"Border": um filme de terror que vai além da cena de sexo entre trolls
"Border" não é um filme fácil de digerir: é grotesco, toca em assuntos delicados, trata o sexo como uma relação animalesca e fala sobre o amor. Ao mesmo tempo, a produção sueca de terror consegue se destacar com uma trama criativa e que dá medo sem recorrer a clichês do gênero -- um dos pontos mais difíceis no cinema atual.
Dirigido por Ali Abbasi, a produção que chega aos cinemas brasileiros amanhã conta a história de uma policial que tem um faro apurado (literalmente) para descobrir possíveis ameaças que entram no país europeu.
Tina (Eva Melander) é uma mulher na casa dos 30 anos que sofre preconceito pela sua aparência exótica, culpa de um cromossomo adicional. Pessoas viram se escondem dela no supermercado e seu lugar de tranquilidade é na floresta que envolve sua casa.
O seu dom -- que ela não sabe como conseguiu -- é muito útil para as autoridades e seus colegas de trabalho, apesar de sentirem repugnância dela, confiam quando ela sente que algo está errado. O único erro de Tina é quando ela conhece o misterioso Vore (Eero Milonoff), a primeira pessoa pela qual a protagonista se identifica fisicamente.
Tina sabe que algo está errado com ele, mas mesmo com a revista não consegue encontrar nada para incriminá-lo. Ao mesmo tempo, ela o observa como um igual, alguém que pode explicar por que eles nasceram daquele jeito, praticamente dois trolls no meio de humanos.
Maquiagem
Os atores Eero e Eva aparecem em todo momento com uma forte maquiagem, que levou o filme a ser indicado na categoria do Oscar 2019. Para dar um tom mais animalesco, Göran Lundström e Pamela Goldammer, responsáveis pela maquiagem, moldaram uma espécie de máscara que deixa a testa sobressalente e o queixo largo.
O que também chama a atenção é nariz largo, os olhos fundos e os dentes mais curtos do que os dos humanos, dando mais espaço para a gengiva. Os traços grosseiros de imediato lembram uma figura bestial do folclores europeu, como os trolls.
Por conta do cromossomo a mais, Tina considerado seu corpo "deformado" e ela se incomoda com uma cicatriz na região do cóccix que, como explica seu pai, foi resultado de um tombo que ela levou quando pequena. A construção do visual da protagonista é o destaque do filme, porque, além de deixar a dúvida na cabeça do público a todo momento, é ao mesmo tempo assustador e um motivo para ter compaixão pela personagem.
Relacionamentos
O trailer entrega que Tina e Vore passam a ter um relacionamento. O diretor Ali Abbasi usa o roteiro de John Ajvide Lindqvist ("Deixe Ela Entrar") com maestria por mostrar de forma bela como duas aberrações naturais podem (e devem) se amar.
As cenas de sexo entre eles são calcadas por urros guturais, violência física e surpresas. Tina nunca teve contato físico com ninguém, apesar de morar com Roland, que está com ela apenas pelo dinheiro. Ela encontra em Vore um parceiro que a elogia e não acaba julgado suas "imperfeições".
A ideia de que ambos são animais é provada quando eles transam na floresta. Não há qualquer relação humana, apenas dois seres no cio que usam o sexo como uma natureza de suas raças. O belo e o profano se misturam na história, que releva a presença um Deus para mostrar que a essência carnal não é para ser divisível.
Temas delicados
Pelo seu trabalho em detectar possíveis ameaças, Tina é convidada por investigadores a resolver um caso truncado, em que um casal é suspeito de cometer crimes contra crianças. O filme poupa o espectador da violência física, mas o clima pesado que envolve o enredo só é mais leve quando a protagonista está com seu amado.
"Border" é uma crítica aos costumes da sociedade, ao preconceito presente em qualquer esquina. Ao mesmo tempo, há uma lufada de esperança em uma raça que não aceita o diferente. O diálogo entre o que é considerado belo e feio faz com que o projeto ganhe relevância como um filme de terror psicológico que não quer se encaixar em nenhuma categoria.
Mesmo se passando em um país tão distante, com um clima completamente diferente do nosso e uma cultura que em nada lembra o Brasil, o filme foi feito para chocar não pela natureza animal, mas pela indiferença do ser humano.
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