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Após 13 anos, "Terça Insana" chega ao fim como precursora do humor atual

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

27/10/2014 11h45

Após 13 anos, o famoso espetáculo de humor "Terça Insana" está prestes a chegar ao fim. Em 21 de dezembro, a peça dirigida por Grace Gianoukas se despedirá do público, deixando um legado de mais de 700 personagens e cerca de 600 encenações, que envolveram pelo menos 380 atores --entre eles: Luis Miranda, Marco Luque, Marcelo Mansfield e Mila Ribeiro--, além de diversos esquetes que influenciaram a comédia contemporânea.
 
De acordo com Grace Gianoukas, porém, a “Terça Insana” não vai sair de cena apenas mudará de formato e se ampliará. “A partir do ano que vem, a ‘Terça Insana Produções’ vai lançar mais projetos. Temos que nos renovar sempre. Tenho uns quatro espetáculos diferentes escritos que não cabem na ‘Terça’ de hoje”, explicou a atriz e diretora. Para ela, o espetáculo “abriu portas para o humor brasileiro”.

Criada em 2001 e encenada no bar Next, em São Paulo, a peça sempre reuniu diversos atores no papel de personagens estereotipados. Grace conta que, ao criar o espetáculo, pensou em fazer algo na contramão do que era exposto pela comédia daquela época.

”Não era possível que tivéssemos um país com a maior população gay do mundo e tivéssemos tanta piada de homossexual, com tanto preconceito. A comédia precisa acompanhar o pensamento contemporâneo. O humor estava muito adolescente. Sabe aquele "bullying" de escola? Tínhamos que trabalhar com coisas de outro nível”, disse a criadora do espetáculo, enfatizando que sempre deixou os atores criarem seus personagens.

“Terça abriu mercado para todo o mundo”

Dono dos personagens Madame Scheila, Dona Edith e Vovó Arlinda, o ator Luis Miranda, que hoje interpreta Dorothy na novela “Geração Brasil”, afirma que o “Terça Insana” ajudou atores a se tornarem conhecidos no Brasil graças a seu conteúdo marcado por humor crítico e de qualidade.
 
“A ‘Terça Insana’ foi o primeiro projeto em que vários comediantes se desenvolveram. Criou um mercado para todo o mundo, um mercado possível”, disse ele. E acrescentou: “Foi importantíssimo para mim, porque foi uma revolução na minha vida. Viram o meu lado de humor crítico, ácido, com qualidade e veemência”.  

Miranda lembra ainda que era quase tudo improviso. “Era um mergulho dos atores às cegas. Quando entrávamos em cena, parecia um estádio de futebol gritando para a gente. Era uma loucura. Quando começava a música da Sheila, as pessoas urravam. Era divino”, relembrou o ator, citando uma de suas personagens.  

“Entrei no ‘CQC’ por causa do ‘Terça Insana’”

O humorista Marco Luque, por sua vez, participou do elenco do “Terça Insana” de 2006 e 2008. Ele conta que, antes de se tornar um integrante, era fã declarado do espetáculo e treinava em botecos da zona leste de São Paulo para participar dos testes para a peça.

“Quando eu entrei, foi um marco na minha vida. Eu me encontrei. Descobri que era aquilo que queria fazer. Era um grupo muito bom e bombava muito”, contou ele, que entrou no espetáculo logo após a saída do humorista Marcelo Mansfield.

“Ficou um espaço para que as pessoas me vissem, e foram três anos incríveis. No primeiro semestre, fui entrevistado pelo Jô. Entrei no ‘CQC’ por causa do ‘Terça Insana’. Então, mexeu bem legal na minha vida. Me colocou em uma trilha gostosa”, disse Luque, que hoje tem 15 personagens –a maioria criada no “Terça Insana”. Silas Simplesmente e Mary Help estão entre eles.

“Terça Insana” na TV

Mesmo servindo de trampolim para vários atores conseguirem espaço na TV, o “Terça Insana” nunca teve uma adaptação para a telinha. Para Marco Luque, no entanto, caso houvesse uma versão para a televisão, ela não teria a mesma liberdade que existe no teatro. Segundo Grace Gianoukas, porém, houve inúmeros convites de emissoras de TV.

“Não havia espaço para a 'Terça Insana' ser na televisão o que ela era no teatro. Se eu fosse para a televisão, seria uma outra linguagem, outro tipo de roteiro. Chegamos a fazer três programas-piloto, e todos chegaram às TVs. Todos os diretores achavam que era muito estranho, muito moderno”, contou a diretora do espetáculo.

De acordo com ela, foi no teatro que a peça fez história e lhe deu estabilidade financeira. Mas Grace não descarta levar o espetáculo para a televisão no futuro. Ela diz estar conversando com diretores para chegar em um formato que valorize o “Terça Insana”.

“A peça me estabilizou no mercado, porque vida de ator é estar quase sempre desempregado. Deu uma estabilidade financeira para mim e para muitas pessoas que passaram por aqui. De repente, virou uma grande vitrine”, finalizou.

Veja as datas das últimas apresentações do "Terça Insana" pelo Brasil:

Rio de Janeiro – 1 e 2 de novembro no Teatro Bradesco
Recife – 22 e 23 de novembro no Teatro Santa Isabel
Natal -  28 novembro no Teatro Riachuelo
Porto Alegre – 12, 13 e 14 de dezembro
São Paulo - 19 a 21 de dezembro no Teatro Bradesco