C****inhos voadores: Tradução de Deadpool se inspirou até em pornochanchada
ATENÇÃO: ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS DE “DEADPOOL 2” E LINGUAGEM QUE PODE SER CONSIDERADA OFENSIVA POR ALGUNS LEITORES
Caralhinhos voadores, rebuceteio, sarrada, pica. Não, querido(a) leitor(a), você não está sendo xingado(a). Estas são apenas algumas das expressões, digamos, peculiares que você vai encontrar na dublagem e nas legendas do filme “Deadpool 2”, que estreia nesta quinta (17).
Na segunda aventura do anti-herói mais desbocado da Marvel, Deadpool (Ryan Reynolds) tem que impedir que um garoto mutante se torne uma grande ameaça, ao mesmo tempo que o protege de um assassino do futuro chamado Cable (Josh Brolin). Com a classificação indicativa de 18 anos, ele pode fazer isso abusando dos palavrões, para diversão (ou desespero) dos tradutores responsáveis pelas legendas e dublagem da versão brasileira.
“A grande dificuldade ao traduzir palavrões é que muitas vezes os palavrões em inglês não se encaixam tão bem ao traduzirmos ao pé da letra”, conta o tradutor Guilherme Menezes, 23, que trabalhou no filme junto com seu tio, Mário Menezes, 52, que já havia trabalhado no primeiro “Deadpool”. “Em inglês, eles têm costume de botar ‘fucking’ em tudo. O mais próximo que temos aqui seria o ‘porra’, mas em alguns casos não se aplica; então a grande questão da adaptação é buscar um palavrão que se encaixe sem perder a graça”, explica.
Não é um trabalho fácil, mesmo para quem já tem experiência com séries como “Beavis and Butt-Head” (Guilherme) e filmes como “As Branquelas” (Mário). Os dois tiveram que viajar na criatividade. “O mais difícil são as expressões loucas que o Deadpool inventa do meio do nada, por exemplo ‘holy shit pickles’, ‘codswallop’ e ‘tripping motherfucking billies’. Nesses casos, buscamos expressões que já existam, ou tiramos da cartola algo que seja engraçado, como foi o caso do ‘caralhinhos voadores’, ‘rebuceteio’ e ‘puta que me paralhos’”, diz Guilherme.
E tem até inspiração da pornochanchada brasileira. “Os ‘caralhinhos voadores’ foram uma inspiração que eu peguei de uma cena de um filme brasileiro de 1980, ‘Os Sete Gatinhos’, em que o Lima Duarte fala: ‘Eu quero saber quem foi que desenhou caralhinhos voadores na parede do banheiro’. Como é uma cena em que os personagens [de “Deadpool 2”] estão todos caindo de paraquedas, achamos a oportunidade perfeita para usar”, revela o tradutor.
As gírias cariocas inspiraram o uso de “pica” para descrever o coice que uma arma usada pelo protagonista dá ao ser acionada, e “sarrada” saiu direto dos memes para um momento em que Cable e Deadpool ficam coladinhos um no outro.
Já a talvez ainda mais peculiar “rebuceteio” (que, por coincidência, também é nome de um filme pornô nacional de 1984, e que na linguagem popular é sinônimo de briga e confusão) foi ideia de Mário. “Nós precisávamos de uma palavra ‘nonsense’ pra combinar com o resto das palavras finais do Deadpool (‘codswallop’, no caso [que significa tolice, absurdo]), e ficamos pensando em alguma barbaridade que ficasse bem cômica ali; foi quando chegamos no ‘rebuceteio’ e rimos horrores na mesma hora”, conta Guilherme.
Aliás, risadas da equipe em geral são o sinal de que a escolha funcionou. “No estúdio [de dublagem], ficamos tradutor, diretor, operador, dublador e revisora trocando figurinhas, pensando em opções boas para deixar o filme mais engraçado. Quando alguém pensa em uma e os cinco começam a rir sem conseguir parar, sabemos que foi a opção certa”, diz.
E não pense que os tradutores “aliviam” na linguagem, como costumava acontecer no passado. “Nós não mudamos muita coisa por achar pesado demais, principalmente se tratando de Deadpool. Como é um filme em que finalmente temos liberdade para zoar e escrever besteira, tentamos manter o nível, mas com cuidado. Não podemos nem ‘ganhar’ nem ‘perder’, fazendo uma coisa que seja ofensiva sem estar assim no inglês ou uma coisa que acabe ficando sem graça por suavizarmos”, conta Guilherme.
O resultado completo, só no cinema. Mas já dá para dizer que a tradução de “Deadpool 2” é quase uma diversão à parte.
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