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Ziraldo "garante" mais dez anos de vida com série baseada em planetas

Rodrigo Casarin

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/11/2015 07h00

"Quando completei 75 anos, falei: 'Não quero morrer agora, tenho muito para fazer ainda'". A solução encontrada por Ziraldo para negociar com a morte foi iniciar um novo projeto. Criou, então, uma série de livros no qual o Sistema Solar é uma espécie de praça onde as crianças que habitam os planetas brincam livremente.

E resolveu que o garoto da Lua também faria parte do grupo, ainda que fosse um rapaz insatisfeito por viver em um satélite. "Calculei que, se fizesse um livro por ano, teria mais dez anos de vida garantidos, e não poderia morrer antes. Já foram sete, então tenho pelo menos mais três", diz, aos risos, o autor que acaba de completar 83 anos, durante conversa com o UOL.

O mais recente livro da série a chegar nas livrarias é "Nino, o Menino de Saturno". Nele, os famosos anéis do planeta perdem a cor e o garoto, com sua prancha de surf, vem à Terra em busca de uma solução para o misterioso problema. Em nosso planeta, encontra o colorido para os anéis de seu lugar de origem nas tintas de grandes pintores. Guignard, Picasso, Van Gogh, Kandinsky, Klimt, Pollock, Matisse e Miró ajudam o rapaz a voltar para o espaço com sua missão cumprida.

"Quero conversar com as crianças nesse nível, e não sobre coelhinho, fadinha ou sapo que a princesa beija. Isso já está esgotado, as crianças têm outros interesses. Estou sempre botando pintores, trechos de poemas, coisas assim nas histórias. Quero que as crianças conversem sobre isso. Quero chamar atenção para o mundo que está ao alcance delas e elas não sabem", defende Ziraldo.

Em outros livros da série, por exemplo, o leitor se depara com "participações" de nomes como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e William Shakespeare. "Se não os apresentamos na infância, a criança depois precisa encontrá-los de modo próprio. Mas se conhecem ainda pequenos, crescem já familiarizados com esses artistas. As pessoas guardam muito do que aprendem na infância".

É por isso que deu um jeito de também encaixar Albert Einstein em "Nino, o Menino de Saturno". Apesar de ser a única personalidade da obra que não era pintor, o autor julgou importante colocá-lo porque já tinha uma caricatura preparada do cientista e queria utilizar uma de suas famosas frases: "A imaginação, meu jovem, é mais importante do que o conhecimento". Ziraldo se identifica muito com essa colocação. "Isto realmente é a coisa mais importante que você pode dizer para uma criança que está começando a descobrir o mundo: bota sua imaginação para funcionar, cara, ao invés de comprar feito".



ABZ e "O Menino Maluquinho"

Ziraldo já publicou cerca de 160 histórias e vendeu mais de 8 milhões de exemplares --aproximadamente 350 mil deles no exterior-- e "Nino, o Menino de Saturno" não é a única novidade de Ziraldo a chegar às livrarias para fomentar ainda mais esses números. A editora Melhoramentos também está relançando toda a Coleção ABZ. São 26 livros nos quais o autor dá nome, vida e história para cada uma das letras do alfabeto, as transformando em personagens que vivem aventuras.

"Não tô ensinando letrinha para ninguém. Estou mostrando que a forma da letra inspira a criança a pensar que são seres vivos. O 'A' pode ser um astronauta chegando em Marte, o 'B', um cara barrigudo, o 'C', um cara comilão. Minha mãe me ensinou as letras do alfabeto assim, inventando formas e nomes. Então, criei 26 histórias", conta. Dentre essas histórias está a curiosa e íntima relação entre o "N" e a palavra "noite".

Sobre seu personagem mais famoso, "O Menino Maluquinho", Ziraldo diz que continua atual. "Ele é uma instituição. O menino brasileiro vai custar a mudar. Aqui o pai chama de filhão, abraça, levo para o escritório. Vai ver se pai americano dá confiança para filho. Não dá. Se ele ficar cheio de lero-lero, o pai de lá diz: 'Deixa de auto piedade'. Aqui a gente adora auto piedade".