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"Adoraria ver algo do Brasil em 'Assassin's Creed'", diz autor do game

Corey May, um dos principais escritores da série de videogame "Assassin"s Creed", se surpreendeu com a reação dos livros do jogo no Brasil, com mais de 1 milhão de ediçÔes vendidas - Divulgação
Corey May, um dos principais escritores da série de videogame "Assassin's Creed", se surpreendeu com a reação dos livros do jogo no Brasil, com mais de 1 milhão de ediçÔes vendidas Imagem: Divulgação

Guilherme Solari

Do UOL, em SĂŁo Paulo

05/09/2013 13h39

Um dos destaque internacionais que participou da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, o norte-americano Corey May tem uma aparĂȘncia que se esperaria do dono de uma startup de tecnologia do Vale do SilĂ­cio, com roupas funcionais e cabelo desregrado. Ele nĂŁo escreveu um Ășnico livro, mas a histĂłria que ajuda a criar desde 2007 se tornou um fenĂŽmeno editorial no Brasil com mais de um milhĂŁo de ediçÔes vendidas.

O paradoxo se explica porque May Ă© um dos principais roteiristas da sĂ©rie de videogames "Assassin's Creed", uma das mais populares do mundo. Adaptadas pelo escritor Oliver Bownden e trazidas ao Brasil pela Galera Record, as quatro obras jĂĄ lançadas se tornaram best sellers no Brasil, dominando as listas de mais vendidos dos Ășltimos anos com mais de 450 mil exemplares.

Desenvolvido pelo Ubisoft, o game de "Assassins Creed" mistura conspiraçÔes, misticismo e ficção cientĂ­fica ao contar a histĂłria atravĂ©s dos sĂ©culos da guerra entre as facçÔes dos Assassinos e TemplĂĄrios. Os grupos se enfrentam em busca de informaçÔes de uma civilização anterior Ă  humana e pelo controle de poderosos artefatos. Uma versĂŁo para o cinema estĂĄ em estĂĄgios iniciais de produção, com Michael Fassbender no papel principal.

O roteirista, que passou da produção de cinema para a mĂ­dia interativa dos games, disse ao UOL em SĂŁo Paulo que ficou surpreso com a recepção do pĂșblico brasileiro na Bienal. "Eu me surpreendi ao encontrar um pai e uma mĂŁe que nĂŁo conseguiram entrar no [universo do] game junto do filho por ser muito difĂ­cil, mas ficaram sabendo dos livros e começaram a ler e se tornaram fĂŁs da franquia", falou. Corey May conversou tambĂ©m sobre a convergĂȘncia entre literatura e games e como os livros estĂŁo levando a histĂłria para um pĂșblico que fica mais Ă  vontade com a literatura do que com um controle em mĂŁos.

UOL - O que o levou a trabalhar com videogames?
Corey May - Eu amo jogos e sempre quis trabalhar com jogos. Eu sou formado em economia e estudei produção de filmes, nĂŁo tinha formação no ramo. Acho que tive muita sorte. Quando estava na faculdade eu procurei todas as distribuidoras de jogos que havia, mas nĂŁo para alguma função especĂ­fica. Era algo do tipo: 'Posso ir aĂ­? Faço qualquer trabalho', sĂł que nunca alguĂ©m me respondeu. Eu me formei, fundei uma empresa de produção cinematogrĂĄfica e comecei a vender filmes em Hollywood. E, nessa Ă©poca, assinei com uma agĂȘncia de talentos. Isso foi no inĂ­cio dos anos 2000. Havia uma demanda de desenvolvedores de jogos para trabalhar com pessoas de Hollywood e assim conheci algumas pessoas da Ubisoft, o que me levou para um trabalho lĂĄ. NĂŁo foi nada muito formal, apenas uma sĂ©rie de reuniĂ”es e tudo acabou funcionando. Acho que foi bem pouco ortodoxo. Eu nunca me vi como alguĂ©m que escreveria em tempo integral, nunca imaginei que seria o meu emprego, mas foi uma oportunidade para trabalhar com videogames. E levou alguns anos e algumas tentativas para entrar no fluxo da coisa, mas deu certo.

Quais sĂŁo os desafios especĂ­ficos de trabalhar em uma mĂ­dia interativa como os videogames?
Precisamente a interatividade. É desafiador, mas traz uma sĂ©rie de oportunidades. Algo que falamos muito ultimamente Ă© que os games contam duas histĂłrias. HĂĄ a histĂłria do personagem e a histĂłria do jogador, a experiĂȘncia que vocĂȘ tem como jogador quando interage com o jogo. E acho que Ă© o papel do roteirista se certificar que essas duas histĂłrias sejam o mais prĂłximas possĂ­vel. Se elas se afastam Ă© criada uma ficção e isso pode desconectar o jogador do mundo. O trabalho de todos na equipe, e principalmente os focados na narrativa, Ă© alinhar essas duas histĂłrias. E o fato de ter que contar duas histĂłrias ao invĂ©s de uma Ă© o maior desafio. Livros, TV, filmes, tudo Ă© muito unidirecional no conteĂșdo que levam ao indivĂ­duo e relativamente passivo. A interatividade pode ser muito difĂ­cil.

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    Capa do Ășltimo dos quatro livros da sĂ©rie lançados no Brasil, "Assassin's Creed: Renegado": sucesso editorial surpresa

Como foi a interação com os fãs brasileiros na Bienal?
Foi emocionante e inspirador. Foi incrĂ­vel conhecer os fĂŁs. Quando vocĂȘ fica trancado no escritĂłrio o tempo todo começa a perder a perspectiva, e encontrar com as pessoas e ouvir o quanto elas gostam do trabalho que temos feito Ă© fantĂĄstico. Foi algo que me revigorou e me motivou a continuar trabalhando, saber que tĂȘm pessoas tĂŁo interessadas no que fazemos. EstĂĄ sendo uma experiĂȘncia maravilhosa e o paĂ­s Ă© incrĂ­vel tambĂ©m. Eu adoraria ver algo do Brasil ambientado em 'Assassin's Creed". HĂĄ uma histĂłria tĂŁo rica e acho que os ambientes cabem tĂŁo naturalmente com o nosso sistema de movimentação do personagem. É algo que vou certamente discutir quando voltar para Montreal. Talvez acabe em um livro ou um quadrinho, ou talvez nĂŁo dĂȘ em nada e eles me mandem ficar quieto e voltar ao trabalho [risos] HĂĄ algo muito inspirador aqui, tambĂ©m com os fĂŁs, que me deixa energizado.

Os livros seguem de maneira bem fiel a histĂłria dos games. VocĂȘ considera uma narrativa inĂ©dita para os livros?
Eu gostaria de ver muitas coisas com os livros, mas eu nĂŁo sou o chefe. Uma coisa especĂ­fica, e acho que o sucesso das adaptaçÔes aqui dĂĄ espaço a isso, Ă© escrevermos os livros como temos feito com quadrinhos da sĂ©rie, que sĂŁo ambientados no mesmo universo, mas nĂŁo seguem a histĂłria de cada jogo. O mesmo perĂ­odo, mas com outra perspectiva. NĂłs começamos a nos distanciar do formato de transformar o script do jogo em um livro. Eu adorei trabalhar com os quadrinhos [lançado no Brasil como "Assassin's Creed: A Queda"] e claramente hĂĄ um pĂșblico para isso. E isso nos dĂĄ a oportunidade de explorar outras coisas alĂ©m do que hĂĄ nos jogos.

VocĂȘ acha que isso poderia trazer um pĂșblico diferente para a sĂ©rie?
Era uma pergunta que eu me fazia muito, mas eu nĂŁo fazia ideia. NĂłs estĂĄvamos ontem autografando livros e um pai e uma mĂŁe vieram falar comigo que viam o filho jogar, mas nĂŁo conseguiram entrar no [universo do] game por ser muito difĂ­cil. Mas ficaram sabendo dos livros e começaram a ler e se tornaram fĂŁs da franquia. O filho joga e lĂȘ os livros, e os pais leem, e eles trocam as experiĂȘncias da sĂ©rie. Eu fiquei impressionado com os pais dizendo que era algo que unia a famĂ­lia. Eu sei que nossos jogos sĂŁo caros e necessitam de muito tempo, entre 40 a 50 horas se vocĂȘ fizer tudo, por isso os livros sĂŁo uma oportunidade para quem se interessa pelo universo ou os personagens. Eu espero que esteja ampliando nosso pĂșblico. Sei que vendemos muitos livros no Brasil, entĂŁo imagino que estejamos chegando atĂ© pessoas que nĂŁo jogam. Os livros tambĂ©m sĂŁo uma oportunidade de fazermos coisas diferentes, como monĂłlogos internos, que ficam entediantes nos games. Cada mĂ­dia permite uma nova estrutura, foco e narrativa.

VocĂȘ considera escrever tambĂ©m romances?
Muita gente que eu encontrei no passado escreviam para jogos sem esse ser o objetivo principal. Não hå problema nenhum em as pessoas terem outras saídas criativas. Eu só não gosto muito quando escrevem para games tentando ficar famosos para fazer outra coisa, como se tornar um roteirista de cinema. Eu segui o caminho contrårio, tudo o que eu sempre quis fazer foi escrever para jogos e comecei trabalhando com filmes. Eu jå faço o que gosto. Por outro lado, eu penso nas oportunidades narrativas de quadrinhos e livros, e isso se torna mais interessante. Eu não penso que, por escrever jogos, teria facilidade com outra coisa. Trabalhei com quadrinhos ano passado e pensei: 'Isso vai ser fåcil, são só 20 påginas'. Mas tentar transmitir ação por quadros móveis chegou a machucar meu cérebro [risos], é algo completamente diferente. Quem sabe no futuro, mas por enquanto não é algo que considero muito seriamente para o meu tempo livre. O meu tempo livro eu passo jogando.

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Lipe.A

JĂĄ perceberam que todo gringo que vem pro Brasil diz que "adoraria" fazer alguma coisa sobre o paĂ­s mas nunca fazem? MĂȘs que vem ele vai pra um evento na AustrĂĄlia e adivinha o que ele vai dizer? TambĂ©m adoraria que mais jogos se passassem na histĂłria brasileira mas isso vai demorar MUITO para acontecer.

Marcos Bertone

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