Bruno Gagliasso chora ao falar de personagem torturador racista em "Marighella"
Bruno Ghetti
Colaboração para o UOL, em Berlim
15/02/2019 12h53
Bruno Gagliasso não segurou as lágrimas na tarde de hoje, no Festival de Berlim. O ator, que está na capital alemã para divulgar o filme "Marighella", de Wagner Moura --que participa (sem disputar prêmios) da seleção do Festival de Berlim--, se emocionou ao falar do próprio personagem em conversa com os jornalistas.
No filme, Gagliasso interpreta o (fictício) delegado Lúcio, baseado em diversos agentes da repressão contra a luta armada, nos tempos da ditadura militar --a inspiração primária, no entanto, foi o agente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) Sérgio Paranhos Fleury.
Lúcio tortura, mata e agride pessoas subversivas ou apenas suspeitas de se oporem ao governo militar. Tem peculiar aversão a pobres e negros, agindo com estes de forma truculenta e dizendo vários insultos racistas.
Pai de Titi
Ao comentar a composição de seu personagem, o ator chorou diante da imprensa mundial. "Não sei se vocês sabem, mas tenho uma filha negra", disse, referindo-se a Titi, que adotou no Malauí com a mulher Giovanna Ewbank. "Eu sei da importância desse filme para a minha filha no futuro", disse, chorando.
"Com esse filme, fui a um lugar onde nunca imaginei ir. Wagner [Moura] é ainda melhor diretor do que ator. Esse filme é forte, visceral, potente, mas movido por amor. Isso ninguém pode esquecer", concluiu.
O longa conta a história do guerrilheiro de esquerda Carlos Marighella, líder da luta armada no Brasil, que foi morto em 1969 por órgãos da repressão. "Marighella" estreou ontem em Berlim sob aplausos dos jornalistas. No fim da tarde de hoje, haverá a sessão oficial de gala.