Filme que implode templo da Universal é sensação na abertura da 31ª Bienal
Logo na abertura da 31ª Bienal de São Paulo, na manhã deste sábado (6), um jovem grupo chamava atenção de quem passasse pelo terceiro andar do pavilhão do Ibirapuera. Com câmeras de celular em punhos, eles registravam em vídeo cada detalhe da primeira exibição de “Inferno”, dirigido pela artista israelense Yael Bartana. Era o elenco do filme, que rapidamente ganhou a companhia de cerca de 40 pessoas em cada uma de suas sessões de 17 minutos. A instalação era a mais concorrida no início da exposição.
Com ares de drama época, o filme encena a demolição do novo templo evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus na zona leste de São Paulo – uma referência à destruição bíblica do templo de Salomão, no qual o edifício foi inspirado.
Com inspiração no judaísmo, a obra é mais um ingrediente na polêmica envolvendo Israel e a Bienal. Na semana passada, 55 artistas – incluindo Yael Bartana - divulgaram uma carta aberta à Fundação Bienal de São Paulo pedindo que a instituição recusasse o financiamento de instituições israelenses, em protesto às ações militares na Faixa de Gaza.
“Tem gente achando que estamos ali criticando o templo, mas o filme é apenas uma representação da história”, diz o ator Eduardo Scandaroli. “Gastamos cerca de cinco dias para filmar, com uma narrativa diferente, marcada pela música e sem diálogos. Nossa expectativa era muito grande.”
“Acho que a principal mensagem é mostrar até onde vai a religiosidade e até onde ela poderia ir”, afirma a atriz Alessandra Moreira, destaque na cena em que o templo é repentinamente tomado pelo fogo.
Filmado em um galpão de escola de samba, no parque Villa-Lobos e no centro de São Paulo, “Inferno” custou R$ 1 milhão, bancados pela galeria de Nova York Petzel. É o filme mais bem produzido da Bienal. Reproduz com fidelidade o O Muro das Lamentações de Jerusalém.
A reportagem do UOL conversou com seis espectadores após as exibições. A maioria conseguiu enxergar polêmica, e todos, sem exceção, renderam elogios ao trabalho, descrito com frequência como “ousado”.
“Não sou uma pessoa que tem fé. Mas achei a obra provocativa e bonita”, diz o engenheiro Manuel Camilo Neto. “Acho que é o que se espera de uma Bienal: surpreender, sair do lugar comum. Gostei bastante”, diz a procuradora Leslie Bocchino.
Para a professora universitária Cláudia Cesarino, a polêmica é apenas um dos ingredientes que despertam o interesse. “É uma história atual, pois faz referência à construção do tempo e ao confronto no Oriente Médio. Causa impacto”.
Bienal
Aberta ao público às 9h deste sábado, a 31ª Bienal de São Paulo começou com público discreto, que começou a aumentar apenas ao fim da manhã, como já esperado pela organização.
Segundo a curadoria, um dos objetivos da edição deste ano foi priorizar artistas que expressassem as tensões e conflitos do mundo contemporâneo. Temas como sexualidade, feminismo e religião dão a tônica na maior parte das obras.
Com várias instalações, inluindo uma sala esfumaçada com uma bateria e um xilofone que tocam sozinhos, e uma imensa “nave-favela” que convida o visitante à uma viagem ao som da batida do funk, a Bienal 2014 vai até 7 de dezembro no pavilhão do Parque do Ibirapuera.
Espalhados por três áreas, cada uma em um andar do edifício, estão 81 projetos e de 111 artistas de 34 países, totalizando cerca de 250 trabalhos.
31ª Bienal de São Paulo
Quando: de 6 de setembro a 7 de dezembro
Horários de visitação: terça, quinta, sexta, domingo e feriados: das 9h às 19h; quarta e sábado: das 9h às 22h; fechado às segundas
Onde: Pavilhão da Bienal (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, parque do Ibirapuera
Quanto: de graça
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