Rapper MC Sid dispara contra todos em "hino" dos caminhoneiros: "Foram geniais"
O flow começa e o brasiliense MC Sid, 22, dispara sem dó sua metralhadora giratória. O alto preço da gasolina, da cesta básica, dos planos de saúde. O salário mínimo irrisório, a qualidade questionável dos serviços públicos. O Brasil está no fundo do poço e a única saída é agir. Como? Como fizeram os caminhoneiros na recente greve que parou o país e abaixou o preço do diesel cair na marra.
“O Brasil é o único país do mundo em que toda vez que tem greve/O povo só põe a culpa no povo/Cês não conseguem ver o quão grave esse país tá”, versa o ligeiro Sid em “Brasil de Quem?”, usando uma camisa da seleção brasileira no clipe. Lançada no último dia 27, após a explosão da greve, a faixa viralizou e tornou-se rapidamente a mais acessada do rapper, com mais de 3,5 milhões de views no YouTube.
A música que virou uma espécie de hino involuntário para o movimento grevista foi inspirada no noticiário de jornais, TVs e mídia social. “Não sou nem de direita nem de esquerda. Acho isso injusto mudar a cabeça de alguém. Quero só acabar com preconceitos das pessoas”, diz ao UOL Sid, que defende manifestações com foco e pautas concretas, bem diferente das ocorridas em 2013.
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“Eu me indignei com a atitude dos políticos e do povo. Muitas vezes as pessoas não percebem que a corrupção vem delas. Precisamos parar de esquecer que temos poder. São 600 pessoas que comandam a vida de 200 milhões. Os caminhoneiros, os médicos, os professores, todos precisam agir, parar o país”, completa o rapper, que precisou cancelar palestras em escolas e universidades do Distrito Federal na semana da greve.
“Foi triste, os alunos ficaram decepcionados. Eu e minha gravadora fazemos esses eventos para trabalhar a favor da desmarginalização do hip hop, que infelizmente ainda acontece. Mas [o cancelamento] não foi culpa nem minha nem dos caminhoneiros. Foi culpa desse governo, dessa gestão péssima digna dos anos 1800.”
Os alvos de MC Sid em “Brasil de Quem?” incluem apoiadores/haters de partidos.
Isso me lembra 2013 de novo
A culpa era da Dilma
Ela saiu e eu não to vendo um país novo
PT e PSDB são farinha do mesmo saco
Que fermenta e a população não come o bolo
E ele também questiona a intervenção na segurança pública do Estado do Rio...
Eu voto sim pra revolução
Mas pro Temer não
Eu sou novo mas não sou burro irmão
Acho ridículo um presidente que é sem moral
Usar as forças armadas pra tentar calar a população
... e comparar o Congresso Nacional a uma corja de ladrões.
E toda vez que eu olho pro senado
Eu me lembro do conto de Ali Babá e os 600 ladrões
Quem dera todo politico e suas famílias
Fossem obrigados a usar o serviço publico infernal
Porque eu duvido que ele roubasse 1 real de verba
Se fosse a mulher dele na fila do hospital
Um ponto importante da crítica está no sistema tributário, visto como injusto e inoperante. “O imposto é muito grande no Brasil, é de 30% do salário, mas o maior problema não está na quantidade. Está na utilização dele. Qualquer país com a nossa carga tributária consegue desenvolver melhor”, afirma Sid, que chega a contestar a existência da dívida externa brasileira, atualmente avaliada pelo Banco Central em mais US$ 315 bilhões, cerca de R$ 15 do PIB do país de 2017. “Isso é uma invenção do Temer. Rastreie essa dívida externa. Ela vem onde, para quem? Para qual lugar vai?”
Em tempos de radicalização política, o recado incisivo do rapper é importante e impactante, mas não deixa de resvalar em distorções. Outro exemplo: Sid diz na letra que a gasolina da Petrobras é vendida nos vizinhos Bolívia e Colômbia por um quarto do cobrado nas bombas Brasileira. Segundo relatório da GlobalPetrolPrices.com, no entanto, o valor médio da gasolina no país é US$ 1,25, contra US$ 0,54 na Bolívia e US$ 0,83 na Colômbia.
Outra questão que pode ser levantada com a música: ao defender os caminhoneiros, MC Sid não estaria se alinhando aos muitos manifestantes que defendiam a intervenção militar no Brasil?
Não sou a favor de intervenção militar. Isso suprime muito o fazer artístico. Mas também não me ponho no direito de criticar a postura do cara. Se ele está pedindo isso, espera-se que tenha uma base, um fundamento. Os caminhoneiros foram geniais por parar o Brasil, mas não por pedir intervenção.
MC Sid
Quem é Sid?
Um das promessas do rap nacional, MC Sid nasceu e cresceu em Brasília e há 4 anos começou a participar de batalhas de freestyle, onde obteve destaque vencendo o Duelo Nacional de MCs em 2016. Ele também fez parte do grupo Full Haze, que se desfez com cada integrante seguindo carreira individual pelo selo independente Bendita Gravadora.
Suas referências vão desde Racionais MCs a Marcelo D2, passando por Gabriel o Pensador e vários nomes da nova geração do rap. Entre seus sucessos na internet estão “Falsos MCs“, “Sussurros do Porquê” e “Assalto a Mão Letrada”, faixas que falam da vivências da rinhas e de relações pessoais e sociais. Seu primeiro EP, “5696”, foi lançado em fevereiro com sete faixas.
“As gravadoras compraram estilos fortes como a MPB, que hoje tem que ser comercial para agradá-las. Vai chegar um momento em que os magnatas vão jogar muito dinheiro no hip hop, e o rap vai deixar de lado o rap das ideias e priorizar letras de festa e amor. Meu objetivo é abrir a mente dos jovens fãs de rap, que hoje estão com a cabeça meio vazia, para eles se ligarem no rap de ideias. Quero mudar as pessoas pode dentro para que o rap ainda exista.”
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