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Morre escritora Harper Lee, de "O Sol É para Todos", aos 89 anos

19.mai.2010 - Harper Lee na casa de repouso onde vivia, na cidade de Monroeville - AP/Penny Weaver
19.mai.2010 - Harper Lee na casa de repouso onde vivia, na cidade de Monroeville Imagem: AP/Penny Weaver

Do UOL, em São Paulo

19/02/2016 13h46

A escritora norte-americana Harper Lee, ganhadora do Prêmio Pulitzer de ficção em 1961 pelo livro "O Sol É para Todos", morreu aos 89 anos. A informação foi confirmada na manhã desta sexta-feira (19) pelo prefeito de Monroeville, no Alabama, cidade natal da escritora. Lee vivia sob cuidados médicos em uma clínica para idosos. Sempre muito reservada, ela não dava entrevistas nem fazia aparições públicas há anos.

"O Sol É para Todos", maior clássico da escritora, foi publicado em 1960 e vendeu 30 milhões de cópias. É considerado uma obra-prima da literatura americana pelo relato pungente sobre o preconceito racial nos Estados Unidos na era da Grande Depressão. A história segue um advogado branco, Atticus Finch, que defende um homem negro acusado injustamente de estupro. O livro ganhou adaptação em Hollywood, em 1962, com Gregory Peck no papel principal.

Em 2015, o mercado literário foi surpreendido pelo anúncio de um novo livro de Lee, "Vá, Coloque um Vigia", lançado no Brasil em outubro passado pela editora José Olímpio. O romance estava esquecido em uma caixa e teria sido descoberto por sua advogada, Tonja Carter.

Sua segunda obra, quase 55 anos depois de sua estreia, liderou a venda de livros nos Estados no ano passado e obteve a façanha de desbancar "Grey", da série erótica "Cinquenta Tons de Cinza", além de bater o recorde de vendas para um livro de ficção voltado a adultos, que antes pertencia a "O Símbolo Perdido" (2009), de Dan Brown, fazendo livrarias fervilhar até a madrugada.

"Vá, Coloque um Vigia", escrito nos anos 1950, na verdade foi o primeiro esboço de "O Sol É para Todos", com muitos personagens iguais. O livro ganhou manchetes pela descrição do nobre advogado Atticus Finch como um racista e intolerante, em forte contraste com o advogado idealista que fez a fama da obra.

Capa do livro "O Sol É para Todos" - Reprodução - Reprodução
Capa do livro "O Sol É para Todos"
Imagem: Reprodução

Uma vida, uma obra

Nelle Harper Lee nasceu no dia 28 de abril de 1926, em Monroeville, e era a caçula de quatro filhos. Quando criança frequentou a escola primária e do ensino médio, a poucos quarteirões de sua casa no Alabama Avenue, mas acabou se mudando para Nova York em 1949, em busca do sonho em se tornar escritora. Trabalhou como auxiliar de reservas de companhias aéreas enquanto escrevia.

Oito anos mais tarde, Lee apresentou o manuscrito de "O Sol É para Todos" para a editora J. B. Lippincott & Co., que pediu que reescrevesse o livro. O principal biógrafo da autora, Charles Shields, contou ao UOL que o personagem principal no manuscrito sempre esteve distante do papel de herói que lhe fez famoso. As mudanças solicitadas miravam justamente no caráter do advogado --queriam que ele deixasse de ser um racista e se transformasse em um herói.

Em 11 de julho de 1960, o romance foi finalmente publicado com sucesso crítico e comercial. Lee ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção no ano seguinte. Desde então, nunca mais lançou outro livro.

"Ela tinha uma história para contar, sobre seu pai [que era advogado]. Era a mais importante história de sua vida. A editora, uma mulher mais velha que a ajudou a transformar 'Vá, Coloque um Vigia' em 'O Sol É para Todos', como resultado de três grandes revisões, aposentou-se depois. A senhora Lee não conseguiria escrever outro romance sem a ajuda dela", contou Charles J. Shields ao UOL.

Em 2007, Harper Lee sofreu um derrame, mas logo voltou para Monroeville. Durante todos esses anos, os moradores da cidade respeitavam sua privacidade, mas não deixavam de encenar "O Sol É para Todos" anualmente no teatro da cidade.

Em 2015 veio o anúncio inesperado do lançamento de "Vá, Coloque um Vigia". Seu estado de saúde e sua antiga negativa em publicar um novo livro despertaram dúvidas sobre seu consentimento para o lançamento. A controvérsia levou Lee a dizer que se sentia "muito ferida e humilhada", isto segundo um texto difundido por sua advogada.

Carter indicou ao "Wall Street Journal" que, entre os papéis e caixas de Lee, achou páginas escritas que podem ser um terceiro romance da autora. "Seria um rascunho anterior aos primeiros dois livros ou, inclusive, como indica uma correspondência mais antiga, poderia ser um terceiro livro ligando os outros dois?", questionou Carter, na época, deixando a possibilidade em aberto.