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Ícone das artes visuais, Rogério Duarte morre aos 77 anos em Brasília

Rogério Duarte com sua obra mais famosa - Fernando Vivas
Rogério Duarte com sua obra mais famosa Imagem: Fernando Vivas

Do UOL, em São Paulo

14/04/2016 13h18

Ícone das artes visuais e um dos mentores da Tropicália, o artista gráfico, músico e poeta baiano Rogério Duarte morreu às 21h de quarta-feira (13), aos 77 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Ele estava internado há quase dois meses e lutava contra um câncer ósseo e no fígado. A informação foi confirmada por sua família na página do artista no Facebook. 

Rogério Duarte também foi autor de vários cartazes para clássicos do cinema nacional. Seu trabalho mais célebre foi para “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha.

O trabalho virou um marco no design brasileiro e é apontado como o despertar da pós-modernidade no país. Em entrevista ao UOL em 2014, na época do 50° aniversário do filme, Duarte lembrou que "livros, teses e o Diabo a quatro" haviam sido escritos sobre o pôster. "Esse cartaz virou minha cruz. Até hoje ficam me ligando para falar dele." E desafiou a reportagem: "Cite algum outro filme brasileiro cujo cartaz teve a mesma importância. Diga aí algum de que você se lembra pelo cartaz. Embora haja bons cartazes brasileiros, nenhum foi tão marcante".

Capas de discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil na mostra dedicada a Rogério Duarte em Melbourne, na Austrália, em 2009 - Tobias Titz/Divulgação - Tobias Titz/Divulgação
Capas de discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil na mostra dedicada a Rogério Duarte em Melbourne, na Austrália, em 2009
Imagem: Tobias Titz/Divulgação
Seu trabalho nas artes visuais rendeu capas marcantes de discos nos anos 1960 e 1970, como "Cantar", de Gal Costa, "4", de Jorge Mautner, "Lugar Comum", de João Donato, e os primeiros trabalhos de Gilberto Gil e Caetano Veloso. 

Era também era músico e compositor, tendo colaborado com Gil ("Cultura e Civilização") e Caetano ("Gayana").

Em seu Facebook, Caetano Veloso lamentou a morte do artista. "A mente de Rogério Duarte era uma universidade rebelde. Minha formação se deu grandemente no contato com ela. Sua visão era desafiadora e, por isso mesmo, contraditória", disse. "Ele não temia enfrentar o caos. Um gênio brasileiro. Necessariamente desenvolvido informalmente e destinado à não realização e ao não reconhecimento. Rogério encarou discussões acadêmicas de alta complexidade sem ter sequer o curso colegial completo", analisou.

Sua produção era constantemente estudada na Europa, e ganhou exposição em 2014 na Bienal da Bahia. Em 2015, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro sediou a exposição "Marginália 1", com curadoria do alemão Manuel Raeder. Os problemas de saúde de Rogério à época o impediram de participar do lançamento. 

Da ditadura à fase transcendental

Rogério Duarte nasceu em Ubaíra, interior da Bahia, em 1939. Sobrinho do sociólogo Anísio teixeira, o artista gráfico logo se mudou para o Rio de Janeiro para estudar arte industrial com o alemão Max Bense, um dos mestres da semiótica e da poesia concreta, o que influenciaria seu trabalho no futuro.
 
Na época, foi um dos primeiros a denunciar publicamente a tortura no regime militar. Preso juntamente com seu irmão Ronaldo Duarte, o caso mobilizou artistas e ganhou ampla divulgação no jornal carioca "Correio da Manhã", que publicou uma carta coletiva pedindo a libertação dos "Irmãos Duarte".

Com o endurecimento da ditadura, Rogério iniciou a sua fase "transcendental" que o levou a estudar o sânscrito e iniciar a tradução do "Bhagavad Gita", lançado por ele anos mais tarde.