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Ameaçado de morte, cartunista diz que humor serve para iniciar debates

Do UOL, em São Paulo

08/08/2013 12h49Atualizada em 08/08/2013 12h49

Após postar no Facebook um comentário sobre o assassinato de uma família de casal de PMs em Brasilândia, na cidade de São Paulo, que segue sob investigação, o cartunista Carlos Latuff alega ter recebido ameaças de morte, mas acredita que o caso serve para incitar o debate.

"Garoto mata seu pai, que era policial da ROTA...esse menino precisa de duas coisas: atendimento psicológico e uma medalha", postou o cartunista na terça-feira (6). No mesmo dia, Latuff reproduziu em sua página ameaças que teria recebido pela rede social. Em uma dessas reproduções, lia-se "Vou meter a .40 na tua cara".

  • Reprodução/Facebook

    06.ago.2013 - Post do cartunista Carlos Latuff sobre o assassinato da família de um casal de PMs em São Paulo

Perguntado pelo UOL por e-mail sobre a necessidade de limites no humor, Latuff admitiu que "precisa ter bom senso, creio eu". "Mas às vezes, mesmo uma piada mal colocada suscita debates importantes. Nesse caso, sobre a violência policial e mesmo a liberdade de expressão. Violência policial no Brasil é tabu. Só se pode falar das polícias se for para glorificá-las como bastiões da defesa dos nobres cidadãos de bem, leia-se a classe média branca", completou.

O cartunista afirmou que não se arrepende de ter feito o comentário e, sobre a possibilidade de as ameaças se concretizarem, "Só o tempo dirá".

"Se algo me acontecer, a responsabilidade é dos administradores das referidas páginas. Esse tipo de atitude demonstra bem o perfil dos participantes destas comunidades. A maioria jovens, uns policiais da ativa, outros ex-policiais, militares ou ex-militares, nacionalistas, anti-comunistas, anti-petistas, praticantes de artes marciais, entusiastas do militarismo e/ou do golpe de 64. Na grande maioria se verifica o mesmo discurso do 'bandido bom é bandido morto', 'direitos humanos pra bandido', etc. São páginas de clara inclinação fascista e apologia ao assassinato e tortura, e deveriam ser listados como sites de ódio, nos moldes dos neonazistas."

Em um outro post feito na quarta-feira, Latuff afirmou também que ameaças fazem parte de seu trabalho e que é "bem possível" que ocorram ações violentas contra ele. "Me sinto orgulhoso de receber ameaças assim. Me sinto no mesmo patamar dos corajosos militantes do Mães de Maio e da Rede de Comunidades que cotidianamente se arriscam para defender as vítimas do terrorismo de estado no Brasil. Se eu tiver que cair pelo que acredito, cairei. [...] Espero que todo esse esforço não tenha sido em vão, ou termine com minha morte."

Chargista e ativista político engajado em questões sociais que vão da causa palestina à estrutura agrária brasileira, Latuff conversou com o UOL durante as manifestações de junho de 2013 contra o aumento da tarifa de ônibus no Brasil e disse considerar a onda de protestos um resultado da insatisfação dos jovens com a política tradicional.