Nascida para vender bonecas, She-Ra é colocada em polêmica vazia em 2018
Mais uma animação dos anos 80 que está prestes a ganhar um remake se depara com críticas na internet. A exemplo de "ThunderCats Roar", um reboot de "ThunderCats" anunciado pela Warner em maio, "She-Ra e as Princesas do Poder", anunciada pela Netflix, recebeu uma série de reações negativas nas redes sociais. O reboot, feito 33 anos após a aparição original, acredite ou não, gerou uma onda de ataques, principalmente sobre o visual da heroína.
Ainda em maio, o colunista do UOL Roberto Sadovski rebateu os ataques feitos aos felinos humanoides em seu post "Thundercats dá um aviso: nerds velhos não são donos da cultura pop!". O caso é parecido, mas a nova She-Ra envolve questões mais importantes ligadas ao fim da objetificação das mulheres e também ao apropriamento exagerado de personagens com mais de trinta anos de idade. É nítido que o reboot não tem como público-alvo homens com mais de quarenta anos que supostamente assistiram ao desenho original. Então, por que a revolta?
A nova She-Ra, que agora é uma órfã, segundo sinopse da Netflix, trocou sua armadura decotada com seios protuberantes por uma aparência juvenil. Boa parte das críticas, como bem aponta um artigo publicado pelo site Comic Book, veio por parte de homens adultos que criticaram sua androginia e "falta de curvas". Mas não é um desenho para crianças?
A quem interessava She-Ra?
Enquanto hoje vemos o nascimento de personagens cada vez mais representativos - incluindo a primeira super-heroína transgênero da TV -, os anos 80 eram bem diferentes.
Você pode até pensar que She-Ra poderia ser um ícone do feminismo, mas não é o caso. A heroína só nasceu por um interesse de mercado.
No documentário da Netflix "Brinquedos que Marcam Época", Jill Barad, ex-CEO da Mattel, conta que a personagem nasceu para a empresa lucrar, uma vez que 20% da audiência de He-Man era formada por meninas. Só por isso.
No auge da Barbie, She-Ra nasceu muito mais semelhante às bonecas do que seu irmão Adam. Embora ambos sejam gêmeos e tenham praticamente a mesma força e capacidade para destruir inimigos, She-Ra é muito menor que He-Man. Nascia ali uma Barbie com espada.
Os roteiristas J. Michael Straczynski e Larry DiTillio só desenvolveram uma história para a heroína depois da criação do brinquedo pela empresa.
"Nós nunca consideramos ou escrevemos que She-Ra deveria ser uma 'mulher ideal'. Consideramos ela uma guerreira antes de tudo. Qualquer pessoa que olhe para trás e imagine ela como a mulher ideal está vendo isso como um pré-adolescente, já que a série visava as crianças. Eu entendi, mas não foi a intenção criativa", escreveu Straczynski no Twitter recentemente.
Qual é o problema da nova She-Ra? Nenhum.
Mais de 30 anos depois da exibição da She-Ra original, as críticas parecem infundadas quando a personagem ganha uma recriação mais fiel para o público infantil.
"É estranho que uma personagem cuja criação nasceu de uma estratégia calculada seja colocada em uma posição tão elevada hoje para que tantos fanáticos por She-Ra, que aparentemente estavam adormecidos por 30 anos, estivessem esperando seu retorno", diz o texto do site Comic Book. "Ora, Netflix, você está tentando 'perder' a audiência masculina adulta que She-Ra nunca teve?", diz o irônico questionamento do artigo assinado por Hannah Collins.
"Essa propaganda de que as garotas têm que ser menos femininas precisa acabar", disse um usuário do Twitter. "Eu não quero personagens super sexualizadas, mas fazer elas menos femininas dará o mesmo problema de auto-estima, mas para garotas sexy", escreveu outro.
Vazio, esse tipo de argumento não se sustenta. Uma princesa guerreira como a nova She-Ra faz todo sentido, lembrando sempre do público para ela: crianças. Mais fácil imaginá-la em ação assim do que em combate como uma Barbie decotada e de minissaia.
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