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Último disco do Arctic Monkeys teve influência de Lô Borges. E ele amou!

O cantor e compositor Lô Borges - Bárbara Dutra/Divulgação
O cantor e compositor Lô Borges Imagem: Bárbara Dutra/Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

27/05/2018 04h00

A notícia de que “Tranquility Base Hotel & Casino”, álbum do grupo inglês Arctic Monkeys lançado este mês, teria influências da música “Aos Barões”, clássico do mineiro Lô Borges, pegou muita gente de surpresa. Inclusive o próprio músico.

Lô desconhecia o repertório da banda e, ao ser citado pelos integrantes à revista "Mojo”, junto de gigantes como Rolling Stones e Joe Cocker, deu a si uma missão: escutar por horas a fio não só o disco em questão, mas toda a discografia do grupo incluindo projetos paralelos dos músicos como o The Last Shadow Puppets.

Resultado do “intensivão” indie: o expoente do Clube da Esquina simplesmente amou tudo o que ouviu, Já se considera fã de carteirinha do vocalista e compositor Alex Turner, uma provável referência para futuros trabalhos. "Ele é realmente tudo o que diziam", diz ao UOL.

Na opinião de Lô Borges, “Tranquility Base Hotel & Casino” é o melhor álbum dos Arctic Monkeys, um disco arrojado e maduro que se aproxima de “Aos Barões” mais pelos timbres do que exatamente pelos arranjos ou estrutura musical. 

UOL – Como se sentiu ao ser citado como influência no meio de clássicos internacionais do rock e do pop?

Lô Borges Quando vi a notícia, fiquei muito lisonjeado e feliz. Mas eu tinha pouco conhecimento da música do Arctic Monkeys e do Alex Turner. Ouvia mais de tabela, em encontros e festas da parte adolescente da minha família. Cheguei à conclusão de que eu tenho que prestar mais atenção no que os adolescentes estão ouvindo.

Capa de "Tranquility Base Hotel & Casino" - Reprodução - Reprodução
Capa de "Tranquility Base Hotel & Casino"
Imagem: Reprodução

E o que achou do disco?

Ouvi tudo do Arctic Monkeys e dos outros projetos do Alex Turner, e posso dizer que o “Tranquility Base Hotel & Casino” é o disco mais bacana deles, o que mais gostei. Pelo fato de ser um disco que eles vão em busca do desconhecido.

Acho que é uma sonoridade que não é lugar-comum nem na música deles nem na música de ninguém. É uma coisa que eu lá no "disco do tênis" já procurava em 1972. É muito interessante.

Gostei do álbum como um todo. Uma coisa que achei muito do caralho é que as músicas são curtas, inusitadas. Quando você pensa que a música vai continuar, ela terminar. Gosto disso.
Lô Borges

Percebeu sua influência em algum lugar?

Seria muito pretensioso falar que tem alguma influência minha. Talvez em alguns pianos um pouco energéticos e em alguns timbres de guitarra, parecidos com os do solo que eu fiz nos “Aos Barões”. Já vi o Alex Turner elogiar esse solo. Talvez a influência esteja mesmo só no timbre, no pedal de guitarra que eles usaram.

O disco causou controvérsia entre fãs, por ser lento e sem guitarras barulhentas. Um trabalho mais “adulto”.

Acho que é uma evolução na música do Alex Turner. Ainda mais para mim, que sou um cara maduro, que já passou dos 60 anos. Se tivesse uns 20 anos, como os fãs deles têm, talvez pensasse diferente. É o disco deles que mais me agradou. Li em algum lugar que é um disco mais pessoal do Alex Turner, confessional nas letras. Achei o mais arrojado, inusitado e que busca o desconhecido. Eles caminharam na linha contrária ao refrão, da canção pop. Para mim, é um álbum totalmente intuitivo. É um mergulho espetacular.

Então vai ter influência de Arctic Monkeys no seu próximo disco?

No próximo não. Ele vai se chamar o “O Rio da Lua” e já está pronto. Sou um cara compulsivo para compor, estou sempre fazendo um disco atrás do outro. Minha capacidade de fazer música é muito maior do que a de lançá-la. Talvez no disco seguinte algo diferente apareça, agora que estou interessado no trabalho dos caras. Eles são tudo o que falam mesmo.

Qual é a história por trás de “Aos Barões”?

Eu morava no Rio quando fiz o "disco do tênis". E a casa em que eu morava, a do meu irmão, não tinha piano. Aí falei para a gravadora que eu iria a Belo Horizonte fazer algumas coisas no piano na casa da minha mãe. Passei 15 dias lá e fiz três músicas ao piano. "Não Foi Nada", "Faça Seu Jogo" e "Aos Barões". A letra de “Aos Barões” fala dos “malucos” do [bairro de Belo Horizonte] Santa Tereza, das pessoas que gostavam de fumar um baseado, tomar uma birita, da minha turma. É uma homenagem à juventude que vivia comigo e ficava à toa tocando violão na rua.

Uma rua, um buraco. Ficam sentadas umas pessoas. E eu fico vivendo com elas. E a gente é a paisagem. E outros olham pra gente como se a gente fosse gente. E a gente fica esperando. Uma coisa, uma coisa que eu não sei o quê.

Eu escrevi isso. Mas "essa coisa que não sei o que” que a gente ficava esperando eu sei o que é. É o baseado mesmo. (risos)