Por decisão da prefeitura, Museu de Arte do Rio não receberá "Queermuseu"
O Conselho Municipal do Museu de Arte do Rio (Conmar) divulgou nesta quarta (3) que, contrariando a própria vontade, interrompeu as negociações para receber a exposição "Queermuseu", após decisão da Prefeitura do Rio, comandada por Marcelo Crivella (PRB). A definição veio após reunião realizada durante a manhã.
No comunicado, a instituição lamenta "o modo como este debate tem sido inflamado por intensas polêmicas, que levaram a Prefeitura do Rio de Janeiro, por ser este um museu de sua rede municipal de equipamentos culturais, a solicitar a não realização de 'Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira' no MAR'.
Mesmo com a decisão contrária, o Conmar se diz "favorável à realização da exposição, bem como a de qualquer outra atividade que contribua para o exercício da arte como fundamento de nosso processo civilizatório", ressaltando "sua mais profunda crença nos princípios da liberdade de expressão e das manifestações artísticas".
Neste domingo (1°), o prefeito Marcelo Crivella (PRB), ex-bispo evangélico, já havia publicado um vídeo nas redes sociais condenando duramente a mostra e expressando o desejo de que ela não fosse aberta no Museu de Arte do Rio. Em resposta, representantes de 73 museus e instituições ligadas à cultura divulgaram uma carta pública repudiando "recentes ações de perseguição a manifestações artísticas".
A "Queermuseu" foi suspensa pelo Santander Cultural em Porto Alegre no dia 10 de setembro após pressão de grupos que a consideravam ofensiva por "promover pedofilia, zoofilia e blasfêmia". O caso ganhou repercussão nacional, com adesão de diversas vozes conservadoras, como o MBL (Movimento Brasil Livre), que pregou o boicote à exibição.
Localizado no centro da capital fluminense, próximo ao Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio é uma instituição pública mantida em parceria com a iniciativa privada. No dia 11 de setembro, logo após a repercussão da "Queermuseu", o conselho da instituição passou a contar com dois representantes ligados à Secretaria Municipal de Cultura.
Leia abaixo a nota na íntegra
O CONMAR, Conselho Municipal do Museu de Arte do Rio – MAR, instituído pelo decreto 36.909 de 18 de março de 2013, e ratificado pelo decreto de 43615, de 11 de setembro de 2017, que tem como atribuições “estudar políticas públicas e propor diretrizes para a implantação das atividades desenvolvidas no MAR e em seu entorno” e “acompanhar e fomentar as estratégias de programação, atividades educacionais, aquisição e conservação de acervo, comunicação, sustentabilidade e operação inerentes ao MAR”, vem a público reafirmar, pelo conjunto de seus membros, sua mais profunda crença nos princípios da liberdade de expressão e das manifestações artísticas, no respeito à diversidade, no diálogo e na educação.
À luz desses valores, o Conselho Municipal do MAR é favorável à realização da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira, bem como a de qualquer outra atividade que contribua para o exercício da arte como fundamento de nosso processo civilizatório.O CONMAR entende também que qualquer iniciativa do Museu se realize em consonância com os cuidados éticos e jurídicos definidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pelo Ministério da Justiça e pela Constituição Brasileira; no caso, com classificação indicativa, sinalização com orientações efetivas sobre o teor das obras expostas e permanente mediação junto ao visitante, de forma a estabelecer relações com e entre as diversas perspectivas culturais e ideológicas de todos os seus públicos. Diante do exposto, lamentamos o modo como este debate tem sido inflamado por intensas polêmicas, que levaram a Prefeitura do Rio de Janeiro, por ser este um museu de sua rede municipal de equipamentos culturais, a solicitar a não realização de Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira no MAR.
O CONMAR, no entanto, recomenda que o Museu, cumprindo com sua função pública, promova, abrigue e amplie o debate e as reflexões em torno do papel da arte, das instituições e de toda a sociedade para a construção da diversidade e da produção de diálogos calcados na escuta e no respeito às diferenças.O CONMAR recomenda, por fim, que o Museu, a Secretaria Municipal de Cultura e demais instâncias próprias mantenham um diálogo constante, a fim de que exposições dedicadas às questões pungentes do nosso tempo continuem a ser realizadas no Museu de Arte do Rio, em consonância com a sua missão de ser um espaço público “de todos, para todos”.Rio de Janeiro, 3 de outubro de 2017CONMAR – Conselho Municipal do Museu de Arte do Rio.
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