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Tico Santa Cruz lamenta volta do MinC em governo "golpista e safado"

Renata Nogueira

Do UOL, em São Paulo

22/05/2016 17h34

Em uma hora de show na Virada Cultural de São Paulo, os cariocas do Detonautas conseguiram passar sua mensagem sobre o atual momento político do país, fazer covers de Legião Urbana, Cazuza e Rage Against the Machine e também agradar a jovem plateia com os hits da banda que fizeram a cabeça da molecada no início dos anos 2000.

Comandados por Tico Santa Cruz, o polêmico vocalista que já até recebeu ameaças de morte por não esconder sua posição política, a banda já abriu a apresentação em tom político. Às 15h em ponto rolaram os primeiros acordes da música “Ladrão de Gravata”, do disco Detonautas Roque Clube (2002) emendada por um cover de “Que País É Esse”, música lançada pelo Legião Urbana há quase 30 anos e que segue atual.

Depois de um bloco de de sucessos do Detonautas como "Quando o Sol Se For", "Você Me Faz Tão Bem", "O Amanhã" e o reggae "Melhor Plantar o Bem", Tico trocou de camisa e literalmente vestiu a mensagem "Temer Jamais".

"Nós artistas sempre fomos blindados, os grandes artistas sempre foram acostumados a serem bajulados, bem tratados, e -- de repente -- com uma movimentação de um novo governo, eles exterminam o Ministério da Cultura e as pessoas começam a chamar os artistas de vagabundos. Nessas horas, os artistas têm que ter um pouco de sensibilidade e empatia com os negros, com as mulheres, com os homossexuais, com todos que sempre foram maltratados neste país. O que a gente [os artistas] está sofrendo agora é o que as pessoas sempre sofreram nas ruas. Então é muito importante que os artistas lutem pelo Ministério da Cultura porque a cultura é importante. A Cultura é a identidade de um país. Mas a pauta não é só o ministério da Cultura, a pauta é ‘fora, Temer’", declarou o vocalista antes de emendar mais um coro “Fora, Temer” apoiado pelo público presente.

"O Ministério da Cultura é importante e tem que voltar, só que não na administração desses golpistas safados", completou Tico Santa Cruz. Emendando o discurso com um cover de “Killing in the Name”, do RATM, o Detonautas levou o público ao delírio. Um fã mais exaltado acabou invadindo a área em frente ao palco.

Os seguranças tentaram expulsar o fã aos chutes. Neste momento, Tico Santa Cruz saltou do palco e defendeu o rapaz, em um discurso de não violência. O rapaz acabou sendo conduzido de volta para a plateia por agentes do Corpo de Bombeiros.

Durante o show, Tico também lembrou dos estudantes que “tiveram suas merendas roubadas” e --ao lado do percussionista Cléston-- levantou uma faixa com os mesmos dizeres da camiseta dele “Temer Jamais”. “O Tempo Não Para”, cover de Cazuza, trouxe mais tempero político para a apresentação.

"Ainda Vou Te Levar", um dos maiores sucessos do Detonautas, foi acompanhado de um bate-cabeça feminino organizado do palco por Tico Santa Cruz. "Abre uma roda aí e vamos deixar primeiro as mulheres se divertirem. O poder é das mulheres", defendeu Tico.

Por fim, a banda toda se abraçou e – de costas – o Detonautas finalizou o show com Tico cantando um trecho do rap "O Patrão Mandou Avisar". "O patrão mandou avisar, que o bagulho agora é a vera, se o irmão falo meu irmão, é melhor não duvidar, se joga que o bagulho vai inflamar". 

Veja trecho da apresentação do Detonautas na Virada:

Tico pede mais consciência política

Após os show, Tico Santa Cruz evitou responder sobre uma possível candidatura. No entanto, o vocalista do Detonautas defendeu a reforma política.
 
"As pessoas têm que ocupar os cargos institucionais. As pessoas têm que parar de reclamar e começar a ocupar os cargos. A gente vive um regime de presidencialismo de coalizão. Se não tiver um Congresso funcionando, não dá para trabalhar. Pode botar Jesus Cristo lá que não vai funcionar. O sistema político que tem que se mudado. A população tem que pressionar o Congresso para uma reforma política", afirmou. 
 
Ele também falou sobre a Lei Ruanet, alvo de críticas de opositores ao governo Dilma. Para Tico, as pessoas precisam se inteirar melhor sobre a Lei de incentivo à cultura. 
 
"A Lei Rouanet atende algumas demandas de setores da arte que são importantes. Essa criminalização da Lei Rouanet é uma imbecilidade sem tamanho. Existem muitos projetos que precisam de incentivo para poder funcionar: Musicais, teatros, grupos alternativos, muita coisa que não está na mídia", afirmou. 
 
"As pessoas acham que a galera está pegando dinheiro para poder embolsar. Como se a Dilma ou alguém do governo desse o dinheiro em uma maleta para o cara gastar como ele quiser. Se fosse mole assim, meu irmão, estava todo mundo endinheirado e o Brasil estaria cheio de exposição de arte, cheio de teatro. As coisas não funcionam assim. As pessoas têm que começar a ficar ligadas um pouco mais sobre o que estão falando para não ficar repetindo um monte de abobrinha", ponderou.