"Se reproduzíssemos o noticiário, Temer leria poesia na Flip", diz curador
Sempre atenta aos assuntos mais importantes da atualidade, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) não vai discutir a crise política em suas mesas neste ano. “A Flip dialoga com o noticiário, mas não estamos aqui para reproduzi-lo. Se fizéssemos isso, talvez pudéssemos chamar o Michel Temer para uma mesa de poesia", brincou o jornalista Paulo Werneck, curador do evento, que acontece entre os dias 29 de junho e 3 de julho.
"Começamos a montar essa Flip quando a anterior acabou e, naquele momento, não daria para saber o que estaria acontecendo em junho, julho deste ano. Aliás, nem agora dá para saber”, afirmou, durante o anúncio da programação do evento.
Mas quem precisa de Temer – que lançou seu livro de poesia, "Anônima Intimidade", em 2013 – se a Flip 2016 está repleta de grandes nomes da literatura?
Já anunciada anteriormente, a jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch, que ganhou o último Nobel de Literatura, terá uma mesa própria no dia 2 de julho, e irá dividir as atenções com o escritor norueguês Karl Ove Knausgard.
Autor da série autobiográfica "Minha Luta", em que investiga o próprio passado, Karl se baseia fortemente em sua memória, algo que está bastante em voga hoje: a chamada autoficção.
O escocês Irvine Welsh, autor do célebre “Trainspotting” -- que se tornou cult nos cinemas na adaptação dirigida por Danny Boyle e estrelada por Ewan McGregor – discutirá as drogas na literatura na mesa “Na Pior em Nova York e Edimbugo”, no dia 30, ao lado do americano Bill Clegg, autor de “Retrato de um Viciado Quando Jovem”.
O sírio Abud Said, escritor de “O Cara Mais Esperto do Facebook”, que vive asilado em Berlim, deverá ser o único a levar a política internacional para o debate, na mesa "Síria Mon Amour", no último dia do evento.
Sem Mano Brown
Sem nenhum autor negro na programação, Werneck disse que negociou durante meses com a cantora Elza Soares e o rapper Mano Brown, líder do Racionais MC's, mas sem sucesso. "Mano Brown na Flip, para mim, seria um acontecimento cultural. Não conseguimos este ano, mas quem sabe no ano que vem."
Uma boa notícia para o público é que o valor do ingresso será mantido em R$ 50 para a tenda dos autores. Assim como nas outras edições, as duas tendas com telões continuam sendo gratuitas.
Sarau de abertura
Além de ser a homenageada da Flip 2016, a poesia da carioca Ana Cristina Cesar marcará a abertura do evento. No lugar do tradicional show musical de abertura, a Flip fará um sarau a poeta que se suicidou em 1983, aos 31 anos.
Referência da poesia marginal dos anos 70, que driblava a censura da ditadura apostando em edições caseiras de seus escritos, Ana C., como ficou conhecida, foi escolhia pela Flip para dar “continuidade com a programação do festival, que vem ajudando a revelar ao público novas vozes na poesia brasileira”, disseram os organizadores.
É a segunda mulher homenageada pela Festa – a primeira foi Clarice Lispector, em 2005.
Confira a programação da Flip 2016:
Dia 29, quarta:
19h - sessão de abertura
Em tecnicolor
Armando Freitas Filho
Walter Carvalho
19h45
Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície
Walter Carvalho
21h45
Sarau
Dia 30, quinta
10h
A teus pés
Annita Costa Malufe
Laura Liuzzi
Marília Garcia
12h
Cidades refletidas
Francesco Careri
Lúcia Leitão
15h
Os olhos da rua
Caco Barcellos
Misha Glenny
17h45
Histórias Naturais
Álvaro Enrique
Marcílio França Castro
19h30
Matéria cinzenta
Henry Marsh
Suzana Herculano-Houzel
21h30
Na pior em Nova York e Edimburgo
Bill Clegg
Invine Weish
Dia 1º, sexta
10h
Breviário do Brasil
Benjamin Moser
Kenneth Maxwell
12h
A história da minha morte
J. P. Cuenca
Valeria Luiselli
15h
O show do eu
Christian Dunker
Paula Sibilia
17h45
Encontro com Karl Ove Knausgard
19h30
Mesa a confirmar
21h30
Sexografias
Habriela Wierner
Juliana Frank
Dia 2, sábado
10h
Encontro com Leonardo Froés
12h
De Clarice a Ana C.
Benjamin Moser
Heloisa Buarque de Holanda
15h
Encontro da arte com a ciência
Arthur Japin
Guto Lacaz
17h45
Encontro com Svetlana Aleksiévitch
19h30
O falcão e a fênix
Helen Macdonald
Maria Esther Maciel
21h30
O palco é a página
Kate Tempest
Ramon Nunes Mello
Dia 3, domingo
10h
Síria mon amour
Abud Sais
Patrícia Campos Mello
12h
Mixórdia de temáticas
Ricardo Araújo Pereira
Tati Bernardi
14h
Sessão de encerramento: luvas de pelica
Sérgio Alcides
Vilma Arêas
16h
Livro de cabeceira
Diversos autores
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