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Ameaçado de morte, autor de "4 Vidas..." conta a história por trás do filme

W. Bruce Cameron, autor de "Quatro Vidas de Um Cachorro", com seu cão, Tucker - Ute Ville/Divulgação
W. Bruce Cameron, autor de "Quatro Vidas de Um Cachorro", com seu cão, Tucker Imagem: Ute Ville/Divulgação

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

27/01/2017 04h00

O escritor americano W. Bruce Cameron já está acostumado a ver seus livros ganharem adaptações para a TV ou o cinema. O que ele não imaginava é que uma grande polêmica atrapalhasse a adaptação logo de seu maior sucesso de vendas, "Quatro Vidas de Um Cachorro". Lançado em 2010 nos EUA, o livro passou 52 semanas consecutivas na lista de mais vendidos do New York Times.

"Eu nunca escrevi um livro que não acabasse adaptado para televisão ou o cinema, então eu já esperava uma versão cinematográfica de 'Quatro Vidas de Um Cachorro'. Mesmo assim é um processo bastante difícil, que nem sempre dá certo, então tentei ficar esperançoso e otimista", conta o autor em entrevista exclusiva ao UOL.

O contrato para transformar a história narrada do ponto de vista do próprio cachorro foi assinado há sete anos, pouco tempo depois de o livro ir parar entre os mais vendidos dos Estados Unidos. No Brasil, a primeira versão foi lançada sem muito alarde, em 2011, e acabou ganhando uma nova edição em 2016 pela HarperCollins alguns meses antes da estreia do filme, que acontece nesta quinta-feira (26). 

Capa do livro - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Eu fiquei tão empolgado quando a DreamWorks quis fazer o filme. Quando nós levamos o livro para eles e outros estúdios, fomos avisados de que mais de um tinha interesse em produzir, mas já sabíamos que a DreamWorks seria a melhor para o nosso trabalho", conta. Bruce fechou o contrato e se envolveu diretamente na adaptação, assinando o roteiro junto com sua mulher, a atriz e roteirista Cathryn Michon.

O sucesso do livro pode ser explicado pela fórmula leve e bem-humorada que Bruce usou ao narrar situações comuns a quem tem um cachorro, mas do ponto de vista do bicho, e não dos humanos. Além disso, o escritor buscou amenizar o momento mais temido desta relação: a morte do bichinho. "Em 'Quatro Vidas de Um Cachorro', o cachorro não morre – ele renasce!", destaca.

E a morte de cada um dos quatro cães retratados no livro (no filme são cinco) é narrada com a aceitação de que ele cumpriu sua missão, até mesmo o cãozinho vira-lata que tem uma vida muito curta depois de ir parar ainda filhote na carrocinha. "Cachorros são simplesmente as criaturas mais queridas, otimistas e despreocupadas do planeta. Eu já até tentei viver como os cachorros, mas não consegui atingir o espírito elevado deles."

Mas nem todo o amor demonstrado pelo escritor pelos cachorros foi suficiente para afastá-lo da polêmica lançada uma semana antes de o filme chegar aos cinemas. Um vídeo divulgado no site TMZ que mostra os bastidores de uma cena de ação que no filme dura pouco mais de 1 minuto foi o suficiente para arruinar todo o barulho que se fazia desde o lançamento do primeiro trailer, em agosto de 2016, visto por 10 milhões.

Como roteirista, W. Bruce Cameron acompanhou as gravações feitas no Canadá, em 2015. "Foi um trabalho muito divertido. Eu sei que eu deveria trocar ideias com os produtores, com o diretor e com os atores, mas eu só brinquei com os cachorros mesmo", contou sobre sua função no set. Ele alega, no entanto, que não estava presente quando um pastor alemão foi supostamente forçado a entrar na água, e diz ter escolhido pessoalmente Gavin Polone como produtor justamente por seu histórico de ativismo no direito dos animais.

Ameaças de morte

Em pouco mais de uma semana, uma reviravolta aconteceu na vida de toda a equipe que trabalhou nos bastidores de "Quatro Vida de Um Cachorro".

"Quando as pessoas gritam injúrias para você porque você se recusa a dizer que um cão ficou 'traumatizado' (ele entrou no tanque com bastante disposição um pouco depois) e 'lutou pela vida' (eu sei que Hercules está feliz e saudável) você não pode imaginar como é horrível enfrentar mais um dia", explicou o escritor depois de garantir que acompanhou a investigação movida pela produtora do filme.

"Eu e minha família recebemos ameaças de morte", revela o escritor após a polêmica, sem citar porém de onde vieram essas ameaças. Bruce vive na Califórnia com a sua mulher, Cathryn Michon, e com o cachorro deles, Tucker. 

"A raiva fora de controle e os pedidos de boicote ao meu trabalho atrapalham meu sono, minha paz, e pior, a minha percepção sobre a humanidade. Eu sou uma pessoa que pode perdoar e acredito que a lição que devo tirar disso é que temos que tomar ainda mais cuidado com tudo o que fazemos. Mesmo sendo chamado de vendido e torturador, eu sigo apoiando o filme a mensagem por trás dele."

Mesmo com toda a controvérsia envolvendo o filme, o escritor faz um apelo aos leitores brasileiros. "Por favor tentem ler o livro antes de assistir o filme. Tem tantas histórias e personagens que você vai entender melhor se puder ler o livro. Estou muito contente de saber que meu livro está disponível no Brasil. Quando eu era criança tive amigos que eram intercambistas e sempre achei os brasileiros afetivos e maravilhosos".