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Intérprete para surdos "dança em Libras" e rouba a cena na Virada Cultural

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

19/05/2018 21h49

Ela fica no cantinho do palco para não chamar a atenção, mas é impossível não notar as dancinhas da intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) no palco Chacrinha da Virada Cultural, no vale do Anhangabaú. Karina Zonzini tem a missão de levar a música aos surdos e acaba se empolgando nas canções mais animadas. Ate guitarra imaginária ela toca!

"Quem não gosta de cantar 'Não se Vá'? Eu me realizei com 'Fogo e Paixão'! Você vai ver na Valesca então", antecipa a intérprete ao UOL, mandando um "beijinho no ombro" com as mãos. "Acabo chamando a atenção dos ouvintes, mas o legal é que levamos comunicação para todo mundo. Não é um espetáculo adaptado, é para todos", pondera.

A intérprete de Libras Karina Zonzini - Paulo Pacheco/UOL - Paulo Pacheco/UOL
A intérprete de Libras Karina Zonzini
Imagem: Paulo Pacheco/UOL

A dancinha faz parte da interpretação das músicas. Karina considera fundamental transmitir aos surdos a emoção das canções, por isso capricha nas caras e bocas, além das mãos: "Me colocaram nesse palco porque é um dos mais visíveis e sabem que eu tenho um jogo de cintura maior. Trabalho também com tradução de espetáculos e tenho uma desenvoltura maior. O intérprete não e só com a mão, e também com o rosto e o corpo. Não e só tradução, é interpretação. Não adianta eu fazer um rosto sisudo em uma música feliz. O ideal é eu passar a emoção para quem está assistindo".

Pedagoga de formação, Karina lidera a ONG Surdo Mundo, destinada a deficientes auditivos e contratada para a Virada. Ela teve contato com acessibilidade quando trabalhava para a Secretaria de Educação e não parou mais. Foi assim que conheceu o marido, que é surdo.

"Acessibilidade é tudo, até casamento. Minha mãe diz que falo pelos cotovelos... literalmente!", brinca a profissional de 40 anos, que admite ter dificuldade para traduzir músicas mais difíceis ou em outro idioma.

"Amanhã eu vou fazer Projota. É um estilo de música que eu não ouço e o Projota é muito metafórico. Rola um medinho, mas eu sou muito destemida. Tenho a sorte de morar com uma pessoa surda. Tenho um pensamento muito rápido, mas já fiz espetáculo com música em francês que tive que traduzir para o português e depois para Libras. Às vezes, tem que ser mecânico, se concentrar e esquecer a dancinha", afirma.