Maioria dos escritores cita homens como referências, diz editora irlandesa

Uma editora irlandesa tem alimentado um debate sobre gênero na literatura. Ao pedir para que os escritores revelassem suas influências literárias, descobriu que apenas 22% dos nomes citados são de mulheres.

De acordo com a co-fundadora da editora, Sarah Davis-Goff, dos 148 nomes citados, apenas 33 eram mulheres. "Eu li carta a carta dos escritores que, aparentemente, não notaram que os escritores listados são todos do mesmo gênero", escreveu a editora para o jornal "Irish Times".

"Se um escritor enumera duas influências e ambas são do gênero masculino, tudo bem. No entanto, nunca acontece de ser duas mulheres. E depois de receber a lista de cinco, sete, 10 ou mais influências do sexo masculino é preocupante", relatou ela.

"Isso aponta para o maior problema na indústria, nossa indiferença em relação às experiências, pontos de vista e trabalho brilhante das mulheres".

Ao jornal inglês "The Guardian", Davis-Goff disse que decidiu contabilizar depois de ter a impressão que todos os citados eram homens. "Não é por maldade, mas sexismo acidental, ainda é sexismo, e é isso que eu queria falar: sobre a tentativa de fazer nossas escolhas sobre arte, cultura, política de maneira pensada".

Em reportagem publicada pelo UOL, logo após a Festa Literária Internacional de Paraty, escritoras falaram sobre o preconceito pela literatura escrita por mulheres "porque o machismo ainda está enraizado na sociedade, em todos nós. O nome de uma escritora na capa do livro, ou mesmo o ponto de vista de uma protagonista mulher na obra, ainda desperta no leitor, no crítico, nos jurados dos concursos literários, nos organizadores de eventos, uma ideia difusa de que se trata de algo 'menor', 'menos universal' do que aparenta ser uma 'narrativa masculina", disse a escritora Marta Barcellos, uma das vencedoras do Prêmio Sesc de Literatura deste ano na categoria Contos com "Antes que Seque".