Mágicos brasileiros explicam a dificuldade do truque de Houdini que matou indiano
Harry Houdini revolucionou a mágica nos séculos 19 e 20 ao realizar truques improváveis, entre eles a vez em que foi colocado com mãos e pés algemados dentro de um caixão, amarrado e preso a 90 kg de chumbo e jogado no East River, em Nova York.
Nesta semana, um mágico indiano tentou realizar uma façanha semelhante e acabou morrendo. A ideia era que o ilusionista Chanchal Lahiri conseguisse se soltar e nadar até a margem do rio Hooghly, no estado de Bengal do Oeste, na Índia.
Lahiri, também conhecido pelo nome artístico de Mandrake, foi jogado ao rio de um barco. Ele estava com braços e pernas amarrados por cordas e o corpo enrolado numa corrente.
"Este ato conta com duas dificuldades principais", analisa o mágico Ossamá Sato, em entrevista ao UOL. "Ele tem que saber escapar e ser rápido nisso, além de conseguir nadar para sair da água, o que é muito mais difícil. Quando se está na água, não tem truque."
"Muitas vezes, quando acontecem acidentes deste tipo, é porque houve uma certa negligência", aponta o ilusionista Issao Imamura. "A pessoa quis fazer algo para chamar a atenção, mas não se preocupou com certos detalhes, de fazer uma pesquisa ou chamar profissionais adequados".
"Ainda mais quando entra em jogo elementos da natureza, no caso, o rio, que potencializa mais ainda o perigo", completa. "Se ele estivesse em uma área controlada, teria mais segurança da situação."
Para ambos, não existe sorte no ilusionismo ou o famoso "risco calculado". Isso não faz mais sentido dentro da mágica atual. "O que temos que fazer é criar uma dramatização, um elemento teatral para o efeito ficar mais emocionante. Mas não se deve correr nenhum risco de vida para fazer um número como este", salienta Issao.
Treinamento
Para realizar truques semelhantes aos criados por Houdini é preciso, antes de tudo, muito treino. Segundo os especialistas, poucos mágicos treinam escapismo por ser uma área arriscada e alguns demoram até anos para se aperfeiçoar em um número.
"Tem gente que, por exemplo, demora três ou quatro minutos [para fazer o ato] e não tem graça. O bom é o que demora pouco -- fazer o público pensar que você não vai conseguir escapar e que pode acontecer algo muito ruim".
"Quando se mexe com um truque que tem risco de vida, a gente tem que colocar pelo menos 40 dias [de treinamento]", diz Issao. "Em muitos casos, o vilão é a falta de verba para os ensaios. Um artista com menos recursos tem uma dificuldade maior e é obrigado a encurtar os ensaios para capitalizar mais rápido."
Outro quesito que é levado em conta também neste caso é a própria mágica, que jamais será revelada por um profissional que se preze. "A gente tem o dom do escapismo, a técnica de escapar, mas também existe o fator técnica da mágica, que você está visualizando uma coisa e acontece outra", conta Ossamá.
Truques (muito) arriscados
Ossamá já fez um truque semelhante ao de Houdini, mas fora da água. Em participação no programa do apresentador Gilberto Barros, ele usou uma camisa de força dentro de uma caixa fechada e foi içado por um helicóptero.
"Se eu não escapasse, a caixa cairia dentro de uma piscina. E claro que eu tenho que ser ágil, e tentar escapar de alguma forma, só que essa caixa cai na piscina e eu apareço no helicóptero", lembra o mágico, apontando que no mundo da magia "não pode existir erros".
Já Issao sentiu um frio na barriga ao bolar uma apresentação em que uma caixa levantada a 50 metros cairia em sua cabeça. Junto com a apresentadora Glória Maria, para o Fantástico, ele foi içado até a plataforma e se assustou quando viu a altura.
"Eu pensei, 'meu Deus, o que eu estou fazendo aqui em cima?'. É uma coisa que a gente não faz ideia, quer impressionar e não vê qual o limite disso. Deu tudo certo no final, mas nos fez pensar duas vezes antes de criar alguma coisa", admite.
Houdini
Houdini é o mágico mais famoso da história, isso não há dúvidas. Seus truques foram divulgados pelo mundo, e ele também ficou conhecido por ser "marketeiro". "Na época, ele era muito bom, porque ninguém fazia o que ele fazia. E claro que teve muito marketing envolvido. Ele era muito inteligente, porque chamava os órgãos de imprensa, os jornais, fazia tudo em praça pública, no rio", conta Ossamá.
"Tem até um estudo que mostra que ele foi o primeiro artista pop da história. Não foi um cantor ou uma banda [a conseguir este feito]. Foi um mágico", lembra Issao, que discorre também da importância do ilusionista dentro do contexto social do final do século 19 e início do 20.
"Estudiosos dizem que Houdini, em um contexto de revolução industrial e de opressão, era considerado como o homem que pregava a liberdade. Ele podia ficar preso em uma camisa de força e conseguia escapar. Estava em uma jaula e escapava desta jaula."
"Se for analisar bem, escapar de uma camisa de força não é algo extraordinário, mas foi simbólico, porque virou uma representação na mente da população que o assistia. Por isso ele virou um mito e até hoje é o mágico mais icônico da história".
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