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"As pessoas ainda olham a Amazônia com olhar predatório", diz criador de Aruanas

Protagonistas da série "Aruanas" - Fábio Rocha/Globo
Protagonistas da série "Aruanas"
Imagem: Fábio Rocha/Globo

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

05/09/2019 13h52

Quando Aruanas foi lançada, no início de julho, a Amazônia ainda não ocupava as páginas do noticiário internacional por conta das queimadas que se alastram pela floresta desde meados de agosto. Mas a série, ambientada na Amazônia e centrada no trabalho que três ativistas que se dedicam à causa ambiental (Débora Falabella, Taís Araújo e Leandra), acabou se tornando ainda mais atual, na visão de seus criadores, Estela Renner e Marcos Nisti.

"Tem um cenário que hoje torna essa mensagem mais urgente. Esse problema sempre esteve aí, mas está mais jogado na nossa cara", diz Nisti ao UOL. "Todo mundo dorme pensando nas queimadas da Amazônia, é muito covarde", completa Renner.

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Os dois têm recebido pedidos do público para que a série, exibida no Globoplay, o serviço de streaming da Globo, seja exibida também na TV aberta. Ainda não há previsão de quando isso irá acontecer, mas os episódios de Aruana ficarão disponíveis gratuitamente na plataforma por uma semana, a partir de hoje, 5 de setembro, data em que se comemora o dia da Amazônia.

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Para os criadores, ainda há muitos equívocos na forma como se vê a floresta. "As pessoas ainda olham a Amazônia com um olhar extrativista, predatório, de 'vou tirar o metal que está aqui, vou tirar a árvore que está ali, vou tirar a terra que não é de ninguém'", reflete Nisti. "Acho que o erro maior está aí, e isso foi traduzido na primeira temporada, com a questão do minério ilegal".

Ainda persiste também, para Renner, uma noção que liga o desmatamento ao progresso econômico. "Existe uma ideia forte de que o desenvolvimento precisa vir de uma Amazônia derrubada", afirma. ". E isso é um dos maiores equívocos, porque se você acompanhar tantos anos de evolução e olhar para as relações de interdependência entre todos os seres vivos que vivem ali, existe muita inteligência. É uma verdadeira fonte de conhecimento, e a gente não olha para a floresta dessa forma."

A diretora e roteirista lembra que o Brasil, historicamente, tem um papel importante na preservação da mata. Segundo dados da Embrapa divulgados no início do ano, o País tem 66% de vegetação nativa preservada - o que não significa que os cuidados devam diminuir. "Não é por isso que a gente tem que olhar para nossa floresta e falar 'já que os outros países derrubaram, vamos derrubar tudo'. Não, vamos valorizar a floresta em pé. Qual é a vantagem que a gente tem? Qual o valor ativo dessa floresta?"

Boa recepção e nova temporada

Os dois criadores estão felizes com a repercussão positiva que Aruanas tem conseguido nas redes sociais - transcendendo, inclusive, a questão da polarização política.

"A série mostra uma realidade de Amazônia, que é uma realidade que está aí", diz Nisti. "É a realidade dos ativistas ambientais. uma categoria a que o mundo deve todo respeito, essas pessoas que deixam suas vidas em favor das nossas. A gente fez a série para eles, e parece que o público entendeu quem são essas pessoas e gosta de ver as meninas em ação. E não polarizou. Nas pesquisas, a maioria esmagadora do Brasil quer a preservação da Amazônia", completa, em referência a uma pesquisa recente do DataFolha que apontou que 75% dos brasileiros consideram que a floresta está em risco.

Renner espera que Aruanas faça o público se sentir mais próximo da Amazônia, assim como aconteceu com as atrizes da trama. "E fato de a gente ter começado a filmar lá trouxe uma verdade, uma força. Todas as atrizes têm um vínculo com a Amazônia que é muito importante. Espero que a série faça com que outras pessoas tenham vontade de conhecer a Amazônia e se apropriar dela".

Os dois já estão trabalhando a pleno vapor na segunda temporada da série. Ainda não há, no entanto, previsão de início das filmagens.

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