Roger Waters chama Bolsonaro de neofascista e cria "guerra fria" em show em SP
Abrindo a turnê "Us + Them" no Brasil, Roger Waters trouxe a São Paulo, na noite desta terça (9), o espetáculo mais politizado do rock. Cores, luzes, psicodelia e um telão de quase mil metros quadrados deram o recado do inglês no Allianz Parque: a população do mundo está farta de governantes autoritários, da intolerância e das grandes corporações que cerceiam a liberdade dos povos. E esse bolo incluiu Jair Bolsonaro.
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Após a música "Eclipse", Waters exibiu no telão a hashtag #EleNão, o que provocou uma onda de vaias e xingamentos. "Vai tomar no c*", "Filha da p*", "babaca", entre outras delicadezas rapidamente ganharam a companhia de gritos em apoio. O momento durou cerca de cinco minutos, causando nítido constrangimento no ex-Pink Floyd, que voltaria a exibir a mensagem contra Bolsonaro durante "Mother". As vaias voltaram ainda mais fortes.
Por alguns momentos, Roger Waters precisou paralisar o show por causa da gritaria vinda da pista e arquibancadas. "Sou contra o ressurgimento do fascismo. E acredito nos direitos humanos. Prefiro estar num lugar em que o líder não acredita que a ditadura é uma coisa boa. Lembro das ditaduras da América do sul e foi feio", disse Waters, atônito após ser pego de surpresa. No discurso, ele chegou a afirmar que já esperava a reação passional por estar em um país como o Brasil.
Mas como foi o show?
Com um impressionante espetáculo audiovisual, Roger Waters fez o público viajar pelo mundo, do Oriente Médio a Londres, passando pela lua e diversas alegorias sonoras. Tudo isso foi maximizado pela colossal tela de LED de alta definição, que exibiu vídeos e animações exclusivas durante todas as músicas. Uma espécie de guia para a viagem de clássicos do Pink Floyd.
Não é o Pink Floyd no palco, falta algo, mas vemos a reprodução mais fiel do que seria um show do grupo em 2018. Sem David Gilmour, entram em cena os guitarristas Jonathan Wilson (fisicamente parecido com ex-colega de Roger Waters) e Dave Kilminster. Eles desempenham o ofício em dose dupla, assim como as duas backing vocals, que harmonizam em "The Great Gig in the Sky" com perucas brancas e competência exemplar. Dificilmente haveria melhor banda "cover".
O espetáculo é dividido em dois grandes atos, intercalados por músicas de álbuns como "The Dark Side of the Moon", "Animals" e "The Wall". Apesar de, na teoria, a estrela do show ser o segundo, o set-list é engrossado principalmente por faixas de "Dark Side", um dos discos mais vendidos da história. Apenas duas faixas dele deixaram de ser executadas.
O saudosismo fala alto, mas Roger Waters é sagaz ao escolher repertório, incluindo três músicas do novo álbum "Is This the Life We Really Want": "Déjà Vu", "The Last Refugee" e "Picture That". "Time", "Wish You Were Here", "Another Brick in the Wall" causaram deslumbre, a última com participação de 12 crianças carentes do centro Nossa Senhora do Carmo, de São Paulo.
Guerra Fria
Antes de demonstrar constrangimento com as vaias, Waters promoveu ainda uma grande "Guerra Fria" na plateia durante o intervalo do show. Exibindo mensagens no telão, ele alvejou figuras como Mark Zuckerberg, Benjamin Netanyahu e forças políticas como os militares, a polícia e a união "nada sagrada" entre religião e estado. Foi quando os primeiros gritos de "Ele não" começaram a sair das arquibancadas, imediatamente respondidos por sonoros "Fora, PT" na pista premium.
Em seguida, denunciando a onda extremista no mundo, o cantor elencou políticos classificados como neofascistas, entre eles Donald Trump, Marine Le Pen e Jair Bolsonaro. O público reagiu ruidosamente em apoio e repulsa. Foi só o aquecimento para o que estava por vir.
O voo do "porco Trump"
Mais adiante, Waters emendou naquele que é o mais impressionante momento de seu novo show. Antes de "Dogs", a usina termelétrica Battersea, que aparece na capa do álbum "Animals", emergiu até ocupar todo o telão, com direito a quatro chaminés cenográficas que criam a ilusão de estarmos realmente diante de uma fábrica.
Na sequência, em "Pigs", um banquete alegórico é servido no palco para os músicos, que vestem máscara de porco encenando um jantar de poderosos. Donald Trump ganhou batom e corpo suíno no telão, pouco antes do porco inflável começar seu voo sobre a plateia com mensagens de protesto. Em defesa do feminismo, dos refugiados e do meio ambiente, uma garrafal frase em português deu a letra: "Trump é um porco".
Entre algumas vaias, a arena veio abaixo em delírio, aqui com certa concordância. O show prosseguiu com clima estranho em "Money", "Us and Them" e "Comfortably Numb", que encerrou de forma apoteótica a apresentação, provavelmente a mais espetacular e constrangedora do ano.
Depois de tudo isso, Roger Waters, que já acenou para o fim das grandes turnês mundiais, voltará ao país? Difícil dizer. Musicalmente, ao menos, ele continua irretocável ao vivo, apenas para eleitores de certo candidato líder de pesquisas botar defeito. Faz parte do jogo.
Reação no Twitter
No Twitter, como no show, houve reações mistas, desde gente agradecendo pela mensagem de Roger Waters, a posts chamando o inglês de comunista e até destilando preconceitos abertamente. Veja alguns:
*Colaborou Marcelo Freire
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