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Papo com Maurício de Sousa reúne gerações de leitores na Bienal

Rodrigo Casarin

Do UOL, em São Paulo

30/08/2014 20h13

O público extrapolou a Arena Cultural, espaço da Bienal Internacional do Livro de São Paulo que comporta cerca de 500 pessoas, para acompanhar o papo entre Maurício de Sousa, o pai da “Turma da Mônica”, e a jornalista Mona Dorf, no começo da noite deste sábado, 30. Na plateia era possível observar desde crianças pequenas até idosos, que presenciaram um evento marcado pela emoção e gratidão – diversos foram os depoimentos de fãs agradecendo ao desenhista pela importância que Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e companhia tiveram ao longo de suas vidas.

Em um dos momentos que causou maior surpresa ao público, Maurício revelou que o próximo passo de seus personagens será estrelarem a versão adulta da “Turma da Mônica”, com histórias mais sérias. “Para isso terei que me preparar bem”. Quando acontecer, será a continuação do grande sucesso que foi a aposta na “Turma da Mônica Jovem”, uma das HQs mais lidas do mundo hoje em dia. “Talvez, em alguns momentos, a 'Turma da Mônica Jovem' seja a revista em quadrinhos que mais venda no ocidente. Batemos 'Homem-Aranha', 'Batman' de 3x1”, contou.

29.ago.2014 - Público se aglomera para acompanhar evento com o cartunista Maurício de Sousa, pai da "Turma da Mônica", na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Anhembi - Rdorigo Casarin/UOL - Rdorigo Casarin/UOL
Público se aglomera para acompanhar evento com Maurício de Sousa
Imagem: Rdorigo Casarin/UOL

Outro ponto alto foi a participação de um garoto de sete anos que queria saber quando algum plano de Cebolinha daria certo. Maurício riu e disse não ter resposta, mas abriu a possibilidade de um dia isso acontecer. “Não sei como o Cebolinha faria um plano infalível [contra a Mônica]. Talvez quando eles se casarem...”.

Sobre os 50 anos da personagem Magali, comemorados em 2014, disse que “só vai dar piquenique, banquetes, sanduíches, mas também iremos aproveitar para sugerir alimentos mais saudáveis. Hoje ela seleciona o que come”. Para tal, conta que há uma equipe preparando um cardápio que focará em comidas de qualidade, não em grandes quantidades.

Falando de seus personagens, diz que eles têm “comportamento que eu gostaria de ver nos meus filhos”. E Marcelo, seu filho mais novo, de dez anos, estava ali, na plateia. Maurício contou que em breve ele também deverá estrear na “Turma”, que já está até desenhado e terá como principal traço de sua personalidade a preocupação em economizar tudo. “O Marcelo desde pequenininho já mandava eu fechar a torneira quanto escovava os dentes se não a água do mundo iria acabar”.

Participação intensa na Bienal

A mesa foi o ponto alto de Maurício na Bienal, participação que impressiona principalmente pela quantidade de compromissos. Contando com a agenda de amanhã, o desenhista terá comparecido ao Anhembi em seis dias diferentes e participado, ao todo, de 16 eventos – dentre bate-papos, sessões de autógrafos e coquetéis de lançamentos. Só neste sábado, antes de comparecer à Arena Cultural, já havia autografado livros nos estandes das editoras Abrelivros e Girassol e participado de uma conversa sobre graphic novels no Salão de Ideias com Sidney Gusman, Danilo Beyruth, Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho.

Maurício arrasta fãs por onde vai e essa admiração parece passa de geração para geração, como o variado público na Arena Cultural nesta noite comprovou. Em outra oportunidade, durante uma das mesas de autógrafos, enquanto sorria para cada pessoa que a ele chegava após enfrentar uma enorme fila, chamou atenção um garotinho de não mais que três anos, sentado sobre os ombros de seu pai, que, passando pelo lugar, avistou o ídolo. Como o pai havia sido obrigado a parar por conta da quantidade de pessoas que davam um nó no corredor, o pequeno ficou admirando Maurício. Com os olhos arregalados e brilhando, dizia sem parar, de maneira cadenciada, repetitiva e contemplativa “Olha pai, é ele! Pai, é ele! Olha pai, é ele! Pai...”. O encontro, ainda que visual, com o criador daqueles que devem ser alguns de seus personagens favoritos provavelmente ficará por muito tempo na memória do garoto.

Aliás, se levarmos em conta os personagens criados por Maurício, a presença do autor na Bienal toma proporções gigantescas. São 27 lançamentos de publicações da “Turma da Mônica” por meio de sete editoras, abarcando desde o livro “Magali 50 anos”, sobre a personagem comilona que chega ao seu cinquentenário, até representações das fábulas de Esopo, viagens a destinos católicos e as já tradicionais incursões em materiais educacionais. Além disso, um espaço temático recebe exposições de HQs, quadrões, praça interativa, camarim e lounge com exibição de animações. Por lá que, na tarde de quarta-feira, crianças de diversas idades acompanhavam entusiasmadas uma apresentação de fantoches. Há também a Livraria da Turma da Mônica, estande onde estão disponíveis para venda boa parte dos livros já publicados com os personagens.

Tudo isso pode ser encarado como um reflexo do tamanho que a Maurício de Sousa Produções, empresa que administra todas as criações de Maurício, tomou. Atualmente, possuem 88% do mercado nacional de revistas em quadrinhos infantis, com tiragem média mensal de 2,5 milhões de exemplares e venda total superior a um bilhão de revistas ao longo da história. No mercado de livros, são 300 títulos lançados por 23 editoras distintas, que, apenas em 2013, venderam aproximadamente 1,2 milhões de exemplares.

Sobre a Bienal

Com o tema de “Diversão, cultura e interatividade: tudo junto e misturado”, a 23ª Bienal do Livro de São Paulo, que acontece no Pavilhão de Eventos do Anhembi, é um dos mais importantes do mercado livreiro e literário em toda a América Latina. Amanhã, domingo, é o último dia para conferir parte das 1500 horas de programação e mais de 400 atrações do evento. Já passaram por lá nomes como Harlan Coben (“Confie em Mim”), Kiera Cass (“A Seleção”), Hugh Howey (“Silo”) e Cassandra Clare (“Os Instrumentos Mortais”), Sylvia Day (“Toda Sua”), Ken Follet (“Os Pilares da Terra”) e Sally Gardner (“Coriandra”),  mas ainda há tempo de ver Laurentino Gomes (“1808”), Thalita Rebouças (série “Fala Sério”) e Ricardo Lísias (“Divórcio”), dentre outros.

Os ingressos para a Bienal, que dão acesso ao Pavilhão do Anhembi, custam entre R$6,00 e R$14,00 – dentro do espaço, toda a programação cultural é gratuita, com sendo que os bilhetes para cada evento devem ser retirados com no mínimo 30 minutos de antecedência. O evento conta com  300 expositores, que representam 750 selos editoriais. Para chegarem ao Anhembi, os visitantes podem utilizar ônibus gratuitos que saem das estações de metrô do Tietê e da Barra Funda. Toda a programação oficial pode ser conferida no site www.bienaldolivrosp.com.br.