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Como Facebook e Twitter ajudaram Andrea Bocelli a desbancar rappers e popstars

Brian Rasic/Getty Images
Imagem: Brian Rasic/Getty Images

Osmar Portilho

Do UOL, em São Paulo

08/11/2018 04h00

Andrea Bocelli é um velho conhecido dos brasileiros e um tenor de fama internacional. Embora sua carreira seja impressionante por si só, nesta semana atingiu um novo patamar. Seu álbum "Si" vendeu 126 mil cópias nos Estados Unidos em apenas sete dias. O número é superior a qualquer outro lançamento do italiano de 60 anos na última década e muito se deve às redes sociais.

"Si" encabeça uma lista onde estão álbuns como a trilha sonora de "Nasce Uma Estrela", de Lady Gaga e Bradley Cooper, "Tha Carter V", de Lil Wayne, e "Scorpion", de Drake. A presença de um título clássico de um tenor italiano no topo deste ranking com artistas pop e rappers é inusitada, para não dizer bizarra.

Mas não para Graham Parker, presidente da Universal Music Classics dos EUA. Para ele, o sucesso de Bocelli é uma prova de que as pessoas têm uma ideia errada do tipo de público da música clássica. "Eles acham que é gente que vai só em teatros com orquestras. Eles são parte da audiência, mas é um público muito mais variado e um pouco mais jovem do que acham", disse ao site da revista "Rolling Stone" americana.

De olho nisso e em busca de números mais expressivos do que o álbum antecessor do italiano, "Cinema" (2015), que vendeu 30 mil unidades nos primeiros sete dias de estreia, sua gravadora foi atrás da tecnologia e de um nome forte para a produção: Bob Ezrin, famoso por ter trabalhado com Pink Floyd e Alice Cooper.

Isso é muito "Black Mirror", meu

Além da experiência de Ezrin, Bocelli teve a ajuda da tecnologia para dar um tiro certeiro em "Si".

"Em vez de somente dar palpites, nós temos ferramentas de análise que conseguem agregar posts do Facebook e Twitter para vermos dados como: quais são os 20 tópicos que os fãs do Andrea mais gostam?", explicou Danny Bennett, presidente do selo Verve, parte do conglomerado da Universal.

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Fazer esse tipo de análise para entregar o que o público quer parece um pouco como enredo de um episódio futurista de "Black Mirror". "É um pouco assustador, mas não somos a CIA", admite o presidente da gravadora, garantindo que este tipo de informação está "nas mãos certas". "Nós podemos estudar e entender nossa audiência. O que eles querem? Melodias bonitas cantadas em italiano e duetos profundos".

Andrea Bocelli se apresenta no Allianz Parque, em São Paulo - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Turnê mais recente de Andrea Bocelli passou pelo Brasil; na foto, seu show no Allianz Parque, em São Paulo
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Com este tipo de informação, toda a equipe começou a trabalhar com esses dados para a criação de "Si", inclusive Ezrin.

"Nós levantamos um material para que ele pudesse criar um arco dramático bem amplo. Ele pôde partir de um ponto extremamente intimista a outro masculino e poderoso", disse o produtor.

Como produtor, a discografia de Bob Ezrin é ampla e dinâmica. O canadense foi responsável por clássicos do rock como "The Wall" (1979), do Pink Floyd, e "Destroyer" (1976), do Kiss, até nomes mais recentes, como "Saturday Night Wrist" (2006), do Deftones. Em "Si", recebeu como missão construir um álbum contemporâneo, mas fundações em música clássica. "É uma orquestra, mas usamos programações e instrumentos rítmicos. Não é algo que 'salta' em você, nunca quisemos isso. Quando você ouve o disco, você não pensa que está ouvindo algo com 200 anos de idade".

Bob Ezrin, produtor que trabalhou Andrea Bocelli em "Si" - Rick Diamond/Getty Images - Rick Diamond/Getty Images
Bob Ezrin, produtor que trabalhou Andrea Bocelli em "Si"
Imagem: Rick Diamond/Getty Images

Para o presidente da Universal, a parceria entre Ezrin e Bocelli mostrou que uma fluência que não estava nítida no disco antecessor. "Ficou muito claro quando vi o tempo que os dois passaram juntos. Isso nutriu uma oportunidade deles encontrarem um novo som".

Com ajuda da tecnologia das redes sociais, marketing e a parceria Bocelli/Ezrin, "Si" levou o italiano de volta aos Estados Unidos como um produto valioso. "Se esta é a primeira vez de alguém comprando um disco clássico, eu fico empolgado", afirmou Parker.

"Se as pessoas conhecerem outros álbuns por causa de 'Si' também. Isso é música clássica e nós devemos abraçá-la. Fico muito empolgado que conseguimos chegar ao número 1".