é a "Mil Litros de Preto II - O largo transborda". A obra teve início com o caso de Marcos Vinícius da Silva, jovem de 14 anos atingido por uma operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

A acordeonista, artista de rua e performer Lucimélia Romão juntou o caso com as influências de sua leitura de Genocídio do Povo Brasileiro, de Abdias Nascimento, para se aprofundar nos estudos sobre genocídio negro no país. Números do Atlas da Violência de 2017 mostram que a cada 25 minutos um jovem negro morreu no Brasil, com homens negros de 19 a 29 anos como mais atingidos.

Mostra - André Velozo/Divulgação - André Velozo/Divulgação
Imagem: André Velozo/Divulgação

Assim, a ideia foi representar essas mortes e trazer consciência a elas com mil baldes de 7 litros - a quantidade aproximada de sangue do corpo humano - de água tingida de vermelho, cada um etiquetado com nome de uma vítima morta violentamente. O conteúdo do balde foi despejado no último sábado, em uma piscina de 7 mil litros, por Lucimélia e integrantes do movimento Mães de Maio - grupo que luta por justiça nos casos de assassinato de seus filhos. A piscina segue exposta no local.

Mostra - André Velozo/Divulgação - André Velozo/Divulgação
Imagem: André Velozo/Divulgação

Entre as outras obras, Monolítico Mnemônico, da dupla MINIMUM, tem inspiração em uma imagem icônica do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço e traz um teor mais tecnológico, com caixas de som e displays acionados por inteligência artificial.

Já a indígena Naine Terena, doutora em educação pela PUC/SP, mestre em artes e comunicóloga criou Prosperidade, que com simplicidade representa o bem viver, com uma mandala feita de acrílico.

Completam a mostra Entre, de Renato Atuati, com um monumento em forma de hexágono, com portões compostos por materiais e modelos diferentes - o trabalho propõe um espaço seja possível se entrelaçar e se reconfigurar, para formar um novo espaço - e Puxadinho, do Projeto Matilha. Nesta última, uma pequena casa forma um ambiente que convida o espectador a escrever seus manifestos a partir da pergunta: "Quem é você na história do Brasil?".

A mostra tem educadores diariamente guiando as visitas entre 8h e 20h e também conta com audiodescrição para deficientes visuais.

"Ter uma edição em que todos os artistas foram selecionados via edital por pessoas representativas da sociedade civil juntamente com profissionais do meio artístico é uma grande satisfação pois, ao nosso ver, essa é a melhor forma de tornar a arte acessível, democrática e fiel do nosso desejo em ocupar o espaço público com trabalhos que estejam em diálogo com os cidadãos", diz Fernanda Del Guerra, diretora da Elo3, empresa idealizadora e realizadora da Mostra.