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"Rose Marie mostrou que o impossível não é um limite", diz Leonardo Boff

Rose Marie Muraro morreu aos 83 anos - Eduardo Knapp/Folhapress
Rose Marie Muraro morreu aos 83 anos Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

22/06/2014 09h53

Colega de Rose Marie Muraro por 17 anos na Editora Vozes, o teólogo Leonardo Boff homenageou a escritora com um texto em seu blog neste domingo (22) ressaltando sua trajetória pessoal e sua importância nos estudos feministas no país. Rose Marie morreu no sábado, aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Em tratamento de um câncer na medula óssea, ela estava internada no Hospital São Lucas, em Copacabana.

"Rose Marie Muraro mostrou em sua saga pessoal que o impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se tornou imorredoura", escreveu Boff, que ressaltou no início do texto o fato de que a escritora nasceu com uma deficiência visual que a tornou praticamente cega – só aos 66 anos, ela se submeteu a uma cirurgia e recuperou a visão. 

Pioneira no movimento feminista no Brasil, Rose Marie Muraro lutou por mais de 60 anos pelo direito das mulheres e escreveu mais de 40 livros, como "Sexualidade da Mulher Brasileira" (1996), "Seis Meses Em Que Fui Homem" (1993), "A Mulher No Terceiro Milênio" (1993). Ela também foi diretora da Editora Vozes, onde editou de mais de 1,6 mil títulos. 

Amiga e companheira de trabalho de Leonardo Boff, Rose lutou ao lado do teólogo pela teologia da libertação. A escritora também foi formada em física e economia. Em 2009,  inaugurou o Instituto Cultural Rose Marie Muraro – local onde trabalhava até a piora do estado de saúde.

Boff destacou a atuação de Rose Marie nas discussões sobre gênero e afirmou que a escritora "não se limitou à questão das relações desiguais de poder entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura, nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e no sistema econômico". "Enfim deu-se conta de que no patriarcado de séculos reside a raiz principal deste sistema que desumaniza mulheres e também homens", escreveu.

O teólogo lembrou ainda seu trabalho na Vozes: "Mesmo sob severo controle dos órgãos de repressão militar, Rose tinha a coragem de publicar os então autores malditos como Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Freire, os cadernos do CEBRAP e outros".

E afirmou que a amiga morreu preocupada com "as buscas de alternativas salvadoras". "Rose possuía um sentimento do mundo agudíssimo: sofria com os dramas globais e celebrava os poucos avanços. Nos últimos tempos Rose via nuvens sombrias sobre todo o planeta, pondo em risco o nosso futuro. Morreu preocupada com as buscas de alternativas salvadoras. Mulher de profunda fé e espiritualidade, sonhava com as capacidades humanas de transformar a tragédia anunciada numa crise purificadora rumo a uma sociedade que se reconcilie com a natureza e a Mãe Terra".

Repercussão
No Twitter, a presidente Dilma Rousseff lamentou a morte e enalteceu a sua luta pelos direitos das mulheres. "Foi com tristeza que soube da morte de Rose Marie Muraro, ícone da luta pelos direitos das mulheres. Intelectual notável, Rose Mariue foi uma mulher determinada em tudo, na luta contra a barreira da cegueira, na luta pelas suas ideias. Somos todas gratas à dedicação incansável de Rose Marie", escreveu.

Também via rede social, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o senador Eduardo Suplicy falaram com tristeza sobre a morte da escritora. "Com tristeza transmito que a grande mulher brasileira, Rose Marie Muraro, que tanto batalhou pela emancipação feminina, faleceu essa manhã. Viva Rose Muraro!", declarou Suplicy.