Desilusão com política tradicional leva jovens às ruas, diz chargista que retrata protestos
Chargista e ativista político engajado em questões sociais que vão da causa palestina à estrutura agrária brasileira, o carioca Carlos Latuff considera a onda de recentes protestos contra o aumento da tarifa de ônibus no Brasil resultado da insatisfação dos jovens com a política tradicional. “Esses movimentos indicam que uma parcela de jovens da sociedade, que está desiludida com a política nos moldes que está sendo apresentada, resolveu escrever a própria história”, afirma.
Com charges que retratam de maneira direta a repressão policial e a má qualidade do transporte público nas grandes cidades brasileiras, Latuff afirma que busca fazer com que seu trabalho mostre os lados dos manifestantes. “Meu papel nesse momento é mostrar a versão do manifestante, já que a gente tem percebido que quem mais tem falado, quem mais tem ventilado suas posições, são governos, políticos, comando da policia”, diz.
O chargista, que retratou nos últimos anos as revoltas da Primavera Árabe e os conflitos na Líbia e na Síria, e agora divide a atenção entre os protestos no Brasil e na Turquia, acredita que a repressão aos movimentos sociais está aumentando no Brasil. “Não temos regime ditatorial nos moldes de Mubarak ou estado policial autoritário da Turquia. Não é ditadura, mas está longe de ser democracia”, afirma.
Não temos regime ditatorial nos moldes de Mubarak ou estado policial autoritário da Turquia. Não é ditadura, mas está longe de ser democracia. Eu espero que manifestações possam fazer com que essa parcela possa criar uma alternativa, possa entender que eles têm poder.
Para ele, projetos de lei de tipificação do terrorismo que busquem incluir movimentos sociais como o MPL (Movimento Passe Livre) são um perigo nesse sentido. “Não é novidade, isso já ocorreu no Chile, onde anarquistas foram enquadrados e presos”, diz.
Latuff também critica a atuação da Polícia Militar, que, segundo ele, tem “treinamento de guerra”. “O intuito é o confronto, é combater o inimigo, é preparado pra guerra, não é preparado para serviço de polícia, então esse inimigo é o pobre, é o negro, é o manifestante, então essa violência não é nova também”, afirma. “Já é aplicada na periferia há muito tempo com menos visibilidade, mas não é bala de borracha, é chumbo mesmo”, completa.
O chargista entende que os recentes protestos não são um “fim”, mas um “meio” para que os jovens possam construir um “outro parâmetro de sociedade”. “Para a juventude que não estava acostumada a ir pra rua é um marco importante. Eu espero que manifestações possam fazer com que essa parcela possa criar uma alternativa, possa entender que eles têm poder”, diz.
O risco dos protestos serem “sequestrados” por causas pouco relacionadas com o motivo inicial – baixar a tarifa dos transportes -, como pedir o impeachment de Dilma ou prisão de mensaleiros, também é considerado por Latuff. “O PT tem sido alvo preferencial de protestos contra a corrupção, de [gente dizendo] que nunca se viu tanta corrupção. É um discurso infame. História do Brasil é história da corrupção. O PT não inaugurou, optou fazer parte desse esquema”, completa.
Latuff é colaborador do site Opera Mundi e da revista Samuel. Ele mantém um blog onde publica suas charges.
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