Ex-sócio de Stan Lee se envolveu com crime e foi extraditado do Brasil
Adorado por milhares de fãs e quadrinistas no Brasil, Stan Lee tem uma relação um tanto quanto tumultuada com nosso país. Envolve acusação de fraude, relações escusas com políticos, prisão e até extradição judicial.
Em 1998, Stan Lee lançou com o ex-advogado e empresário Peter Franklin Paul a empresa Stan Lee Media, cuja missão era divulgar animações e produtos de novos personagens do artista, então interessado na era digital.
Dois anos depois, Paul se aproximou de Aaron Tonken, organizador de eventos para campanha do Partido Democrata dos EUA, e prometeu doar US$ 15 milhões para ajudar a financiar a campanha de Hillary Clinton ao Senado, em 2000. Em contrapartida, seu marido e então presidente, Bill Clinton, ganharia uma vaga no conselho da Stan Lee Media.
O advogado bancou festas milionárias do partido, que contaram com presenças de nomes estelares como Diana Ross, Toni Braxton e Michael Bolton. Os empréstimos eram feitos por Paul na corretora Merrill Lynch, e as ações da Stan Lee Media serviriam como garantia no negócio.
O problema é que, após um início promissor, quando chegou a contar com mais de 150 funcionários e a ganhar as páginas de revistas especializadas, a empresa surpreendeu a todos declarando falência em 2001. A quebra foi atribuída a Paul e ao vice-presidente-executivo da companhia, Stephen Gordon.
Eles foram acusados de manipular os preços das ações da companhia, o que causou prejuízos de US$ 25 milhões a investidores. No esquema, eles teriam contratado um analista de investimentos para tecer comentários favoráveis a Stan Lee, para inflar artificialmente o preço dos papéis no mercado.
A Stan Lee Media foi duramente prejudicada com o esquema, já que tinha as ações como garantia. Paul e Gordon também foram acusados pela Merrill Lynch, pelo US Bank e pela própria Stan Lee Media de provocar perdas de US$ 3 milhões. Em entrevistas, o quadrinista sempre salientou que nunca soube de nada.
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"Eu não entendo muito bem. Nossa empresa entrou em falência, mas eu nunca me envolvi na parte financeira. Deixei tudo na mão do Peter. Foi uma situação muito deprimente. Isso me custou muito dinheiro, porque a empresa teve que arcar com as dívidas", disse Lee na época. Com a forte chegada da Marvel ao cinema nos anos 2000, com bilheterias milionárias, Lee pôde reequilibrar ?e muito bem? suas finanças.
"Sendo o presidente da Stan Lee Media, eu tive que ser responsabilizado pelo que aconteceu Tive que pagar a dívida do meu bolso. Isso me deixou quebrado e, ao mesmo tempo, partiu meu coração, porque eu considerava Paul meu melhor amigo. Eu pretendia até nomeá-lo como responsável pelo meu espólio."
Treta federal
Mas o que tudo isso tem a ver com o Brasil? Logo que rompeu com os democratas e o governo norte-americano, o que deu início a um longo embate judicial, Paul afirmou estar sendo perseguido politicamente e, por isso, decidiu buscar refúgio no Brasil.
Ele mantinha negócios no país desde 1997, quando criou, junto de um sócio argentino, uma empresa de ensino de inglês por meio de fita cassete e CD-ROM, a 112 Interactive, e desde então mantinha o hábito de visitar o Brasil e curtir o litoral sul da Bahia.
No dia 3 de agosto de 2001, Paul foi preso pela Polícia Federal em São Paulo em um hotel de luxo na região dos Jardins, zona oeste da capital. Transferido em dezembro daquele ano para Brasília, ficou detido na Superintendência no Complexo da Papuda, onde tornou-se amigo do libanês Assad Barakat, preso após ser apontado como financiador de grupo terrorista.
Alvo de um processo de extradição, o advogado ficou dois anos preso até que, em setembro de 2003, foi levado para o presídio Metropolitano de Brooklyn, em Nova York. No julgamento nos Estados Unidos, ele, que já tinha antecedentes, declarou-se culpado das acusações de fraude na Bolsa de Valores. O governo americano caracterizou sua conduta como causadora de "perdas para investidores e instituições financeiras na ordem de US$ 25 milhões".
Peter Franklin Paul passou quatro anos sob prisão domiciliar, usando tornozeleira eletrônica. Foi condenado em 2009 a dez anos de prisão e a pagar multa de US$ 11 milhões. Ele tentou sem sucesso anular a sentença e permaneceu detido em Anthony, no Texas, até dezembro de 2014. Desde então, cumpre liberdade condicional.
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