Flip: "O Brasil é um país de 200 milhões de trotskistas", brinca jornalista
“O Brasil é um país de 200 milhões de trotskistas”, brincou o jornalista João Gabriel de Lima, mediador de uma das últimas mesas da edição deste ano da Flip. A ideia era que o escritor cubano Leonardo Padura, de “O Homem que Amava os Cachorros”, e a inglesa Sophie Hannah, autora do recém-lançado “A Vítima Perfeita” conversassem sobre literatura policial. Não que tenham esquecido do tema, mas a questão política acabou sendo inevitável com a presença de um escritor de Cuba que já escreveu um livro inspirado na história do ex-líder soviético Leon Trótski.
No Brasil, Padura ficou impressionado com a quantidade de pessoas que o abordaram na rua se dizendo ex-trotskista, daí a brincadeira de Lima. Relacionando seu trabalho com a realidade de seu país, o cubano disse acreditar que “uma das funções da literatura é criar, desde o presente, uma memória para o futuro e fixar a memória do passado, sobretudo em um lugar como Cuba”.
Segundo ele, por lá há uma série de situações quase cotidianas de que passam como se nada tivesse acontecido, sem reflexões, justificativas ou pedidos de desculpas. “Nos anos 70 a politica cultural cubana foi sovietizada. Com isso, uma série de artistas foi marginalizada durante muitos anos, tiveram uma espécie de morte civil”, lembrou.
“Quando terminei de escrever 'O Homem que Amava os Cachorros', estava certo de que não seria lançado em Cuba. Aliás, desde meu primeiro romance eu pensava isso. Mas sempre fui publicado”, continuou Padura, que fez questão de ponderar, contudo, que seu último trabalho não é um livro de história, mas uma obra de arte, na qual se preocupa mais com questões humanas do que com aspectos ideológicos ou históricos.
O policial
“Muitos escritores que querem fazer literatura policial inventam um detetive, mas esquecem que detetives são, antes de tudo, pessoas. Não nascem pensando 'eu preciso resolver um mistério hoje', são gente comum”, disse Hannah ao falar sobre a construção de seus personagens.
Em sua obra há um casal de investigadores: Simon Waterhouse e Charlie Zailer. “Ela é o que eu seria se fosse um detetive”. Já ele é fruto da mistura entre as personalidades de um ex-namorado, um ex-marido e um policial que a ajudou a construir o personagem, contou.
“A história policial nos meus romances policiais é o aspecto menos relevante. O que importa mesmo é a pessoa do Mario Conde e a forma como ele vive na sociedade cubana”, disse Padura. O autor também falou sobre a consciência social que aparece no gênero, principalmente em criações de autores de países “periféricos”, fora do eixo anglo-saxão. “Um exemplo disso é Rubens Fonseca”.
Sobre seu processo criativo, arrancou risos. “Um dos grandes problemas que tenho na hora de escrever é a falta de imaginação. Sofro muito com isso”, disse. “Me encanta começar a escrever sem saber quem é o assassino do meu livro”, completou. Com isso, ao decidir quem é o culpado, acaba se sentindo como se estivesse no papel do leitor de seu próprio trabalho.
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