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John Goodman compara pastor de Righteous Gemstones a mafioso: "Ele se comporta assim"

Do UOL, em São Paulo

20/08/2019 04h00

Nova série da HBO, The Righteous Gemstones estreou no último domingo contando a história de uma família de pastores, dona de um verdadeiro império midiático e religioso -- e, claro, eles não vivem exatamente da forma que pregam.

Isso vale especialmente para o patriarca da família, Eli, interpretado por John Goodman. Em entrevista divulgada pela HBO com exclusividade ao UOL, o ator fala sobre as contradições do personagem e de seu lado ganancioso que, no fim das contas, tem muito a ver com o de um chefe da máfia.

Confira abaixo a entrevista:

P: O que te atraiu neste personagem e nesta história?

JG: Eu gosto da visão do Danny McBride (criador) sobre as questões do Sul. Ele é de lá, é muito observador e tem uma perspectiva interessante. Ele torna essas pessoas engraçadas sem nunca menosprezá-las, nem humilhá-las - é basicamente a natureza humana. Quando eu li o roteiro, achei inovador. Não me lembro de ter visto nenhuma outra série sobre famílias religiosas engraçadas. É muito engraçado, e isso é importante. E está bem-escrito.

P: No início o seu personagem, Eli Gemstone, parece apenas um trapaceiro. Mas depois vemos o cansaço e a melancolia dele. De onde veio isso?

JG: Ele ficou destruído com a morte da mulher. Foi graças a ela que os Gemstones chegaram aonde estão. A montagem do negócio foi uma alegria, e tudo veio dela: ele estava apaixonado e faria qualquer coisa por ela, e o fato de ela ter partido ainda é devastador para ele. Então ele perdeu o interesse e ficou deprimido. Os únicos desafios que ele tem agora são ligados aos negócios, e ele e os Gemstones são meio gananciosos. Ele passa como um trator em cima das pessoas e não se importa.

P: Você encarou o personagem como se fosse um chefe da máfia?

JG: É assim que eu sinto, o que é engraçado. Ele se comporta assim porque é assim que ele sabe fazer as coisas: se apoderando das coisas, comprando.

P: A fé dele é real? Ele realmente acredita na missão da igreja?

JG: Acho que ele pode pensar que está seguindo a vontade do Senhor, mas pensar assim pode gerar muitos problemas. Ele é um homem de fé, mas agora surgiram outros elementos: ganância, perda e eu acho que ele desistiu dos filhos. Ele tenta fazer o que acha melhor para eles, mas sabe que eles vão estragar tudo.

P: Então a série é ao mesmo tempo um drama familiar e uma comédia sobre pregadores religiosos?

JG: Sim, é sobre pais, filhos, filhas e relacionamentos. Mostra coisas deterioradas e como elas pioram rapidamente. Sem ter uma base sólida de fé ou acredita em algo maior, quando as coisas vão mal, as pessoas se metem em muitos problemas tentando fazer o que é certo em vez de fazer o que Deus manda.

P: Vemos que os fiéis dos Gemstones são muito devotos e doam montanhas de dinheiro para a igreja por isso. Por que as pessoas fazem isso?

JG: Na grande divisão da Igreja Católica no século 16, quando surgiu o Protestantismo, compravam-se indulgências da Igreja em troca da promessa de salvação das suas almas do inferno. Aqui não chega a esse ponto, mas as pessoas querem fazer as coisas certas com os seus pastores, provar que são dignas e talvez comprar alguma paz. Estou generalizando, mas eu acho que pesa muito.

P: Você fez a série Roseanne, mas depois seguiu carreira no cinema. Hoje faz diferença para você se um papel é na televisão ou no cinema?

JG: Não, nenhuma diferença. Bem, agora eu não tenho mais tempo para fazer filmes. Mas eu penso nesta série como um filme. Eu não tento escolher, é o que vem. É como eu reajo ao material, é isso é basicamente intuitivo, porque eu nunca fui acusado de ser excessivamente inteligente (risos).

P: Você trabalhou com vários diretores e autores incríveis. O que torna o Danny McBride o grande nome de Hollywood hoje?

JG: Primeiro, o atrativo era o quanto ele era perspicaz. E isso não é superficial. Ele é muito inteligente. Eu também admiro o que ele e sua produção fizeram onde a série foi filmada, em Charleston, Carolina do Sul, que foi atrair a produção. Eles colocaram muita gente para trabalhar. Eles compraram ou alugaram essa antiga loja de departamentos Sears e a transformaram no quartel-general desse jovem império. Havia sets de filmagem, departamentos de arte, produção, roteiros. Tudo isso no mesmo lugar, e é realmente incrível. Eu admiro.