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Depeche Mode espanta nostalgia e paga dívida de 24 anos com fãs brasileiros

Osmar Portilho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/03/2018 01h39

A última passagem do Depeche Mode pelo Brasil foi em 1994, em São Paulo, na extinta casa de shows Olympia, no bairro da Lapa. O que deveria ser uma apresentação no auge da banda mostrou apenas o grupo fragilizado sem a presença do tecladista Andy Fletcher e com seu frontman, Dave Gahan, entregue ao vício de heroína que culminaria dois anos depois em uma overdose que quase tirou sua vida.

O encontro entre fãs e o Depeche Mode em seu auge foi acontecer somente 24 anos depois, na noite desta terça-feira (27), sob uma insistente chuva no Allianz Parque. Depois de deixar o Brasil de fora de várias turnês, os britânicos desembarcaram com a "Global Spirt Tour", amparada por uma apresentação com duas horas, um frontman incansável e  uma banda revitalizada sem nenhuma intenção de se entregar à nostalgia de hits dos anos 80 e 90.

Depeche Mode se apresenta em São Paulo no Allianz Parque, em São Paulo - Flavio Moraes/UOL - Flavio Moraes/UOL
Dave Gahan, do Depeche Mode, durante show em São Paulo
Imagem: Flavio Moraes/UOL

Dave Gahan: o dono do palco

Aos 55 anos, Dave Gahan tem pleno domínio do palco do Depeche Mode. Com seu tradicional colete - visto em alguns fãs mais fervorosos na pista - e botas purpurinadas, o vocalista é incansável. Rebola, abre o braços, encara as pessoas, manda beijos, se esfrega no pedestal do microfone, sorri, sofre, e claro, canta. Mesmo com poucas palavras ao público, Gahan guarda sua voz - incrivelmente preservada - para desfilar os hits do Depeche Mode sem nenhum deslize e sem modéstia: "Essa aqui vocês conhecem".

Setlist a serviço da carreira

Com o sucesso que teve nos anos 80 e 90, o Depeche Mode não teria problemas em montar um repertório baseado apenas em hits populares em um show com pouco mais de uma hora. A escolha de estender sua duração para mais de duas horas com vinte músicas distribuídas em oito álbuns mostra um esforço de montar um show dedicado sem apelar para a simples nostalgia de canções como "Enjoy the Silence", "Strangelove" e "Personal Jesus".

Embora a empolgação seja nitidamente menor, músicas mais recentes cavam seu espaço no setlist e ganham brilho com belos vídeos criados pelo holandês Anton Corbijn, responsável por inúmeros clipes e diretor do filme "Control" (2007).

Depeche Mode se apresenta em São Paulo no Allianz Parque, em São Paulo - Flavio Moraes/UOL - Flavio Moraes/UOL
Quando Dave sai de cena, Martin Gore entra em ação
Imagem: Flavio Moraes/UOL

Fiel escudeiro: Martin Gore 

Difícil chamar atenção com o encapetado Dave Gahan no palco. Em dois momentos, o vocalista deixa o palco para entregar os holofotes aos seus companheiros de banda, principalmente o guitarrista Martin Gore, um coadjuvante de peso para o Depeche Mode. Depois de segurar bem nos backing vocals, ele assume o microfone e o protagonismo da apresentação com "Insight" e "Home" sem pestanejar.

Rege o público, cobra aplausos e solta o vozeirão enquanto o frontman não está por perto. Gahan é generoso e dá mais um momento para Martin brilhar. A volta do bis acontece justamente com um dos maiores sucessos do grupo, "Strangelove", tocada em formato mais enxuto e com o guitarrista no comando da apresentação.

Meio-campo

O Allianz Parque contou com uma formatação diferente para o show do Depeche Mode. Em vez da posição tradicional do palco em um dos cantos do estádio, por ter uma carga menor de ingressos, ele foi colocado bem no meio do campo. Com a pista reduzida, formou-se um "caldeirão" sem espaços vazios e aproximou a banda também das arquibancadas.

Bom para a banda, melhor ainda para o público. De acordo com a assessoria de imprensa, 25 mil pessoas acompanharam o show.

Quase um clipe ao vivo

Algumas canções com menos apelo ao público ganham belos vídeos projetados nos telões que chegam a nos fazer esquecer momentaneamente que a banda está ao vivo para acompanhar a história destes curta-metragens. Em "In Your Room", por exemplo, um homem e uma mulher engatam em uma dança sensual e hipnótica. Em "Walking In My Shoes", vemos a preparação meticulosa de uma artista transgênero. Tudo isso em sintonia com a banda.

Este é o último show da "Global Spirit Tour" pela América do Sul. A banda faz uma breve pausa e retorna aos palcos em maio, nos Estados Unidos.

Veja o setlist do Depeche Mode:

Going Backwards
It's No Good
Barrel of a Gun
A Pain That I'm Used To
Useless
Precious
World in My Eyes
Cover Me
Insight (Martin no vocal)
Home (Martin no vocal)
In Your Room
Where's the Revolution
Everything Counts
Stripped
Enjoy the Silence
Never Let Me Down Again
Bis:
Strangelove (Martin no vocal)
Walking in My Shoes
A Question of Time
Personal Jesus