"A Virada foi tomada da cidade", diz cantora que tocou em Interlagos
Acostumados com apresentações para um público fiel e animado, que chega até a subir no palco com os artistas, o grupo de canções infantis Brasileirinhos teve de se contentar com uma plateia de cerca de dez pessoas na manhã deste domingo (21) em Interlagos. Eles foram a segunda atração do palco principal da chamada Viradinha Cultural, que reuniu shows infantis no autódromo que fica a mais de 20 km do centro da cidade.
Após um show completo e animado, mesmo com os poucos presentes, o grupo todo concordou que o frio e a chuva ajudaram a afastar o público, mas apontam outras questões como possíveis causas para um evento tão grande e tão esvaziado.
“A gente não sabe, a gente chuta. Mas a impressão que dá para a gente que já foi em várias Viradas é que essa Virada foi feita de última hora e não teve planejamento. As outras Viradas os caras passavam meses planejando. E talvez não tenham levado em conta as experiências dos anos anteriores. Parece que improvisaram”, acredita Paulo Bira, voz, violão e líder dos Brasileirinhos.
Kennya Macedo, a voz feminina do grupo, não vê problema na descentralização, que já existia, mas sim no novo formato adotado. "Houve uma época em que a Virada tomava a cidade. Agora ela foi tomada da cidade. Ela está em espaços confinados, está sob controle”, diz a cantora, que esteve presente em todas as Viradas desde a primeira edição do evento, criado ainda na gestão de José Serra.
“Eu não só trabalho na Virada, eu assisto também. Então, como público, eu gostava de ver a cidade sendo tomada. Eu gostava de sentar na rua da Consolação e tirar foto da rua sem carro passando. Isso é a Virada.”
Para Kennya, o foco do problema está na infraestrutura, na divulgação, dificuldade de acesso e diminuição do tempo. “A Virada foi sucateada. A programação aqui, por exemplo, não é virada. É das 9h às 15h. Só mostra a falta de investimento na cultura.”
Simone Julian, sax, flauta e voz do Brasileirinhos já tinha enfrentado problemas no dia anterior, quando se apresentou com outra companhia no edifício Copan. Por lá, faltou gerador em um dos palcos, que só chegou uma hora depois do horário marcado para eles subirem no palco. Com isso, o show que estava marcado para meia-noite só começou às 3h da manhã.
“A programação é boa, o que tem é bacana e, apesar da desorganização geral, eu me diverti muito. Porque o centrão bomba de qualquer jeito. Mas eu achei completamente surreal fazer em Interlagos. Aqui faltou divulgação. Não é para trazer a turma dos Jardins para cá, é para a comunidade e nem eles apareceram", lamenta.
Outro ponto que atrapalhou bastante o show do Brasileirinhos e de toda a programação de domingo em Interlagos foi o barulho ensurdecedor dos carros correndo na pista do autódromo, em um evento paralelo. “A gente até deu sorte, o som estava muito bom. Aliás, está aí um elogio a equipe de som deu show, uma das melhores que já tivemos. Mas imagina o grupo anterior, que era teatro, com esse barulhão? Não rola”, disse Simone.
A programação em Interlagos se encerra às 15h com show do funkeiro MC Gui.
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