Quem é Phoebe Waller-Bridge, a atriz e roteirista que pode revolucionar 007
Ela saiu dos palcos ingleses para levar um monólogo à Broadway, escreveu duas das séries de TV mais bem avaliadas dos últimos anos, atuou em Star Wars, foi indicada a quatro Emmys e é uma das responsáveis pelo novo filme da franquia 007 -- tudo isso aos 33 anos de idade. Assim a atriz e escritora Phoebe Waller-Bridge se tornou um dos nomes mais promissores da TV e do cinema.
Formada na Academia Real de Arte Dramática de Londres em 2009, a britânica fez no mesmo ano sua estreia no teatro e na televisão, desenhando uma dinâmica que se arrastaria até 2016: ela escreveria para e atuaria nos palcos, enquanto, nas telinhas (e até nas telonas), abocanharia papéis menores em projetos que a quisessem, fortalecendo seu nome para um público maior que o teatral.
Phoebe acumulou créditos em papéis menores em sitcoms como Bad Education, e em filmes como Albert Nobbs e A Dama de Ferro. Em 2014, assinou os roteiros de três episódios da comédia televisiva Drifters, voltando sua experiência como dramaturga à televisão. Até que, dois anos depois, consolidou essa conversão com Crashing, adaptando duas peças também escritas por ela para a então mais nova série do Canal 4 da TV pública inglesa.
A comédia, sobre jovens de 20 e poucos anos que passam a morar no interior de um hospital desativado, durou só uma temporada. Ainda assim, escrita e protagonizada por Phoebe, a colocou na rota de grandes premiações, rendendo uma indicação a revelação em produção de roteiro, no BAFTA de 2016.
A consagração com Fleabag
Só que o projeto que serviria para lançá-la de vez ao estrelato fora dos palcos era desenvolvido em paralelo, junto à BBC. Escrita, protagonizada e produzida por Phoebe, Fleabag foi lançada no meio daquele mesmo ano e, logo, passou a ser considerada uma das mais inovadoras, envolventes e emocionalmente devastadoras séries de comédia dramática da TV mundial. No agregador de críticas Rotten Tomatoes, sua aprovação é de 100%.
Nascida de um monólogo teatral homônimo, escrito e lançado por Phoebe nos palcos britânicos em 2013, a série segue a vida de uma mulher adulta e independente em Londres, com um retrato cru e repleto de ironia de sua vida sexual, das relações familiares, das tensões da maturidade e das perdas que sofreu. Para preservar parte da linguagem do teatro, a quarta parede é sempre quebrada pela protagonista, transformando o espectador em testemunha, cúmplice e confidente de tudo que é vivido e pensado por ela. Tudo servindo a um método: fazer o espectador rir, rir e rir, para então chocá-lo com um momento marcante de dor.
"Eu realmente queria essa ideia de uma virada emocional no final de algo que parece irrefreavelmente engraçado, porque eu não acho que uma pessoa pode ser irrefreavelmente engraçada a não ser que esteja escondendo alguma forma de dor", explicou Phoebe ao Los Angeles Times, em 2017.
É pela segunda temporada de Fleabag, lançada no Brasil neste ano pela Amazon Prime Video, que Phoebe concorre ao Emmy 2019 nas categorias Série de Comédia e Atriz em Série de Comédia. É também por uma nova versão do monólogo que inspirou o programa que ela pode, hoje, afirmar que já brilhou também nos palcos da Broadway.
Star Wars e Killing Eve
Com o sucesso de Fleabag na televisão, as portas do cinema se abriram ainda mais para Phoebe, que foi dos papéis pequenos em filmes históricos e sisudos para dividir com Donald Glover o cockpit da Millenium Falcon, em Solo: Uma História Star Wars. Como a droide L3-37, a atriz emprestou muito de seu humor ácido para uma das melhores coisas de um filme fraco, fazendo valer seu momento sob os holofotes, mesmo em um barco (meio) furado. Enquanto isso, na TV, seu prestígio cresceu tanto que a BBC America levou adiante, em 2018, um projeto antigo: a hoje aclamada série de espionagem Killing Eve.
A história, protagonizada por Sandra Oh (Grey's Anatomy) e Jodie Comer (Doctor Foster), foca na obsessão que permeia o jogo de gata e rata entre uma agente da Inteligência Britânica e uma assassina psicótica. Phoebe assina o argumento e a chefia de roteiro da primeira temporada da série, que ganhou prêmios BAFTA, Globo de Ouro e Critic's Choice, entre outros. Mais uma vez, um sucesso: 94% de aprovação no Rotten Tomatoes -- e indicações ao Emmy 2019 de Série Dramática.
Uma mulher no comando de Bond
De quebra, o pulso firme e o ângulo psicológico e moderno dado à narrativa de espionagem na série chamou a atenção dos produtores de Bond 25, o novo filme (ainda sem título oficial) da mais longeva saga cinematográfica de Hollywood: 007. Phoebe foi encarregada de polir um roteiro prévio, mas acabou por assumir co-autoria ao lado de Scott Z. Burns (Contágio). É ela que, junto ao diretor Cary Fukunaga (True Detective), é apontada como uma das responsáveis pela possibilidade de termos uma mulher negra (a atriz Lashana Lynch) assumindo no filme o codinome icônico, no lugar de um James Bond aposentado.
A decisão, ainda a ser confirmada, indica horizontes revolucionários para uma franquia histórica que, é inegável, ficou marcada por tons chauvinistas e narrativas sexistas. Tudo sem comprometer aspectos realmente integrais à versão de Daniel Craig como o personagem: afinal, 007 sempre foi um título cambiável, e faz todo sentido que seja passado a outro agente da Inteligência Britânica quando Bond, ao final do último filme da franquia (Spectre) claramente pendurou a pistola.
"[O objetivo] é fazer as mulheres do filme parecerem pessoas reais, o que é o caso nos filmes anteriores. Eu acho que a versão de Daniel teve Bond Girls fantásticas, e queremos manter isso", afirmou Phoebe ao britânico Guardian, sobre sua participação no filme.
Passado o turbilhão que certamente se estenderá ao redor do filme, que marca a despedida de Craig do papel de espião mais famoso do cinema, Phoebe deve voltar sua atenção a uma nova série da HBO, intitulada Run. O conceito é simples: um homem e uma mulher que se conhecem há anos decidem abandonar suas vidas e partir numa fuga desenfreada juntos. À luz de tudo que essa mente brilhante tem feito, e da qualidade de lançamentos recentes do canal (como Euphoria, ou as duas temporadas de Barry), é fácil se empolgar.
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