Com Negrini e Ai Weiwei, ato reúne 300 pessoas por fim da censura no Masp
Cerca de 300 manifestantes se aglomeraram na noite quinta (19) no vão livre do Masp, em São Paulo, para protestar pacificamente durante a abertura para convidados da mostra "Histórias da Sexualidade", que recebe o público geral a partir desta sexta e fica em cartaz até 14 de fevereiro de 2018.
O grupo pediu o fim da censura à arte e o direito de liberdade de expressão após o museu classificar a exposição como imprópria para menores de 18 anos. Com mais 300 obras, a mostra explora artisticamente temas ligados ao sexo e, em alguns casos, à violência e espiritualidade, com categorias como "Corpos Nus", "Jogos Sexuais" e "Religiosidades".
Uniformizados, com cartazes, faixas e piquetes em punho, os manifestantes, entre eles vários artistas e galeristas, entoavam gritos como "censura não", "se censurar, não terá sossego" e "fora, Temer". Por volta da 19h40, um grupo chegou a bloquear rapidamente o trânsito em uma das pistas da avenida Paulista.
Ao contrário do que esperavam os organizadores, o ato aconteceu sem embate nem presença ostensiva da PM, apesar de o museu ter reforçado seu efetivo de segurança. A reunião visava blindar a abertura da mostra contra possíveis ações de grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre), que já se envolveu em protestos contra outras mostras no país, como a "La Bête", do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), acusada de promover a pedofilia em performance com nu artístico.
"Estamos aqui para incentivar as pessoas a virem à mostra. Queremos divulgar a arte e lutar por liberdade de expressão. A reação que hoje existe sobre a arte tem sido totalmente desproporcional", diz ao UOL a atriz Alessandra Negrini, que participou da manifestação antes da mostra abrir para convidados.
"A nossa ideia é nós opor a esse movimento de censura, que obrigou o Masp a colocar classificação etária de 18 anos, algo que não acontecia há muito tempo, provavelmente desde a ditadura. Uma ideia retrógrada de certos movimentos que estão cerceando a livre manifestação", explica o galerista Alexandre Gabriel, da Fortes D'Aloia & Gabriel.
O ato contou com alguns nomes célebres da arte e cultura, como o escritor Marcelo Rubens Paiva, que atuou para mobilizar a manifestação. "Isso aqui é a única forma de mobilizar um deputado, um prefeito, um governador e um presidente para uma causa maior. Os artistas precisam se reunir e lutar pela arte", defendeu Rubens Paiva.
Durante o tempo em que acompanhou o movimento, a reportagem do UOL flagrou apenas um momento isolado de hostilidade, quando um passageiro de um ônibus, que usava camiseta vermelha, colocou o corpo na para fora na avenida paulista e gritou "vai trabalhar, vagabundo". A reação foi respondida com vaias e mais palavras de ordem.
"Eu sou contra a classificação etária de 18 anos. Meus filhos já estão crescidos, mas tenho netos, e eu gostaria de trazê-los à exposição. Não tenho problema de ficar nu na frente deles. A arte, historicamente, sempre retratou o nu e a sexualidade. A arte é livre. Isso não deveria ser um problema", opinou o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), que chegou quando a manifestação já se dispersava. Ele teve o nome gritado e recebeu vários pedidos de foto dos presentes.
Outra presença ilustre no vão livre do Masp foi a do artista chinês Ai Weiwei, que chegou nesta quinta em São Paulo para participar da 41ª Mostra Internacional de Cinema. Ele compartilhou uma foto em suas redes sociais empunhando um cartaz em português com o recado "censura nunca mais". Ativista em defesa da liberdade de expressão, Ai Weiwei disse em entrevista ao UOL que os casos de pressão contra museus foram um dos motivos que o trouxeram até aqui.
A maior parte das cerca de 300 pessoas presentes no ato desta noite se identifica com o Movimento Pela Democracia. Trata-se de um manifesto assinado por mais de 700 artistas, profissionais das artes e apoiadores que pede a liberdade de expressão e circulação de ideias, crenças, informações e expressões artísticas. A carta é uma "resposta à escalada da extrema direita contra os direitos individuais, civis e sociais" e pode ser assinada on-line pelos apoiadores.
Justificativa
Em nota, o Masp diz ter buscado orientação jurídica para tomar a decisão do veto, que foi baseada no Guia Prático de Classificação do Ministério da Justiça. A restrição acontecerá nas galerias da exposição Histórias da sexualidade no 1º andar, 1º subsolo e sala de vídeo.
O museu destaca que as outras exposições —Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017, Pedro Correia de Araújo: Erótica e Acervo em Transformação—, que ficam nas galerias do 1º subsolo, 2º subsolo e 2º andar, respectivamente, continuarão abertas ao público em geral, com classificação livre.
"Histórias da Sexualidade" abre para o público geral nesta sexta (20). A mostra coletiva foi concebida há dois anos, em 2015, e antecedida por dois seminários internacionais realizados em setembro de 2016 e maio de 2017.
A exposição faz parte de um programa anual do museu. Serão exibidas cerca de 300 obras de mais de 140 artistas nacionais e internacionais de períodos e contextos diversos, entre eles nomes como Pablo Picasso, Paul Gauguin, Edgar Degas, Anita Malfatti, Cláudia Andujar e Adriana Varejão.
A obra "Cena do Interior 2", de Adriana Varejão, que foi alvo de críticas na mostra "Queermuseu", em Porto Alegre, por retratar práticas sexuais grupais com participação de um animal, está entre as exibidas.
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