Vanessa da Mata lança romance de estreia e comenta polêmica das biografias
A cantora Vanessa da Mata divide seus horários entre os três filhos de 9, 10 e 12 anos de idade e suas produções artísticas. Em julho, colocou no mercado “Vanessa da Mata canta Tom Jobim”, no qual interpreta canções do grande compositor, e agora se arrisca em outra linguagem: a literatura.
Lançando seu primeiro livro, “A Filha das Flores”, pela Companhia das Letras, ela fala, em entrevista ao UOL, como foi a experiência. “O formato do livro é muito aberto”, diz. “Foi libertador e ao mesmo tempo angustiante porque a história está na sua mão. E fazer com que ela continue interessante ao longo na narrativa é desafiador. Apesar de também estar na escrita, é um mundo muito diferente da música, são outras estruturas.”
Com leveza, o romance traz a história de Giza, protagonista pré-adolescente que narra suas experiências em uma região rural no interior do país, abordando todas as suas descobertas sobre amor, sobre sexo e sobre a vida. Vanessa começou a escrever o livro há dois anos, sem pretensão inicial de lançá-lo. Havia trabalhado em outras duas obras tempos antes, mas por não considerá-las boas o suficiente, jogou os papéis no lixo.
Desta vez, a história foi diferente. Além de ter um apreço maior pelo texto escrito em termos de qualidade, revela que, durante esses dois anos, sempre que tinha um mínimo tempo livre, colocava a imaginação para funcionar. “Qualquer lugar em que eu estivesse a Giza estava [risos]”, brinca. “Escrevia no trajeto entre um lugar em outro, à noite após meus filhos irem dormir. Em momentos de insônia, eu levantava e ficava escrevendo. Já cheguei até a ter sonhos com os personagens. Foi um livro muito presente na minha vida.”
Há na história, inclusive, diversas conexões da personagem com o universo da infância de Vanessa da Mata em Alto Garças, uma pequena cidade do Mato Grosso onde ela nasceu em 1976. Aos 14 anos se mudou para Uberlândia, em Minas Gerais, mas até aquela idade vivenciou a calmaria e a beleza natural interiorana. “Catava muita formiga na roseira da minha avó. Foi muito bom de ter crescido numa cidade como essa porque me deu a oportunidade de vivenciar cada coisa típica daquela região e de saber o que essas pessoas com quem convivi fariam em uma história como a da Giza. Então, no final das contas, foi uma junção da minha capacidade de imaginação e essas inspirações.”
A relação de Vanessa com o mundo das letras começou cedo. A cantora teve uma infância bastante difícil, que incluiu toxoplasmose e febre reumática em seu “catálogo de doenças”. E a dolorida injeção de Benzetacil e séries de exames faziam parte da rotina. Por algumas complicações, quase perdeu um rim. Era hiperativa, gostava de brincar nas ruas e no meio do mato. Mas sempre após algum esforço físico grande, sofria com as fortes dores no corpo e precisava descansar na cama por dias. “Talvez por causa de certos aprisionamentos devido às doenças eu tenha desenvolvido uma imaginação muito fértil. Comecei a ler muito nessa época, sendo que a minha família não tinha esse hábito. Lia Machado de Assis, Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa... Minha imaginação começou a se desenvolver e passei a escrever contos e poemas.” Para as composições musicais foi um pulo.
Biografias
Quando o assunto ainda é leitura, impossível que a conversa não caia na questão das biografias, que tem gerado discussões há semanas. No embate entre biógrafos e o grupo Procure Saber (entenda aqui), Vanessa da Mata se junta a artistas como Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, entre outros, no que argumenta ser a defesa da privacidade e a não publicação de biografias sem a anuência prévia dos biografados em questão.
“Eu acho um absurdo a invasão da vida privada, falando o que quiser da forma que lhe interessa, e ainda ganhando um dinheiro com isso”, comenta. “É como pegar uma pessoa comum, levá-la ao interior do Brasil como se essa cidade pequena representasse um país inteiro, sentá-la diante de holofotes e todo mundo falasse o que quisesse porque ‘tem direito’, entende? Eu tenho o direito de ter o controle sobre a minha história, porque é a minha história. Acho completamente legal que precise de uma autorização e que eu dê uma lida na minha própria vida para que ela seja vendida. E que eu receba uma grana por isso também. Há biografias tão mal feitas e mal escritas que parecem revistas de fofoca.”
Vanessa reconhece que há grandes profissionais que levam o ofício a sério e que pesquisam durante anos para a elaboração de um bom trabalho, mas destaca que se trata de um assunto delicado. Quando questionada se não seria mais justo o artista entrar na justiça contra o autor de algum livro que contenha inverdades, argumentou que tal medida não resolveria o estrago feito por uma publicação equivocada. “Ninguém fica sabendo depois”, afirma. “O que ficam sabendo é da fofoca publicada e tomam isso como verdade. Ninguém sabe da errata do jornal no dia seguinte. Todo mundo sabe daquilo que inventaram.”
Há biografias tão mal feitas e mal escritas que parecem revistas de fofoca
Vanessa da MataÁlbum de inéditas a caminho
A cantora revelou que deve lançar seu próximo trabalho musical em maio do ano que vem. O material está pronto desde novembro de 2012, mas acabou adiado por causa dos projetos que envolveram os shows em homenagem a Tom Jobim que aconteceram no primeiro semestre desse ano. Vanessa revela que deve mexer em algumas das canções antes de divulgar o trabalho para os fãs. “O considero meu melhor álbum, é bastante diferente do que já fiz”, antecipa.
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