Ex-promotora que acusou jovens de estupro pode perder emprego após série de TV
Na última sexta-feira (31) a Netflix estreou a série "Olhos que Condenam", dirigida por Ava DuVernay, que aborda a prisão injusta de cinco adolescentes americanos que foram julgados culpados por estupro de uma mulher no Central Park, em 1989.
Uma das figuras centrais da série é a ex-promotora Linda Fairstein (interpretada na série pela atriz Felicity Huffman), apontada no programa como uma das vilãs da história. Ela foi implacável em apontar a culpa dos cinco adolescentes. Até hoje, ela nega a assumir os erros na investigação que levaram os jovens a serem condenados.
De acordo com uma reportagem do site TMZ, após a exibição da série, a ex-promotora está sendo pressionada a pedir demissão da organização sem fins lucrativos "Safe Horizon" na qual ela trabalha há mais de 20 anos ajudando vítimas de abusos e crimes violentos.
Na época do crime, Linda era chefe da unidade de crimes sexuais de Manhattan e não teria agido corretamente ao investigar quem era o real culpado pelo estupro da mulher no Central Park, coagindo os jovens para que eles confessassem o ato.
Quase 30 anos depois, os "Cinco do Central Park", como eles ficaram conhecidos, foram inocentados de todas as acusações após o verdadeiro culpado assumir o crime.
De acordo com a reportagem do TMZ, os funcionários da ONG estão indignados com a permanência de Linda na entidade e querem a sua demissão. O CEO da ONG disse que vai avaliar o caso, mas o conselho disse que se o CEO não tomar uma decisão rápida, eles irão atuar para que ela seja demitida de qualquer jeito.
Raymond Santana, um dos jovens condenados injustamente, disse que a ex-promotora finalmente está conseguindo o que merece. "Mesmo que seja 30 anos depois", disse.
A série de TV
A série "Olhos que Condenam", em cartaz na Netflix, é dividida em quatro episódios com duração de 1h a 1h30 e retrata como a polícia de Nova York obrigou os menores de idade Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymon Santana, Antron McCray e Korey Wise a confessarem o crime. Posteriormente, essa falsa confissão foi usada como prova de que eles teriam cometido o crime bárbaro, embora exames de DNA, roupas ou outras provas físicas indicassem o contrário.
Condenados, eles ficaram presos entre 5 a 12 anos em reformatórios (um deles, que já tinha 16 anos na época, foi enviado para um presídio de adultos) até que o verdadeiro culpado confessasse e eles fossem absolvidos. Testes posteriores de DNA confirmaram que o autor do crime era mesmo Matías Reyes, que já cumpria prisão perpétua desde 1989 por outros crimes, inclusive estupros.
Quase 30 anos depois do crime, o atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, concordou em pagar uma indenização de mais de US$ 40 milhões aos rapazes. O processo movido pelos cinco acusava a polícia, os promotores e outras autoridades de racismo. O prefeito anterior, Michael Bloomberg, não tinha aceitado pagar a indenização.
Após as acusações, a vida dos cinco jovens e de suas famílias foram destruídas. Quem mais atacou publicamente os garotos foi o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que publicou em 1989 um anúncio de página inteira no jornal "The New York Times" pedindo a volta da pena de morte no estado para punir os garotos.
Vale lembrar que, naquela época, Trump era apenas um excêntrico magnata e não o homem mais poderoso do mundo. O detalhe não passa despercebido por Ava DuVernay. Embora eles tenham sido inocentados anos depois, fica claro na série que a eleição de Trump demonstra que muitas coisas ainda precisam mudar no país.
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