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Série de Marie Kondo na Netflix prova que arrumar a casa pode virar terapia

A guru japonesa da organização Marie Kondo em cena da série "Ordem na Casa com Marie Kondo" - Denise Crew/Netflix
A guru japonesa da organização Marie Kondo em cena da série "Ordem na Casa com Marie Kondo" Imagem: Denise Crew/Netflix

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

07/01/2019 04h00

Arrumar a casa pode ser divertido e até terapêutico. Marie Kondo prova isso ao levar sua mágica da arrumação definitiva para o streaming, com "Ordem na Casa com Marie Kondo". A série da Netflix estreou em uma data conveniente, 1º de janeiro, quando as promessas de Ano Novo precisam entrar em prática.

Autora de dois livros sobre seu sistema de arrumação único, a japonesa de 33 anos já vendeu mais de 5 milhões de cópias dos guias pelo mundo. Na série, as dicas compartilhadas em "A Mágica da Arrumação" e ilustradas em "Isso Me Traz Alegria" são colocadas em prática em casas de famílias da Califórnia, nos Estados Unidos, que recebem a disputada consultoria de Marie Kondo.

A companhia de uma tradutora pode até quebrar um pouco o ritmo da série, já que a consultora se mudou há pouco tempo do Japão para os Estados Unidos e ainda não domina o idioma. Mas tanto a especialista em organização como as famílias ganham uma assistência extra com a presença da intérprete ao longo dos oito episódios com duração de 35 a 47 minutos.

Marie Kondo e IIDa - Denise Crew/Netflix - Denise Crew/Netflix
Da esq. para a dir.: Marie Kondo, a tradutora Marie IIda e o casal de idosos auxiliado na série
Imagem: Denise Crew/Netflix

Isso me traz alegria?

Quase todos os episódios de "Ordem na Casa" trazem moradores surpresos quando Marie Kondo pede delicadamente para cumprimentar o espaço deles antes de iniciar a arrumação. As cenas com a guru ajoelhada no chão rendem alguns momentos cômicos, mas sempre carregados de bastante emoção, já que ali o processo de terapia que está por trás da arrumação definitiva é despertado. É só o começo da transformação não só estética como pessoal.

A principal regra do método KonMari - como foi batizada a técnica de arrumação da japonesa - é descartar todos os objetos que não te trazem alegria. E o maior desafio da consultora é justamente explicar aos seus clientes como identificar aquilo que desperta essa sensação. Marie Kondo estimula os bagunceiros a tocar seus itens um a um, gerando uma conexão sentimental que vai além de outros métodos mais tradicionais.

"Estou empolgadíssima que você trouxe sua mágica para a minha casa", diz uma das personagens. "A mágica não é minha, ela é sua", devolve a guru, deixando claro que a mudança depende totalmente do empenho dos próprios moradores da casa. A presença quase angelical de Marie Kondo acontece apenas no primeiro dia e em visitas semanais para supervisionar e dar dicas de arrumação após o descarte.

A estrela de "Ordem na Casa" ajuda um casal com dois filhos pequenos, outro casal de idosos acumuladores, uma família que teve que se adaptar no espaço reduzido de um apartamento, uma viúva que precisa achar um destino para os pertences do marido, escritores que não conseguem se desapegar de papéis, entre outro casos curiosos. 

Ao final, os desfechos de cada história são quase tão envolventes como as regras de arrumação e nos ajudam a entender que qualquer casa - até aquelas que parecem arrumadas - precisam mesmo de organização.

Marie Kondo garagem - Denise Crew/Netflix - Denise Crew/Netflix
Marie Kondo avalia garagem após ajudar casal de acumuladores em cena da série da Netflix
Imagem: Denise Crew/Netflix

Tapinhas nos livros e gratidão

Nas oito famílias visitadas na primeira temporada, quase todas levaram mais de um mês para concluir a arrumação, que é dividida por categorias, e não por cômodos - como acontece em métodos mais tradicionais. Comandado pelos próprios moradores, e não por profissionais, o processo é lento e cuidadoso.

Para que o método KonMari funcione, tudo deve ser tocado. A japonesa sugere, por exemplo, que os livros guardados há muito tempo na estante ganhem tapinhas para "acordar". É importante também demonstrar gratidão antes de descartar uma roupa ou objeto por ele ter te servido ou ensinado algo.

Apesar de deixar bem claro no início de cada um dos episódios os cinco pilares que devem ser seguidos na ordem para descarte e organização - roupas, livros, papelada, itens diversos (komono) e itens de valor sentimental - nem todas as fases são mostradas em cada uma os episódios.

A série faz um bom serviço ao pinçar algumas das dicas mais valiosas de acordo com a história de cada um dos personagens e serve para despertar o desejo de organizar. Mas, se a sua vontade for aplicar o mesmo método em casa, o ideal é ler com atenção o livro. 

Ainda assim vale muito a pena assistir à "Ordem na Casa com Marie Kondo". Algumas dicas valiosas dos livros - como guardar meias dobradas em vez de transformá-las em bolas e armazenar as roupas guardadas na vertical - estão espalhadas entre seus episódios. A regra de juntar tudo de uma categoria em um só lugar antes de começar o descarte também surpreende e serve como impacto para despertar a mudança.

"Você vê esse objeto como parte da vida que almeja para o futuro?", questiona a japonesa. Com base em sua extensa experiência com os mais variados perfis, ela sempre encontra bons argumentos para que um objeto vá embora. A mágica, porém, também está na delicadeza de nunca forçar que alguém faça isso se não se sentir preparado.