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Em show solo, Eddie Vedder homenageia amigos, heróis e fãs do Pearl Jam

Osmar Portilho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2018 02h40

Em 2014, Eddie Vedder mostrou uma nova cara aos fãs do Pearl Jam e abriu as portas de seu mundo com um show solo. De lá pra cá, o músico sofreu com perdas, algumas delas lembradas no show desta quarta-feira (28), o primeiro de três, no Citibank Hall, em São Paulo.

"Desde a última vez que estive aqui eu perdi alguns amigos, heróis e parentes. Espero que vocês não tenham passado por isso, mas vamos cantar por eles. Espíritos entram de graça", disse Vedder ao apontar para todos os lados da casa de shows. Eddie era muito próximo de Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, e admirador de Tom Petty, ambos mortos em 2017. O último foi lembrado com a canção "Wildflowers".

As homenagens não ficaram restritas aos que se foram. Em um show com mais de duas horas de duração, o vocalista do Pearl Jam dividiu o setlist com canções inusitadas da banda de Seattle, covers de seus heróis da música e êxitos de sua carreira solo.

Os heróis e amigos

Eddie Vedder escolhe diversos pontos de seu repertório para citar canções de músicos que admira.

Além da versão já composição de Tom Petty, ele também encaixou um rápido verso de "Brain  Damage", do Pink  Floyd, "Hurt" (do Nine Inch  Nails e famosa também na versão de Johnny Cash), "Should  I  Stay  or  Should  I Go?" (The Clash), "Masters of War" (Bob Dylan) e "Imagine" (John Lennon).

Na hora de cantar o hino pela paz de Lennon, criticou a indústria armamentista e lembrou que o ex-Beatle teve sua vida tirada justamente por uma arma de fogo.

"Guaranteed" para a família de Célio

Em formato intimista, o show ganhou alguns gritos de fãs nas pausas da canções. Fato que ficou até exagerado a ponto de incomodar o músico. O empresário Célio Alves pediu, a plenos pulmões, por "Guaranteed", que faz parte da trilha sonora de "Na Natureza Selvagem", filme de Sean Penn, que conta com as músicas de Vedder.

Fã Eddie Vedder Célio - Osmar Portilho/UOL - Osmar Portilho/UOL
Célio pediu "Guaranteed" e Eddie atendeu
Imagem: Osmar Portilho/UOL

"Tem duas coisas que músicos precisam ter. Timing e paciência. Venha aqui", disse o cantor ao chamar Célio, que pôde fazer o pedido diretamente para o cantor.

"Eu falei pra ele que essa música significa muito pra mim e pra minha família. Aí ele falou 'senta aqui que eu vou tocar ela pra você'. Eu não sabia nem o que fazer", disse o empresário ao UOL.

Quando falou da família, Vedder não se aguentou e realizou o desejo do rapaz, que ficou sentado ao pé do palco enquanto chorava.

José também teve seu pedido atendido

"Hoje eu encontrei um rapaz. O nome dele é José. Ele pediu para eu tocar essa música para o pai dele. Enquanto estou falando isso, estou tentando lembrar como se toca ela", disse o músico, enquanto apanhava da guitarra para lembrar os acordes de "Light Years". A faixa do álbum "Binaural" (2000) já é rara nos shows do Pearl Jam, em versão solo então, é praticamente inédita.

Aos trancos e barrancos, o vocalista foi se encontrando com os acordes. Depois de alguns justificáveis tropeços, conseguiu dar os versos e refrãos que o público queria.

Depois de tocar com o Pearl Jam no Lollapalooza, Eddie Vedder faz apresentação solo em São Paulo - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Eddie Vedder montou repertório repleto de covers, canções solo e do Pearl Jam
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

"Você quer que eu chame o segurança?"

Ainda na parte externa da casa de shows, sinais indicavam a proibição de câmeras, filmadoras e celulares. Já nos lugares, novos avisos apareceram nos telões antes de um novo anúncio em inglês e português que clamam por um ambiente intimista. "Aproveitem o show, não sejam igual o Trump".

Durante a apresentação, logo que um rosto se iluminava com a brilhante tela dos smartphones, mesmo que não fosse necessariamente para fotografar ou filmar, um segurança ou fiscal repreendia o espectador, muitas vezes com certa truculência desnecessária.

A única exceção para que os aparelhos aparecessem nas mãos dos fãs foi em "Imagine" a pedido do próprio cantor. "Acendam suas lanternas e cantem comigo para esse homem incrível", disse Eddie em seu já tradicional português enrolado munido de uma cola com frases prontas.

Exagerou

O clima intimista garantiu belos momentos para o repertório de Eddie Vedder, mas também fez com que o músico se incomodasse com o exagero de alguns fãs que gritavam insistentemente nos intervalos com pedidos de músicas.

O cantor tentou contornar a situação em diversas oportunidades com bom humor e de forma elegante.

"Vocês conhecem o Mike McCready [guitarrista do Pearl Jam]? Ele toca muito alto. Muito alto. E depois de tantos anos com ele na banda, você começa a perder a audição. Eu não consigo ouvir nada do que vocês estão falando", afirmou o cantor.

Show imprevisível

Fãs de Pearl Jam já sabem que o grupo raramente repete seus repertórios e gosta de ousar em seus setlists. Quando Eddie está sozinho, a imprevisibilidade se duplica. Além de tantas covers já citadas, o repertório passeia por canções inusitadas - e muito celebradas - do Pearl Jam, como "Sometimes", "Wishlist" e "Immortality".

A única sequência mais ou menos anunciada se dá com as músicas que são trilha do filme "Na Natureza Selvagem", como "Far  Behind", "Rise" e "Guaranteed", que são "denunciadas" pelo momento em que Eddie chama uma fã ao palco para "acender" uma fogueira cenográfica que dá pontapé a esse segmento do show.

Irlandês Glen Hansard faz o show de abertura da apresentação solo de Eddie Vedder em São Paulo - Simon Plestenjak/UOL - Simon Plestenjak/UOL
Irlandês Glen Hansard faz o show de abertura da apresentação solo de Eddie Vedder em São Paulo
Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Abertura visceral

Assim como em 2014, o show de Eddie Vedder contou com a abertura de Glen Hansard, que fez uma apresentação visceral. O irlandês castigou seu violão e lembrou canções como "When Your Mind is Made Up", "The Song of Good Hope" e "Way Back When". Em "Winning Streak", se afastou do microfone e cantou sem a ajuda dos amplificadores com uma potência vocal impressionante.

Mais tarde, ele voltou ao palco para tocar "Sleepless Nights" e "Hard Sun" junto com o protagonista da noite. "Queria agradecer meu amigo por ter pegado um voo só para estar aqui e fazer esses três shows comigo. Eu estava com saudade", disse o vocalista do Pearl  Jam. A dupla volta ao Citibank Hall para shows nesta quinta (29) e sexta-feira (30).

Veja o setlist:

Share the Light
Walking the Cow (Daniel Johnston)
Long Road
Brain Damage (Pink Floyd)
Sometimes (Pearl Jam)
Keep Me in Your Heart (Warrenz Zevon)
I Am Mine (Pearl Jam)
Wildflowers (Tom Petty)
Just Breathe (Pearl Jam)
Without You
Far Behind
Guaranteed
Millworker (James Taylor)
Rise
Hurt (Nine Inch Nails)
Wishlist (Pearl Jam)
Light Years (Pearl Jam)
Crazy Mary (Victoria Williams)
Bad (U2)
Immortality (Pearl Jam)
Masters of War (Bob Dylan)
Imagine (John Lennon)
Porch (Pearl Jam)
Bis
Sleepless Nights (com Glen Hansard)
Society
Should I Stay or Should I Go? (The Clash)
Hard Sun (Indio, com Glen Hansard)