Virada Cultural afeta rotina de desabrigados do prédio que desabou em SP
Cerca de 300 desabrigados do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em São Paulo após incêndio no dia 1º de maio, que estão acampados no largo do Paissandu, tiveram suas rotinas alteradas neste sábado (19) pelas atrações da Virada Cultural.
Embora possam contar com a solidariedade de muitas pessoas, que a todo momento entregam doações, para os moradores, o descaso da prefeitura com sua situação ficou ainda mais flagrante com a montagem da estrutura para o evento, que conta por exemplo com banheiros químicos distribuídos por toda a região central, algo que os moradores haviam reivindicado sem sucesso.
"Os moradores estão indignados porque se você descer até ali, vai ver dezenas de banheiros químicos para a Virada, mas eles não podem usar. Não há nenhum banheiro aqui no acampamento. Nunca houve. Quando os bombeiros estavam fazendo as buscas, tinha 14 banheiros, mas só os bombeiros podiam usar. Na segunda-feira, quando a Virada acabar, não vai ter mais nenhum banheiro e eles vão continuar abandonados aqui", disse Heber Farias, voluntário do Coletivo SOS Paissandu, que estava no acampamento durante a Virada e conversou com o UOL como representante dos moradores.
No momento, o acampamento está precisando de doações de tendas, lonas, capas de chuva, copos descartáveis e marmitex descartáveis. No Instagram do coletivo SOS Paissandu, é possível acompanhar quais são as necessidades mais imediatas.
A principal indignação dos moradores foi com o fato de ouvir do poder público que não há dinheiro para moradia. "Então, de repente o acampamento é cercado pela Virada, por uma multidão de pessoas, vários shows. Como não tem dinheiro? A Virada tem orçamento de R$ 25 milhões [segundo a Secretaria Municipal de Cultura, o orçamento é de R$ 13 milhões]. Será que nada disso pode ser usado para nos ajudar?", lamentou Heber.
A Virada causou outras dificuldades que os moradores nem imaginavam. Como todas as ruas ao redor foram fechadas ao trânsito de veículos, nenhum carro com doações pode passar para entregar os mantimentos. "Tentamos negociar com a polícia, mas eles foram intransigentes e não liberaram", relatou Heber.
Enquanto a reportagem do UOL estava presente no acampamento, chegou ao local uma caminhonete repleta de água, papel higiênico, verduras e legumes, doados pela Igreja Batista da Água Branca. Cerca de dez moradores organizaram um mutirão para carregar as doações, inclusive um pesado galão de 20 litros de água.
O motorista da caminhonete, no entanto, furou o bloqueio e conseguiu estacionar um pouco mais perto, mas ainda a quase 100 metros de distância do acampamento.
Outro problema que os moradores enfrentam é a indiferença das pessoas que passam pelo acampamento. "Fica ainda mais evidente durante a Virada. As pessoas nem olham pra cá. O público finge que não nos vê", diz Heber. "Vivemos uma política higienista, que prefere nos ignorar", finalizou.
Outro lado
Em nota oficial, a prefeitura afirmou que segue acolhendo os desabrigados. Veja a nota:
"A Prefeitura de São Paulo informa que segue oferecendo acolhimento a todos os desabrigados que estão no Largo Paissandu, mas não pode obrigá-los a aceitar. A assistência social fez, até o momento, 1.110 encaminhamentos desde o incêndio, e a Secretaria Municipal de Habitação começou o pagamento do auxílio moradia pela CDHU. Até o momento, foram 149 famílias vítimas do desabamento cadastradas pela Secretaria Municipal de Habitação para receber o auxílio-moradia pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo do Estado. Essas famílias já iniciaram o saque de R$ 1.200 no primeiro mês e R$ 400 a partir do segundo mês, pelo período de 12 meses.
A Prefeitura assumirá, após esse período, o pagamento do auxílio até o atendimento habitacional definitivo das famílias. Objetivo do auxílio emergencial é subsidiar a locação de um imóvel até o atendimento definitivo. A maioria das famílias vítimas do desabamento já foi acolhida pela prefeitura, seguiu para casas de parentes ou foi realocada pelo próprio movimento. Grande parte das pessoas que se encontram no Largo Paissandu não é de vítimas do desabamento, mas sim de pessoas atraídas pelas doações feitas no local."
Atração turística
Contrariando o líder da ONG, parte do público que passou pela Virada reparou sim na situação dos desabrigados, talvez não da maneira esperada. Um grupo de 40 pessoas se apoiava na grade de proteção colocada pela polícia para observar os escombros do prédio.
Muitas pessoas já chegavam com o celular na mão, prontas para tirar fotos, enquanto outras eram pegas de surpresa ao chegar na região.
"A gente veio justamente para ver em que pé que tá. Ainda tem bastante escombro, mas imagina como estava há três semanas", disse Olivia Argentini.
Andreia Bidala saiu de Belo Horizonte para a Virada e não acreditava no que via. "Nem parece que tinha um prédio aqui, é impressionante. Só dá pra saber por causa da igrejinha ao lado e do prédio do outro lado que ainda está queimado".
O edifício Wilton Paes de Almeida desabou após um incêndio na madrugada do dia 1º de maio. Cerca de 150 famílias moravam nos primeiros andares do edifício, que era uma ocupação irregular. O prédio pertencia à União e era uma antiga instalação da Polícia Federal. Investigações da Polícia Civil identificaram que um curto-circuito causou o incêndio.
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