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Após "Bolso Nada", Francisco El Hombre fala para além da "bolha" em novo álbum

Andrei Kozyreff, Mateo Piracés, Sebastian Piracés, Juliana Strassacapa e Rafael Gomes (da esq. para dir.) - Divulgação
Andrei Kozyreff, Mateo Piracés, Sebastian Piracés, Juliana Strassacapa e Rafael Gomes (da esq. para dir.) Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

27/03/2019 04h00

A banda Francisco El Hombre fez barulho com seu primeiro disco, "Soltasbruxa", não só pelo som contagiante, mas por suas mensagens diretas em músicas como "Triste, Louca ou Má", que virou hino feminista e foi parar em novela da Globo, e "Bolso Nada", que ironizava Jair Bolsonaro bem antes de sua eleição à presidência. Na última semana, o grupo lançou seu segundo álbum, "Rasgacabeza", que segue com a energia em alta, mas que busca dialogar com um novo público.

O primeiro disco trouxe uma identificação forte com o público, principalmente com "Triste, Louca ou Má", que tocou na trilha sonora da novela "O Outro Lado do Paraíso". "Saber que o que a gente fala não é só nosso, mas que faz parte da vida das outras pessoas, é muito legal. Não é só um desabafo, é importante compartilhar esses sentimentos e foi muito bom ver tanta gente que sente o que a gente sente", diz o baixista Rafael Gomes. A faixa versa: "Um homem não te define / Sua casa não te define / Sua carne não te define / Você é seu próprio lar".

Se, por um lado, houve a identificação com a causa feminista, por outro houve ataques por conta de "Bolso Nada", em que a mensagem é forte. "Esse cara escroto", chega a dizer a letra. Rafael conta que no ano passado, o perfil do grupo no Youtube foi alvo de bots - softwares que simulam ações humanas repetidas vezes, como robôs.

"No meio do processo eleitoral começou a rolar de um monte de bots aparecerem no canal do Youtube, interagindo negativamente. Depois de uma semana, um dos vídeos foi de 1.600 para 13 mil dislikes. O Youtube acabou identificando que eram bots e a contagem voltou para como estava antes", relata o baixista, sobre o ataque mais direto sofrido por eles.

No novo álbum, a abordagem é diferente. A ideia é não ser excludente. "Seguimos tendo um tom político. É importante podermos identificar quem está com a gente, mas não queremos ficar na bolha. Falamos agora dos sentimentos, para criar identificação com quem quer dialogar".

Inspiração no kuduro

O Francisco El Hombre foi formado por dois mexicanos, Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte, que se mudaram para o Brasil em meados dos anos 2000. As influências latinas seguem presentes, com novidades.

"Rasgacabeza" chegou ao resultado final após um período longo de produção. Foi preciso um ano para acertar a sonoridade que a banda queria apresentar, o que Gomes considera, de certa forma, uma "ruptura".

"Fomos construindo por um aspecto mais voltado para o eletrônico. Criamos muito mais no estúdio, iam rolando as ideiam e já mostrávamos. A gente quis achar uma textura que mostrasse nossas influências, como o kuduro, [a banda] Mano Negra, inclusive na forma como trabalhamos o eletrônico e o acústico", analisa.

Além de programar uma turnê para lançar o álbum passando por cidades como São Paulo, Curitiba e Rio, a banda embarcou para tocar em Cuba e tem quatro datas no México para promover "Rasgacabeza".