Em velório, ex-marido diz que saúde de Odete Lara piorou no último ano
O velório da cantora e atriz Odete Lara, que morreu aos 85 anos na manhã desta quarta-feira (4), teve início pouco antes das 17h, no Parque Lage, no Rio. Até as 18h, ainda havia pouca gente no local.
Um dos primeiros a chegar foi o cineasta Antonio Carlos da Fontoura, ex-marido de Odete e diretor dos filmes “Copacabana me Engana” (1968) e “A Rainha Diaba” (1974), nos quais a artista atuou. Ele levou ao velório um quadro com um retrato da ex-mulher feito pelo artista plástico e autor de teatro Darcy Penteado (1926-1987).
“[O retrato] Era dela. Quisemos trazer como uma presença simbólica”, contou Fontoura à imprensa. “Fomos casados de 1965 a 1968, mas éramos muito amigos. Minha mulher, Letícia, ajudou a cuidar dela nos últimos anos, quando teve problemas de saúde”, disse ele, referindo-se à produtora Letícia Fontoura, que se tornou uma amiga muito próxima da cantora e atriz nos últimos anos.
Antonio Carlos Fontoura
No último ano, ela piorou bastante, e achamos melhor deixá-la numa casa de idosos, com mais estrutura. Nesta manhã, recebemos a ligação dizendo que ela morreu durante o sono
Segundo Fontoura, a ex-mulher, que tinha depressão e vinha piorando desde que sofreu uma fratura no fêmur, vinha apresentando sinais de senilidade. “Ela não queria mais ficar em Friburgo, morava sozinha, tinha problemas de depressão, solidão. Começou a ter sinais de senilidade. Fraturou a perna, começou a ter problemas de locomoção”, contou ele, acrescentando, que, nesse período, os autores de novelas Euclydes Marinho –também ex-marido de Odete—e Gilberto Braga “ajudaram muito”.
“No último ano, ela piorou bastante, e achamos melhor deixá-la numa casa de idosos, com mais estrutura. Nesta manhã, recebemos a ligação dizendo que ela morreu durante o sono”, completou Fontoura, acrescentando que Odete “fez filmes muito bacanas” e “se destacou muito no cenário do cinema paulistano”.
Também presente no velório, Euclydes Marinho não quis dar declarações à imprensa.
“Dividi o camarim com ela”
Muito emocionada, a atriz Rosamaria Murtinho chegou ao velório da amiga pouco depois das 18h. Com a perna imobilizada devido ao rompimento dos ligamentos do tornozelo, em razão de uma queda que sofreu em janeiro, ela era amparada por um funcionário do local.
“Dividi camarim com ela por dois anos. A gente trocava brinco, pulseira. Tenho essa lembrança de nós, mais moças, nos maquiando”, contou a atriz, que trabalhou junto com Odete no teatro. “Meu primeiro grande contrato foi na peça ‘Moral em Concordata’, de Abílio Pereira de Almeida, no teatro Maria Della Costa, em São Paulo. Eu estava começando a carreira, fazia um papel menor. Ela já era uma grande estrela de cinema.”
Rosamaria
Estreei no Teatro Municipal do Rio fazendo o papel [que era] dela. Ela perguntou se eu não podia substituí-la. Iam ficar em cartaz três dias. Ela que me ensaiou
A atriz também falou que estreou no teatro graças à colega. “Estreei no Teatro Municipal do Rio fazendo o papel [que era] dela. Ela perguntou se eu não podia substituí-la. Iam ficar em cartaz três dias. Ela que me ensaiou”, disse.
Segundo Rosamaria, depois de se converter ao budismo, Odete gravou fitas para ela com mensagens espirituais. “Tenho umas seis. Ouvia toda noite, antes de dormir. E era muito confortador. Tenho até hoje. Uma coisa que ela disse e que me marcou é que todos nós somos vítimas de vítimas.”
“Todos queriam tirá-la do exílio”
Ao sair do velório, o ator Guilherme Weber também falou com a imprensa sobre sua relação com Odete Lara. “Nunca trabalhei com a Odete, minha relação com ela era totalmente de bastidor. Eu a conheci na época da minha primeira peça, em 1991, 1992, ‘Por um Novo Incêndio Romântico’, que fiz com a Joana Fomm. Ficamos muito próximos, conversamos muito. Era uma mulher gentil, delicada, culta. Faz parte de uma geração que me fez amar o Rio de Janeiro, redescobrir o Brasil”, disse o ator.
Guilherme Weber
Ela faz parte dessa geração encantadora, da delicadeza. Essa geração está indo embora, está levando esse fascínio com ela. Mas a Odete está eternizada em filmes incríveis, que seduziram o país. Ela é um poema épico
Weber afirma que tentou fazer com que Odete trabalhasse no filme “Deserto”, que dirigiu no ano passado. “Queria muito que ela fizesse. Todo o mundo queria tirá-la desse exílio. A Letícia Sabatella, que era amiga dela, também tentou, para um documentário. Todo o mundo que ama cinema gostaria, só o Bigode (o cineasta Luiz Carlos Lacerda) conseguiu”, contou o ator.
“Ela faz parte dessa geração encantadora, da delicadeza. Essa geração está indo embora, está levando esse fascínio com ela. Mas a Odete está eternizada em filmes incríveis, que seduziram o país. Ela é um poema épico”, finalizou o ator.
“Era meio Jane Fonda”
Diretor do último filme protagonizado por Odete lara, “O Princípio do Prazer” (1978), o cineasta Luiz Carlos Lacerda chegou ao velório no início da noite.
"Conheci a Odete na praia, deslumbrante. Era uma pessoa muito querida. Estava presente em todos os lugares, assembleias, passeatas. Era meio Jane Fonda, cheia de intensidade. Tinha um senso de humor muito apurado. Tive o privilégio de dirigir o último filme dela”, disse o diretor.
Luiz Carlos Lacerda
Ela fez teatro, um pouco de televisão, mas era um bicho cinematográfico. Era o que ela mais gostava de fazer. Eu, Fontoura e Daniel Filho estávamos agora, às gargalhadas, lembrando histórias
Lacerda conta que “O Princípio do Prazer” foi rodado em Paraty, quando Odete já estava em seu retiro espiritual. “Ela dizia que não queria mais essa vida mundana do cinema. Trabalhou com os maiores diretores, Glauber, Nelson Pereira dos Santos, mas queria paz. E encontrou nesse isolamento. Eu disse pra ela: ‘Não posso deixar de ter na minha filmografia um trabalho com você’. Ela disse: ‘Tudo bem, mas vai ser o último’.”.
O cineasta também lembrou a ocasião em que Odete comemorou 80 anos na casa da atriz Letícia Sabatella. “Ela estava alegre, claro, todo o mundo gosta de receber carinho dos amigos. Ela fez teatro, um pouco de televisão, mas era um bicho cinematográfico. Era o que ela mais gostava de fazer. Eu, Fontoura e Daniel Filho estávamos agora, às gargalhadas, lembrando histórias."
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